Dhiego Morais 13/07/2020Motivos para lerDepois de Black Hole, a editora mais caveirosa do país convida os seus leitores a conhecer mais uma faceta de Charles Burns, desta vez em um quadrinho curto, mas dotado de todos os traços característicos do artista que mescla temas contemporâneos importantíssimos com os seus traços icônicos, capazes de promover a reflexão pelo desconforto da mente humana.
1. UM ENSAIO SOBRE A ASSUSTADORA CERTEZA DE CRESCER
Talvez para uma boa parte das pessoas, se nos lembrarmos de nossos momentos quando crianças, sobre nossas certezas e anseios, provavelmente alguns citarão o desejo de crescer rapidamente, de se fazerem adultos depressa, a fim de se ter acesso a todo o universo dos adultos que é privado às crianças. De certo modo, hoje, já adultos, percebemos a ingenuidade desse anseio, pois com grandes poderes vêm grandes responsabilidades (obrigado, tio Ben, pelo aviso!). Entretanto, nosso menino, Tony Delmonto é o eterno Big Baby, uma criança que não se vê ansiosa em crescer. Ainda que aparente ser já “grandinho”, são os traços infantilizados de suas feições, de seus trejeitos e sua ingenuidade nata que conferem a ele o desejo em permanecer distante de qualquer mudança.
Big Baby é a representação da juventude, um reflexo da infância do próprio Charles Burns, fato que pode ser observado pela incidência de diversas características dessa fase em suas ilustrações, que brincam com a ideia de memória, de fragmentação da inocência e com a ficção de horror.
2. A FICÇÃO DE ENCONTRO COM A REALIDADE DA SOCIEDADE
Big Baby é uma história dividida em cinco arcos: Big Baby (uma história bem curtinha que serve como introdução), Maldição dos Toupeiras (o arco mais longo e que conta com tons de horror e ficção científica), Peste Juvenil (uma história à moda dos filmes de terror e horror de baixo orçamento de décadas atrás, tendo a adolescência em foco), Clube de Sangue (lançado em 1991, tem os tons das séries de terror juvenis da mesma década) e Epílogo (que se trata mais de uma carta do autor com boas informações sobre a obra e algumas artes).
Por não ser uma HQ de história única, mas serial, com arcos fechados, Burns retrata por artifício da ficção científica e de horror características dos anos 80 e 90, uma série de temas contemporâneos, como a violência doméstica, a traição e o assassinato em Maldição dos Toupeiras; e os tabus do sexo em Peste Juvenil.
3. OS TRAÇOS EM PRETO E BRANCO DE BURNS
Como se não bastasse as histórias que mesclam o horror e a realidade nem sempre agradável da vida humana, Big Baby conta com os traços já conhecidos de Charles Burns, que são capazes de promover o desconforto tão bem quanto a ficção de suas tramas. Há algo de assustador em suas ilustrações, em suas personagens que quando observadas com atenção parecem saber muito mais sobre nós mesmos, algo de que não temos acesso. Olhos pequenos que nos sondam profundamente...
Uma HQ curtinha, mas de fato essencial para os fãs de Burns.
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https://skullgeek.com.br/resenhas/artigo-big-baby-de-charles-burns-em-3-bons-motivos-para-se-ler/