Ane Elyse Fernandes 16/01/2020
Digam o que quiser: foi e é o melhor presidente que já tivemos.
"(...) Lula serviu, isso sim, para porteiro capaz de abrir as portas de uma casa que poderia (e talvez ainda possa) algum dia deixar de ser de poucos para ser de todos. Este o seu grande pecado: monstrar que outro mundo é e deve ser possível".
Em um contexto político tão dividido em que vivemos, acirrado desde a ascensão do golpichemnt da ex-presidenta Dilma Rousseff, ler tal livro é simplesmente uma tarefa árdua, difícil, mas incrivelmente necessária, pois nos mostra, a partir dos relatos e palavras do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, suas interpretações, opiniões e divergências com os fatos que se desenrolaram desde o fatídico ano de 2015.
Há quem possa pensar que sou uma PTista, mas a verdade é que não sou. Contudo, como fazem os autores desse livro (e os cidadãos conscientes deste país), consigo reconhecer os vastos avanços obtidos durante os seus dois mandatos (2003 a 2010). Obviamente, até mesmo pela visão política que cunhou ao longo de sua trajetória, Lula cometeu vários equívocos a partir da sua defesa da conciliação. Infelizmente, como ele mesmo diz, não propõe nada revolucionário, pois reconhece que, dentro dos jogos políticos e de poder, quis fazer aquilo que era possível. Buscou o diálogo entre os conflitos de classe, enxergou os cidadãos miseráveis como aqueles que ansiavam o ter (através do incentivo ao consumo) e de fato, por mais que não enxergue assim, acabou cooptando parte das lideranças dos movimentos sociais (o que afetou diretamente na capacidade de mobilização política e de base dos mesmos nos momentos tensos).
O presente livro é extremamente importante no período em que vivemos, pois demonstra o quão emblemático foi o transcurso da acusação, condenação e prisão (injusta e equivocada) do ex-presidente em 2018. Não resta dúvidas sobre o alinhamento entre os altos escalões da direita e extrema-direita brasileira, junto às mídias tradicionais e a Justiça, para que determinasse - sem qualquer lisura no processo em questão - a transformação da emblemática figura de Lula em sinônimo de ladrão, corrupto e bandido.
A Vaza Jato, desde então, vem corroborando ainda mais com as evidências já apontadas nesse livro, sobre a postura política do ex-juiz Sérgio Moro, bem como, como as alianças para desacreditar e enfraquecer Lula, para as eleições de 2018, estavam corretas. Infelizmente, tais notícias não surtiram quaisquer efeitos efetivos no cenário político atual, mas foram cruciais para dar maior visibilidade à cooptação do Judiciário aos interesses político-partidários dos setores conservadores e autoritários deste país.
Hoje, temos Lula Livre, mas um país extremamente dividido, com sua soberania ameaçada, retomando um projeto de país excludente e segregador, que baseia-se no complexo de vira-lata e de lambe-botas dos EUA sob a figura do ridículo e desnecessário Jair Bolsonaro. O que vemos, desde 2016, é o desmantelamento de políticas públicas e ações sociais que, conseguiram transformar a vida de milhões e milhões de pessoas, através da garantia ao acesso à educação, saúde, habitação e a geração de empregos.
Acredito que tal leitura seja imprescindível para quem quer conhecer, minimamente, como refletia e se posicionava - para além das manchetes de jornais e reportagens sensacionalistas - o ex-presidente Lula nos momentos prévios à expectativa de uma eminente prisão. Vale muito a pena tal leitura, independente dos pré-julgamentos sobre quem ele é, sua importância ou até mesmo, sua inocência/culpa.