Luísa Anjos 16/05/2020
?Édipo Rei? foi o meu primeiro contato com o teatro grego na sua forma mais original e clássica. Muito provavelmente uma das peças gregas mais reconhecidas e proeminentes nos tempos atuais, o drama do homem que assassina o próprio pai e desposa a mãe também nos apresenta muito sobre a sociedade, as crenças e a dramaticidade da Grécia Antiga.
Atribuído àqueles versos ritmados, conhecemos a história da cidade de Tebas, onde uma praga vem desolando os moradores. Nesse momento entramos em contato com a cultura helênica, não apenas pela referência aos deuses e a criaturas, mas também pela consulta ao oráculo e pela própria organização da cidade.
Descobrimos que essas pragas são lançadas em ordem de destruir uma terra onde um terrível crime foi cometido. Após a consulta ao oráculo, revela-se que há um traidor na cidade: assassinou o antigo rei, casou-se e teve filhos com a mulher que é sua mãe. O rei, Édipo, define então que se o traidor se apresentar, a punição será o exílio. No entanto, caso seja descoberto, a punição será a morte. O rei não sabia que o traidor era ele mesmo.
Ao longo da história acompanhamos a descoberta de Édipo quanto às suas origens e ele próprio passa por muitas crises existenciais, questionando-se quem ele é de fato. A verdade parece óbvia para quem lê já conhecendo a história, mas Édipo não aceita seu destino até o último ato e recorre a todo o tipo de ajuda para confirmar que não o traidor de Tebas. O encaixar das peças se dá quando um senhor de idade, servo do antigo rei, confirma o que já se receava.
A história então apresenta sua linha do tempo: Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas, não conseguiam ter filhos, porém era necessário que alguém tomasse o posto após sua morte. Depois de muito esforço, Jocasta engravida e Laio decide consultar o oráculo para o destino de seu filho e descobre que ele está destinado a matar o pai e desposar a mãe. Diante dessa situação, Laio encarrega um de seus servos para deixar o recém-nascido na base de um morro. Ali, um casal de camponeses encontra a criança e decide criá-la. Ao crescer, Édipo também consulta o oráculo para si e recebe a mesma resposta. Ele resolve, pelo bem da própria família, sair de casa e, na direção de Tebas, encontra-se com um homem e, em conflito, o executa. Esse homem é ninguém menos que seu pai, rei Laio, que deixou a cidade também para consultar o oráculo e tentar descobrir como livrar a terra de outra praga que a assolava na época. Dessa forma, Édipo concretiza a primeira parte de seu destino.
Chegando em Tebas, depara-se com a Esfinge, que lançava aquelas pragas e propunha um enigma que a resolveria: qual animal anda de manhã com quatro pernas, à tarde com duas e à noite com três? A recompensa para o acerto desse enigma é o trono do rei, que já havia morrido, e o matrimônio com Jocasta. Édipo resolve o enigma, respondendo que o animal era o homem e ganhando as recompensas prometidas. Após anos de calmaria, uma segunda praga atinge a cidade e é nesse momento que a peça começa. A partir daí, diversos fatos e discussões são postas à prova, mesmo com Édipo negando até o fim a realidade.
Ele então, completamente envergonhado e para evitar o peso dos olhares dos outros, cega a si mesmo após o suicídio da própria mãe e se exila de Tebas acompanhado de sua filha, Antígona, que o ampara até o fim da vida.
Édipo Rei é a primeira peça do conjunto conhecido como ?Trilogia Tebana?, escrito por Sófocles. Nos revela muito sobre a alma humana e como as organizações sociais e culturais exercem poder sobre nós.