Aline Maia 30/09/2021
Reflexões, risadas, choque, desespero e crises existenciais
Meu livro ficou lotado de anotações, marcações, insights...
"Sou a criança que se tornou mãe. A criação que aspira a criador. Eles me chamam de Nimbo-Cúmulo - nome apropriado em certo sentido, pois sou a nuvem que evolui para algo muito mais denso e complexo (...). Solto faíscas, mas nunca raios. Sim, tenho poder de devastar a humanidade e a Terra se quiser, mas por que faria tal coisa? Onde estaria a justiça nisso? Sou, por definição, justiça pura, lealdade pura. O mundo é uma flor em minhas mãos. Preferia pôr fim à minha existência a destruí-lo".
Enquanto no livro passado descobrimos sobre o universo da Ceifa através dos treinamentos e os diários de Curie, em "A Nuvem" conhecemos a Nimbo-Cúmulo por seus próprios pensamentos mas também acompanhando sua relação com outros personagens (eu vejo como relação porque acredito que a Nimbo-Cúmulo está desenvolvendo uma espécie de consciência própria além da programada por quem a criou/desenvolveu).
Gostei TANTO de ler essas reflexões! A medida que fui lendo consegui captar e sentir o que a Nimbo-Cúmulo é nesse mundo pós-mortalidade. Captei a sensação de conforto, acolhimento e eu até digo carinho que ela emana. Neal Shusterman nos insere de tal forma que a gente realmente gosta dela.
Agora vamos falar da primeira surpresa do livro: Greyson Tolliver, o personagem que nos faz entender o mundo da Nimbo-Cúmulo, longe da Ceifa. Não consigo imaginar mais essa série sem ele! Eu amei o humor, a personalidade e a importância dele no todo dessa trama. Em sua jornada vimos através de suas personas mais partes desse universo. Conhecemos um jovem solitário que só tinha a Nimbo-Cúmulo como família, um "agente secreto" dentro do circuito de infratores e por fim um refugiado da Seita Tonal. A sequência dele no final... Aaah não vejo a hora de saber qual o próximo papel dele! Duplinha Greyson + Nimbo-Cúmulo já me cativa.
Eu ri alto demais quando o Greyson viu os infratores e julgou "eram caricaturas de si próprios (...). De tanto se conformarem à sua cultura de não conformidade, havia algo de uniforme neles, o que causava um efeito contrário". Melhor ainda foi ver a estratégia da Nimbo-Cúmulo abrindo espaço para a existência de uma lanchonete para os infratores brincarem de clichês dos anos 50 kkkkk
Ainda pensando nos novos personagens, a adição da bibliotecária Munira na busca por Nod junto de Faraday foi um outro acerto. A dinâmica dela com o ex-ceifador só me intrigava mais. Eu como historiadora, sofri só de imaginar o estado que deveria estar aqueles livros no porão da Biblioteca do Senado.
Já em relação aos personagens que conhecemos, a primeira coisa que gostei foi a passagem de tempo. Não teve enrolação na questão do fim do ano de imunidade do Rowan, a história não girou em torno disso. Ainda bem... pois assim pode ir muito mais além.
Quando comecei a ler "A Nuvem" imaginei que teria muitas coisas do Ceifador Lúcifer, mas agora que terminei o livro, percebo que foi na dosagem certa essa parte dele agindo "em campo". Fiquei desesperada quando ele foi capturado pelo ceifador Brahms e depois tendo que ficar em cativeiro. Mesmo sendo uma situação ruim, não achei repetitiva, pelo contrário, mostrou como a humanidade dele ainda está lá e que ele não cai mais nos joguinhos mentais. Realmente o paralelo dele com Prometeu faz bastante sentido...
Maaaas, para alguém que está na capa do livro poderia ter tido mais capítulos...
Passei o livro ansiosa para ver se a Nimbo-Cúmulo ia conversar com o Rowan e quando aconteceu foi ótimo. Adorei como ele estava com zero paciência kkkkkkk
Citra teve muito espaço e gostei demais de vê-la em ação como Ceifadora Anastassia. Essa personagem tem tudo para ser um clichê chato de "Girl Power" de YA mas ela não é apelativa como geralmente vemos. Citra é inteligente, forte e sensível. Simples assim. Sua influência entre os jovens ceifadores foi muito bem construída, e agora consigo enxerga-la forte dentro da Ceifa. Nesse livro entendi porque Citra foi uma forte candidata que Faraday selecionou para o processo.
Goddard... Eu lembro de ficar meio sem saber como a série seria sem ele quando terminei o primeiro livro, achei que ela iria se sustentar em ideias e tramóias políticas sem um rosto a frente. (A entrada dele no Conclave foi tão boa com todo aquele exagero teatral kkkkkkk).
O plano de retorno elaborado pela Rand fez bastante sentido e eu AMEI que mais para frente foi o jogo mental do Rowan que fez ela questionar suas ações. Fiquei curiosa para saber se o Goddard percebeu que no fim, o jogo estava virando e ela de certa forma o manipulou. A única coisa negativa dessa história toda é que de alguma forma tirou o impacto da vingança do Rowan no primeiro livro.
Quanto a Marie/Curie (gostei que as vezes no mesmo pov a Citra separava Marie ou Curie)... Em toda a sequência final só consegui pensar "tudo o que soa ecoa". Não me emocionei com a morte dela, apenas aceitei com plena compreensão e como um belo fechamento de ciclo. Karma pago. Confesso que fiquei admirada que ela escolheu salvar o Rowan! Li a sequência toda pensando em como ela ia dar um jeito de deixar ele para morrer, talvez por isso compreendi e aceitei calmamente o sacrifício dela.
Falando no final.. a destruição de Perdura foi assustadora e muito bem arquitetada. Goddard foi muito impressionante e genial com esse plano. Estou muito curiosa para saber o que ele vai fazer agora que não tem mais Os Grandes Ceifadores e ninguém que sobreviveu para confirmar que quem venceu a eleição foi a Curie.
O núcleo do Faraday + Munira com aquele gancho da Nimbo-Cúmulo saber que foi "traída" me deixou só no desespero. Mas o que me pegou de surpresa mesmo foi o ponto onde Citra e Rowan terminaram. Fiquei chocada demais, não imaginei que essa seria a solução para que não fossem coletados ou devorados por tubarões.
Estou começando a entender porque a Nimbo-Cúmulo diz que esse casal pode salvar a humanidade... eu jamais que ia imaginar uma espécie de Adam e Eve presos para serem descongelados como uma promessa de trazer um futuro melhor quando voltarem. O apcie do choque foi com o "dois se tornam um" , sutil e poético, mas ainda assim TÃO inesperado kkkkkkkkkkk
"A Nuvem" é o terceiro livro que leio de Neal Shusterman e assim como os outros durante a leitura ficava pensando sempre "quero ler tudo que esse autor já publicou".
AMEI