spoiler visualizarLicasto 04/12/2022
Meu primeiro contato com literatura japonesa
Acredito que a primeira vez que ouvi falar de Murakami-sensei foi pelo livro "Kafka à beira-mar" (que, sem dúvida, é correto afirmar ser sua obra mais ambiciosa). Eu ouvi falar por alto, através de relatos soltos; aqui e ali. Até que eu decidi constar do que se tratava e me surpreendi pela proposta fantasiosa, sensível e diferente. Um homem conversando com gatos?
Gosto de histórias diferentes.
Foi por isso que, quando me deparei com "O elefante desaparece", não pensei duas vezes em comprá-lo. Afinal de contas, já li textos americanos, brasileiros, britânicos, franceses. Nunca um japonês.
Sinceramente, hoje em dia... eu me pergunto se eu fiz um bom negócio. Eu me pergunto se realmente valeu a pena.
Este é um dos piores livros que eu já li esse ano. Não tem muita ambição, tem enredos fracos, apesar de serem explorados através de uma ótica bastante simples. Pelo que fiquei sabendo, Murakami-sensei é conhecido por apresentar premissas simples - este é o primeiro livro do autor que tenho contato -, mas, se quer mesmo saber, esta técnica não me surpreendeu nem um pouco.
Por ser um livro de contos, é normal que tenha um ou outro que seja mais desgastante ou o suprassumo da perfeição. Talvez tenha sido o caso. Mas, mesmo assim...
Um dos melhores exemplos é o conto "Sono". Nele, uma mulher sofre de um tipo meio esquisito de insônia, onde ela simplesmente não dorme. Nunca. Ela chega até a relacionar sua condição a um tipo de morte. É interessante, faz com que você se pergunte se há algum motivo sobrenatural ou psicológico para isso ser possível.
No final do conto, a mulher está com o carro estacionado diante de um cais, de madrugada, ainda sem conseguir nem tirar uma pestana. E aí, simplesmente do nada, um grupo começa a atacar o carro. Simplesmente do nada! Temos uma dissertação sobre não ser capaz de pegar no sono no começo para termos uma cena de um terror assimétrico no final. Tipo???
Outro bom exemplo é o conto "Caso de família". Você também sente a imaturidade emocional do narrador em relação à sua irmã. Contudo, tudo o que você tem no decorrer do conto é um marmanjo falando sobre sexo, sexo, sexo, sexo. Ele pergunta sobre a irmã sobre camisinhas, ele conhece uma mulher num bar para fazer sexo, ele questiona à irmã a quantidade de pessoas com quem ele já fez sexo. Achei bastante vazio. Sem proposta alguma.
Não me entenda mal. Há um conto aqui e ali que se supera, como o inicial: "O pássaro de corda e as mulheres de terça-feira."
Murakami-sensei, apesar de eu ter detestado o livro, é simplesmente um gênio da prosa. O modo como ele discorre sobre pequenas reflexões do dia a dia faz você parar e pensar: "O cara é mesmo um gênio."
A descrição é clara, concisa, inteligente, sensível e bastante imagética. Ele faz você sentir o calor do fim de tarde e a brisa que gentilmente refresca seu rosto. É bastante lido; talvez haja outros livros dele que me interesse, mas no momento, não.
"O elefante desaparece" não me cativou nem um pouco.