Nath 25/03/2021"Se você não sente medo, então a mudança não é real."Esse é um livro que digo sem qualquer vergonha que comprei totalmente sob influência de terceiros (alou Lucas Barros, saudações do surto e obrigada!) e sem qualquer expectativa. Não esperava que fosse ruim, mas também não esperava nada grandioso. Mais um feliz engano, portanto.
Nix foi um dos poucos livros que me fez literalmente gritar de ódio de um personagem. Um dos poucos que me fez sentir quase dor física de tanta angústia ao longo de algumas passagens. Um dos poucos que me fez sentir tanta compaixão, tanta empatia e ao mesmo tempo tanta revolta e tanta raiva que eu honestamente terminei chorando e com a sensação de precisar reavaliar a minha existência por completo. Soa dramático? Provavelmente. haha Mas sinceramente, eu não esperava mesmo pelo impacto.
Esse livro me deixou pensando muito e justamente por isso, vou tentar não enrolar muito pra dar minhas impressões.
À respeito da escrita, posso dizer que gostei muito. É tudo muito simples e objetivo, ao mesmo tempo que dá os detalhes necessários pra que nada fique raso ou mal explicado. Isso ajuda muito na fluidez da leitura, o que em geral já considero muito importante, mas quando estamos falando de um livro que beira 700 páginas, acho que é algo que pesa ainda mais.
Outros aspectos que considero bem importantes e que foram bem atendidos pra mim foram: a forma como o autor desenvolveu assuntos super delicados e polêmicos (o livro tem vários gatilhos, inclusive, vale pontuar) de uma forma super sutil e responsável, nunca deixando cair no sensacionalismo ou na banalidade; e a sensação que tive de que realmente houve um trabalho bem caprichado de pesquisa, de modo que mesmo o que provavelmente foi aumentado e/ou inventado sobre os assuntos/fatos abordados pela história, não deixam a sensação de "absurdo", logo, de maneira geral, tudo parece bastante sólido e verossímil. Inclusive, vale destacar que a atmosfera dos anos 60/70 e o contexto político e social que a envolve é relatada maravilhosamente e é a minha parte preferida do livro (e possivelmente a que mais me fez refletir também).
Gostei demais da construção dos personagens. Em geral, minha preferência disparada nesse aspecto é ler sobre pessoas comuns, independente da situação em que estão inseridas, porque não só me sinto mais propensa a me conectar com elas, mas também gosto de involuntariamente me colocar no lugar delas e me questionar sobre como eu me sentiria e como agiria se aquilo estivesse acontecendo comigo. Nesse livro, encontrei exatamente isso. O autor conseguiu criar vários personagens totalmente críveis e dolorosamente "reles humanos" como quaisquer de nós e todos eles foram muito bem desenvolvidos. Mesmo que alguns obviamente ocupem uma parte significativamente maior do livro, não achei que algum deles ficou mal explorado, por exemplo; na medida de sua importância, cada um teve seu espaço e sua construção de acordo com o que era necessário para contribuir na trama e na minha visão, (quase) todos tiveram desfechos que lhes fizeram justiça.
Como já mencionei, esse livro tem bastante gatilhos (o que eu sinceramente não esperava) e isso, aliado ao fato de que os personagens são tão humanamente próximos da realidade fez com que a leitura me atingisse com mais força. Consegui me conectar e me identificar com mais de um personagem e/ou situação. E tudo isso trouxe muitos questionamentos que sinceramente não sei se estava pronta pra me fazer, mas que são certamente muito válidos.
Eu terminei esse livro questionando a mim mesma (quem sou? o que sou? isso importa?), as minhas escolhas (o que estou fazendo com minha vida e com meu tempo? eu estou onde queria estar ou só me acostumei com o caminho mais fácil e tenho medo de arriscar uma mudança rumo ao que realmente quero?), as minhas relações (nem tudo é sobre mim, será que eu realmente compreendo isso?) e as minhas crenças (afinal de contas, quais são minhas ideologias? Por que? Elas me representam de fato? Até onde o que creio, creio pelo "bem comum" e até onde creio apenas em benefício próprio?). Porque Nix me ensinou muito sobre a efemeridade da vida e sobre a importância das pessoas, sobre conceitos de felicidade, de tempo e de justiça; acima de tudo, Nix me ensinou sobre empatia, desprendimento e perdão. Isso eu certamente vou levar pra sempre.
Nix no fim das contas, não é meu Nix, mas com certeza me marcou pra uma vida inteira.