Cabine de Leitura 15/01/2019
A cerca de quatro anos atrás eu tive meu primeiro contato com a escrita da Dellaira e foi com o livro "Cartas de Amor aos Mortos", que na época se tornou meu queridinho. Anos depois eu volto a me emocionar com a autora e dessa vez é com o livro "Aos Dezessete Anos".
Nesta história vamos conhecer Angie, uma menina negra de dezessete anos que vive com sua dedicada mãe, Marilyn, que faz de tudo para suprir a falta do pai na vida da filha. Pai esse que morreu em um acidente de carro antes do nascimento da menina, juntamente com seu irmão, Justin. Pelo menos é o que a mãe diz sempre entre rios de lágrimas, pondo um ponto final em qualquer conversa que a filha queira ter sobre seu pai, James. E isso é o fantasma que acompanha Angie para onde quer que ela vá.
Os vivos estão alcançando os mortos. Quando Arthur C. Clarke, escreveu a respeito, em 1968, eles nos superavam numa proporção de trinta por um. Mas nos multiplicamos tão rápido que agora só há quinze fantasmas para cada um de nós.
Angie namora Sam, ou pelo menos namorava até descobrir que seu tio pode estar vivo ponto em dúvida também a morte do pai. Desesperada por respostas, Angie vai, com a ajuda do ex, em busca de respostas para preencher as lacunas de sua vida e é nessa caçada que vamos conhecendo o passado de sua mãe, que é onde está toda emoção da trama.
Marilyn tinha apenas dezessete anos quando se mudou junto a mãe, Sylvie, para o apartamento mofado do tio alcoólatra em Los Angelas, isso tudo para que pudessem ficar mais próximas de Hollywood e do sonho de Sylvie em transformar a filha em uma atriz de sucesso, mesmo que isso não chegue nem perto dos sonhos de Mari, que como toda garota americana, quer ir para faculdade e não acredita nas ambições da mãe.
Esse é seu problema. Você é tão Pessimista. Ás vezes é preciso acreditar em alguma coisa, agir como se fosse verdade, para que de fato seja.
Sylvie é aquele tipo de mãe que acredita saber o que é melhor para sua filha, sem nunca ter perguntado ou ouvido ela. Ela chega a ser imatura e medíocre, de dar ódio em diversos momentos, principalmente nos que dizem respeito a seu instável irmão, Woody.
No apartamento de baixo temos James, Justin, Rosa e Adan, que pouco aparece no enredo, e eles são o mais perto de uma família que Marilyn vai chegar a conhecer, mesmo que seja uma família afro-americana.
O amor que nasce entre James e Marilyn é puro, inocente e real. Um relacionamento com todos os sonhos e barreiras do primeiro amor que conhecemos bem, com um agravante... o rapaz é negro! Neste ponto, Ava soube conduzir a trama para de uma maneira sutil fazer uma forte critica ao racismo americano, um problema que assola o país desde a época colonial e vem disfarçado nas mais diferentes formas, mas todas revoltantes. E foi assim que a autora os retratou.
Você não pode cometer erros, James. Algumas pessoas herdam um futuro, mas você vai ter que fazer o seu.
Confesso que demorei a me sensibilizar com a busca de Angie, teve momentos em que ela foi egoísta e até mimada, usando as pessoas e ferindo os sentimentos alheios, a começar pela sua mãe. Mas a autora não deixou isso passar batido e me surpreendeu mostrando o reconhecimento de erros e o pedido de desculpas de Angie, não esperava isso.
O enredo vem repleto referências musicais e é quase impossível você não parar um pouquinho para dar um play no Youtube e conferir qual canção que faz fundo as cenas. Me identifiquei muito com os gostos musicais do James, que trouxe artistas que eu nunca tinha ouvido, mas que valem a pena. A autora fez três playlist super bacana no Spotify.
A narrativa em terceira pessoa é contada em duas perspectivas, duas histórias paralelas e dois períodos de tempo diferente. Marilyn está em Los Angeles no final dos anos 90, se apaixonando e sonhando com um futuro ao lado de James e Angies, nos dias de hoje, a caminho de Los Angelas. a cidade dos anjos, em busca da verdade para descobrir quem ela realmente é.
Podemos dividir como dois contos distintos, duas ambientação, com duas personagens diferentes, mas ao mesmo tempo idênticas, uma história genuinamente emocionante, para fazer sorrir e chorar, para fazer o leitor pensar, refletir e sentir.
Eu simplesmente amei esse livro, amei a simplicidade da trama, amei os personagens e amei a mensagem que a autora passou. Uma história multigeracional, onde mulheres fortes buscam se encontrar em um mundo onde mais de 7,5 bilhões de pessoas que de alguma forma à alguém, mesmo sendo fruto do acaso, tem sua importância. Mas se depois de toda essa declaração de amor você ainda quer saber se recomendo, eu digo: "RECOMENDO" e se prepare para se apaixonar por essa história.
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