spoiler visualizarJulia4515 26/03/2021
"Porque as pessoas te amariam, se fosse bonita? E se fosse amada pelas pessoas, você seria feliz? É o amor das pessoas que faz você feliz?"
Antes de falar sobre a história, acho importante esclarecer que a palavra "Geek" no título não se refere ao significado que conhecemos na cultura pop. Este livro foi lançado oficialmente em 1989 e, nesse caso, a palavra foi usada em seu sentido original. Ela se refere a artistas de circo que matavam galinhas vivas em suas apresentações. E se você achar isso perturbador, saiba que este é apenas o começo da história.
ser uma geek nunca foi um problema para Crystal Lil. Em nenhum momento ela se sentiu incomodada por ter que usar os dentes para remover as cabecinhas dos corpos trêmulos. Ela agradou o público e foi assim que conquistou Aloysius Binewski.
O circo viajou oferecendo aos residentes locais a oportunidade de vivenciar o extraordinário. Aloysius Binewski e sua esposa, Lilian Hinchcliff Binewski, decidiram criar seus próprios shows. Em cada gravidez, Lil usou doses de várias substâncias ilegais, venenos e radioisótopos para garantir que a criança nascesse com alguma anormalidade. Alguns não conseguiram sobreviver e foram exibidos publicamente em grandes garrafas de vidro.
Dessas experiências eles sobreviveram: Arturo, o menino que nasceu com nadadeiras no lugar de membros, Oly a albina e anã corcunda, Iphy e Elly as gêmeas siamesas e Chick um menino aparentemente normal, mas com poderes telecinéticos.
Oly contará a história de sua perspectiva. Atualmente ela é mãe, mas sua filha Miranda não conhece a ligação entre elas. Então vamos visitar o passado e conhecer o presente desta anã albina. Ela não era "estranha" o suficiente para se tornar uma atração de circo. Portanto, seu papel era servir a família e atrair o público com sua voz. O principal destaque era seu irmão Arturo ou Aqua Boy, que nasceu com as nadadeiras presas ao torso e gostava de ser o centro das atenções.
O relacionamento deles nunca foi saudável. Oly ama seu irmão, mas ao mesmo tempo odeia a maneira como ele manipula as pessoas (especialmente ela). Arty controla toda a sua família e ao descobrir este "dom" cria uma "religião" e atrai vários seguidores por onde passa. Ele consegue convencer as pessoas a jogarem seu jogo e o faz com crueldade.
Então, Oly será nossos olhos e compartilhará o relacionamento com sua família. Ela relata os acontecimentos que, até então, lhe pareciam normais, mas que podem ser diferentes para quem lê. Cada membro da família Binewski tem sua peculiaridade e esta é a principal discussão da história: o que significa ser normal?
Essa história aos poucos me conquistou. É um livro complexo, criativo e incompreensível. Foi difícil entrar no enredo, porque Geek Love tem personagens que gostam de ser como são.
Normalmente, quando a "anormalidade" é explorada, ela sempre vem acompanhada do discurso de aceitação ou mesmo mudança. No entanto, eles não querem ser diferentes do que são. Tanto é verdade que, em muitas situações, o filho mais velho (que é manipulador e consegue o que quer) faz perguntas interessantes sobre felicidade e padrão.
A autora conseguiu, com este trabalho, desafiar as opiniões sobre a sociedade. Como nos julgamos e nos classificamos em relação aos outros? A perfeição existe? Se sim, o que consideramos deformidade? Chick era o personagem mais forte da família, pois com seu poder de telecinesia era possível controlar o que ele quisesse. Tanto que ao nascer, percebendo que não havia mudanças em seu corpo, Lil decidiu abandoná-lo. E ao descobrir seu dom especial, que se manifesta na hora certa, ele se acostumou com o lucro. E de tudo, ele era o mais ingênuo.
Gostei da forma como a autora descreveu as características da família, mas confesso que houve algumas cenas que me incomodaram. Não é uma leitura leve e você pode se sentir atormentado em algumas situações também. Mesmo assim, se você tiver a mente aberta, há muito o que aprender com este livro. Não é um livro com reviravoltas e finais felizes, mas tem muito a ensinar.