Almas mortas

Almas mortas Nikolai Gógol




Resenhas - Almas mortas


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Jorlaíne 20/09/2022

A escrita de Gógol é fantástica!
A temática do livro também é. O livro é uma crítica à nobreza russa de 1800 e à sociedade num momento em que os proprietários de terra mediam sua riqueza não pela posse de terras, mas pelo número de almas que haviam nelas.
No caso desta leitura, é bom que se tenha uma leitura prévia sobre o contexto, pois o livro é inacabado por conta da morte do autor. Sem esse contexto, a leitura pode parecer banal, o que não é de forma alguma.
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Erika 10/06/2020

Poema em prosa
A Rússia viveu um longo período sob um regime de servidão, em que os proprietários das terras tinham posse de todos os camponeses ligados a ela. Esses camponeses eram chamados de "mujiques", ou "almas". Era sinal de grandeza e respeito um senhor de terras possuir muitas almas em seu território. Neste romance de Nikolai Gógol acompanhamos o misterioso Tchítchikov em visitas a diversas proprietários de terras para convencer-lhes a vender suas "almas". Mas o bizarro é que ele pretende comprar as almas que já morreram.

Com várias interações muito engraçadas do narrador, que nos conduz a um passeio pelas terras do interior da Rússia: temos a estrada como um cenário constante. Em sua busca por negociações Tchítchikov conhece os mais variados tipo de senhores de terras, todos com defeitos diversos, defeitos que o próprio protagonista também apresenta.
 
A obra foi classificada por Gógol como um poema, o que causa muitas controvérsias, e originalmente teria mais duas continuações. O segundo volume foi queimado pelo autor, após ficar #chatiado com a enxurrada de críticas que recebeu por retratar o povo russo de maneira não muito fofa nos seus personagens. Há quem diga que a obra foi concebida para ser A Divina Comédia russa, sendo Almas Mortas equivalente ao Inferno, e os dois volumes seguintes, com a ascensão/redenção de Tchítchikov, equiparados a Purgatório e Paraíso.

Muitos pontos eu não consegui captar e só me dei conta ao ler os textos de apoio presentes nesta edição. É um livro delicioso de ler, mas requer releituras, pois existem detalhes importantes que vão além de um cara estranho querendo comprar almas que já morreram. Tem tanta coisa embutida, que fica difícil comentar algo que faça jus ao que ele representa. Não sei se com esse texto eu consegui convencer alguém a ler, mas resumidamente, é um forte candidato a livro da vida sim, e é tão bom que eu não preciso saber das continuações, ele é completo por si só.
Douglas 20/10/2020minha estante
Ótima resenha, como sempre!


Erika 21/10/2020minha estante
Obrigada, Douglas!




Marcos606 24/03/2023

Na Rússia do romance, os proprietários de terras devem pagar impostos sobre os servos mortos até que um novo censo os remova da lista de impostos. Chichikov sai para comprar servos mortos - aliviando assim seus donos de uma carga tributária - e hipotecando-os para adquirir fundos para criar sua própria propriedade. Ele encanta seu caminho para as casas de vários proprietários de terras influentes e apresenta sua estranha proposta, mas se esquece de contar a eles o verdadeiro propósito por trás de seu plano. Gogol baseia-se em amplos tipos de personagens russos para seus retratos de proprietários de terras. Essas descrições cômicas compõem algumas das melhores cenas do romance.
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Gabrielli 04/05/2023

Importante conhecer
Não é das obras russas que mais tenha me agradado, mas tem uma importância gigantesca para tudo que vem depois e vale muito a pena conhecer. Recomendo, do autor, o conto Diário de um Louco, construção incrível também.
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Junior Leandro 09/08/2020

Um herói do nosso tempo
O livro é uma análise satírica da nobreza russa de 1800 e da sociedade, em que os proprietários de terra mediam sua riqueza pelo número de almas (ou mujiques) que possuíam. A personagem principal, Tchitchikov, tinha como objetivo obter o maior número de almas mortas (servos, já falecidos, dos senhores de terras). A razão que Tchitchikov tem para obter essas almas é, provavelmente, o que mais prende o leitor nesta história. Embora haja um tom satírico em alguns trechos, a leitura pode se tornar repetitiva e maçante em outros.
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Elton 05/01/2021

Engraçado e Intrigante
Almas Mortas é um dos livros mais engraçados que já li, de arrancar gostosas risadas mesmo em alguns trechos. Mas o humor por si só não faria essa obra ser considerada um clássico e a obra prima de Gogol. Além do humor, que é sim um dos pontos altos do romance, há um retrato bastante intrigante e inteligente da Rússia da época de Gogol. Os personagens apresentados, mesmo bastante caricatos, possuem nuances, contrapontos e complementos com o protagonista que acabam revelando uma humanidade crua, vulgar, quase ofensiva. Que se não choca o leitor devido ao distanciamento geográfico e do tempo, ainda assim é capaz de intrigar. Não somente a personalidade do protagonista e dos demais personagens é objeto da narrativa, como os seus locais físicos e quase todos os aspectos de seus modos de vida. Gogol escreveu uma obra monumental inteiramente sobre coisas secundarias e fez isso de forma inteligente. É narrativa na qual, em essência, pouca coisa acontece. Mas que mantém a atenção do leitor justamente pela qualidade com a qual as supostas insignificâncias e conflitos menores são expostos.
A edição da 34, além da primeira parte (única concluída), possui rascunhos da segunda parte e extras que adicionam muito à compreensão e apreciação da obra. Devo destacar, inclusive, que o capítulo I da parte II talvez seja o meu favorito de todo o romance.
Esse é um livro que recomendo tanto para quem aprecia literatura russa ou clássicos quanto para quem deseja ler um livro divertido e ao mesmo tempo seriamente intrigante.
Alexia Araldi 05/01/2021minha estante
Adicionado na minha lista!




Mari Pereira 17/02/2021

A Rússia é aqui!
Em Almas mortas, Gógol narra as aventuras (e desventuras) de Tchítchikov, um homem mediano, como já ficamos sabendo nas primeiras páginas do romance.
Ao acompanharmos a história de nosso herói, somos guiados a um profundo mergulho na alma russa e a uma instigante reflexão sobre a humanidade.
Impressionante como algumas características da Rússia tzarista do século XIX se assemelham tanto ao Brasil do século XXI.
Com muita ironia e um humor ácido, o livro é fascinante.
A edição ainda conta com vários anexos e textos de apoio, que nos ajudam a entender melhor o contexto da obra e a trajetória do autor.
Excelente!
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Lucas 11/04/2022

Narrador hilário e enredo absurdo: Uma sátira espetacularmente bagunçada
Almas Mortas, lançado em 1842, é a obra-prima do genial Nikolai Vassílievitch Gógol (1809-1852), nascido na atual Ucrânia mas considerado um dos membros fundadores (o outro é Aleksandr Pushkin (1799-1837)) da era de ouro da literatura russa (impossível não ignorar esse dualismo pátrio diante do conflito atual entre Rússia e Ucrânia). O rótulo de obra-prima de um autor tão renomado não deriva de sua incompletude, comentada mais a frente, mas pela narrativa daquilo que o autor propôs (e conseguiu, em grande parte) legar à eternidade literária.

Como um traço recorrente das obras-primas, têm-se a simplicidade, a qual em Almas Mortas é encontrada em seu enredo: o livro narra as aventuras de Pável Ivánovitch Tchítchikov, um sujeito (é o melhor substantivo que pode ser empregado) que parte para uma interiorana cidade russa com um objetivo em mente: adquirir de proprietários de terras títulos de propriedade de servos falecidos desde o último recenseamento e que, portanto, em termos jurídicos ainda existiam. As tais "almas mortas" seriam como "títulos podres": investimentos com substância apenas legal, conferindo ao seu titular certa riqueza fictícia, mas inexistente na prática.

Em verdade, este é um enredo tão simplista que, de certo modo, não pode ser considerado um enredo propriamente dito. Não apenas simples, mas como fica subentendido, a proposta de Almas Mortas é absurda e chega (ria) a ser esdrúxula se dependesse de uma eventual falta de imaginação do seu idealizador. Felizmente, não é isso que ocorre: Gógol era um homem com uma mente turbulenta e a história de seus livros indica que para ele qualquer coisa trivial poderia ser o gatilho para outras obras-primas: os contos O Nariz (1836) e O Capote (1842) estão aí para comprovar isso.

Almas Mortas se destaca, então, por outros aspectos e o cerne deles é o narrador onisciente, que brinca constantemente com o leitor com incontáveis divagações compostas por comentários e análises sarcásticas do desenrolar dos fatos narrados. Tal técnica, o uso de divagações, não é nada incomum na literatura universal do século XIX, mas diferentemente desses outros usos (que possuíam entre si normalmente um viés filosófico), aqui Gógol emprega essas fugas da linha narrativa para pintar linhas predominantemente cômicas por toda a jornada do protagonista. E essas divagações acabam criando as condições narrativas para que os vários coadjuvantes surjam, tais como Petruchka e Selifan¸ empregados do protagonista Tchítchikov, Pliúchkin, que personifica o significado da avareza e o inesquecível Nozdriov, um simplório e hilário fanfarrão, a qual protagoniza pelo menos duas passagens engraçadíssimas. Entretanto, as divagações de caráter mais "convencional" também estão lá, especialmente quando Gógol fala sobre as dificuldades em fazer literatura ou nas pontuais descrições da vasta Rússia.

Mesmo que sem querer, ao narrar as hilárias tentativas de Tchítchikov de adquirir títulos de propriedade de servos já falecidos (as quais, pela explicação mais plausível, lhe dariam um status social superior na capital São Petersburgo, mas a obra deixa uma justificativa mais substancial), o autor é bem feliz ao descrever uma Rússia interiorana até de certo modo desconhecida dos grandes centros. Nas várias visitas a senhores (as) de terras que Tchítchikov fazia, percebe-se certa semelhança com o maravilhoso Memórias de um Caçador (1852), livro de contos de Ivan Turguêniev (1818-1883). Mas enquanto os contos de Turguêniev são poeticamente perfeitos em descrever os servos (mujiques) e as paisagens narradas (este último o mais característico traço da literatura de Turguêniev), Almas Mortas é mais cirúrgico nesse aspecto de descrição do interior russo, já que Gógol foca sua escrita para as pessoas em si, sem que haja um caráter nacionalista por trás disso. Desse modo, os personagens que vão surgindo são mesquinhos, por vezes cruéis, desconfiados e assim por diante, tudo permeado com o já recorrente pano de fundo satírico e caricatural.

Apesar dessa aparente simplicidade, Almas Mortas é também incompleto. Isso porque a obra se divide em duas partes: a primeira, com seus onze capítulos, foi lançada em 1842 e é considerada o "cânone oficial"; a segunda parte seria lançada em 1846, mas Gógol, numa crise mística e nervosa, queimou os manuscritos dessa parte e retomou o trabalho. Mas poucos dias antes de falecer, Gógol incendiou novamente o que havia feito... Os cinco capítulos que hoje podem ser considerados a segunda parte da obra não chegaram a ser queimados e são reproduzidos na sempre excelente edição da Editora 34. Sumamente e como pode se imaginar, Almas Mortas não é um livro "redondo" no sentido narrativo, oferecendo, ao fim do que há de texto conhecido, várias perspectivas imagináveis. Essa segunda parte, na verdade, precisa ser lida apenas como um complemento histórico da construção literária de Nikolai Gógol, já que se percebe uma mudança significativa de estilo perante à primeira parte (é nítida que a história de Tchítchikov nessa parte final que resistiu carecia ainda de muitos ajustes). Ela traz, todavia, excelentes reflexões sobre materialismo e disposição ao trabalho (através do personagem Kostanjoglo) e uma experiência do protagonista com um senhor de terras extremamente burocrático (Gógol parecia ali estar prevendo o funcionamento do Estado Soviético que surgiria dali a 70 anos, numa passagem cômica), apesar dos vários "buracos" narrativos, as quais a edição da Editora 34 faz questão de explicar em notas de rodapé (através da atenta tradução de Rubens Figueiredo).

Este aspecto incompleto do livro é a grande razão da enormidade de estudos literários que dissecam a obra sobre vários ângulos, simbolizados pelo ensaio do professor norte-americano Donald Fanger (1929-), trazido na edição da Editora 34. Além deste, Vladimir Nabokov (1899-1977) faz um longo texto sobre a obra, disposto em Lições de Literatura Russa (Ed. Três Estrelas, 2014). Recomenda-se mais fortemente esta última referência complementar: Nabokov, com a sua recorrente acidez, critica e disseca Almas Mortas e seu autor (especialmente nos seus turbulentos últimos anos de vida), maximizando ainda mais a experiência de leitura.

Almas Mortas é algo inconclusivo, mas de uma construção inigualável dentro da literatura russa: nele, a narrativa adquire ares de um brilhantismo próprio, a qual sobrepõe aquilo que ela conta. No último parágrafo da primeira parte, Nikolai Gógol, numa reflexão lendária, compara a Rússia a uma troica desgovernada: enérgica, chamativa, indomável e dramática. Sem se ater a avaliações da Rússia como país, já que no contexto atual isso pode levar a conclusões mais emocionais, talvez a história de Tchítchikov tenha um pouco disso também: a obra-prima de Gógol é frenética, por vezes deveras estranha e cinematográfica, mas que encanta em seu contar e em suas historietas não resolvidas.
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Reginaldo Pereira 19/09/2022

Incrível, do início ao? fim?
A forma de escrita é perfeita, flui demais; as sátiras e ironias me fizeram dar boas risadas (aquelas que a gente ri sozinho, mesmo quando estamos fazendo outra coisa!); e a história em si, toda ela baseada em personagens ?questionáveis? (não existe mocinho na obra), é maravilhosamente construída?. a única questão é o final?. pois ele não existe?

Trata-se de uma obra inacabada, composta de 3 livros (pelo menos na ideia original de Gógol). O livro 1 foi totalmente concluído, o livro 2 existem capítulos (aqueles que uma boa alma conseguiu salvar do fogo), e o livro 3 nunca chegou a ser escrito? uma pena!

Tchítchikov está longe de ser um herói (no conceito comum da palavra), mas é um baita personagem, que nos cativa desde o início!

Enfim, uma das melhores leituras do ano, que só não recebe 5 estrelas por justamente não ter sido concluída?. Ah Gógol, amor e ódio por você!!!!!!
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Ramiro.ag 25/06/2023

"Pense não nas almas mortas, mas na sua própria alma viva"
"Para que mostrar a pobreza e outra vez a pobreza, e a imperfeição da nossa vida, desenterrando personagens de perdidos cafundós, dos recantes longínquos da nossa terra? Mas que fazer, se é esse o feitio do autor, que, doente da sua própria imperfeição, já não consegue pintar mais nada além da pobreza e outra vez a pobreza, e a imperfeição da nossa vida [...]"

Eu não sei nem por onde começar a descrever o quão incrível foi e experiência de ler esse livro, com certeza está entre os meus favoritos. Uma pena que o Gógol tenha queimado os manuscritos da segunda parte e tudo tenha tomado o fim que tomou.

Tchítchikov é o nosso "herói", que, diferente do costumeiro, não tem uma alma sublime e nobre, nem uma aparência tão encantadora e já esteve metido em problemas com a lei, no entanto, possui bons modos e sabe como ser persuasivo e se adaptar a sociedade ao seu redor. Ele viaja pela Rússia em uma tentativa de comprar "almas mortas", ou seja, camponeses que já morreram mas não foram registrados como tal ainda, com isso, ele pretende ganhar fundos e autoridade fingindo ser proprietário de terra e dono de tais "almas".

Conforme ele percorre pelas cidades e aldeias da Rússia, vai se encontrar com as mais ilustres figuras, extremamente caracterizadas e, por mais que o livro seja de muito tempo atrás, em alguns momentos você para e pensa "eu conheço alguém exatamente assim!". Além disso, ele vai expor toda a superficialidade da burguesia da época, que não se importa em se endividar só para mostrar uma boa aparência e manter um status.

Outra grande pegada, são as críticas cirúrgicas ao serviço público, a burocracia e a corrupção que se instalam nos diversos departamentos, mostrando que, com dinheiro e boa posição, pode-se conseguir tudo facilmente.

Gógol fez um retrato perfeito da sociedade e do homem da época, e que é aterrorizantemente atual, ele não deixa escapar nada, e mesmo assim traz tudo de um jeito cômico, escancarando as maiores malezas de um jeito sútil e leve.

Em muitas partes do livro temos a voz do autor falando diretamente com o leitor, isso pra mim foi a parte mais fascinante do livro, ele transmite sua mensagem de um jeito tão tocante que é quase impossível não se emocionar, principalmente criticando o modelo de literatura e leitor da época, onde o leitor (e os críticos) preferem não ver a miséria humana descoberta, e nos mostrando intimamente sua própria sina como um autor que revela todo esse lado.

"Pois o Juízo contemporâneo não reconhece que são igualmente maravilhosas as lentes que mostram os sóis e as que mostram os movimentos dos ínfimos insetos; não reconhece o juízo contemporâneo que é necessário muita profundeza e alma para iluminar um quadro tirado da vida desprezada e transformá-lo numa joia de criação."

Enfim. MARAVILHOSO, eu poderia passar horas mostrando passagens e falando sobre esse livro, é uma leitura que vai iluminar muito, e dar várias perspectivas sobre vários aspectos da vida. Passar a vida sem ler Almas Mortas devia ser considerado crime.

"O mais doloroso não é que o senhor seja culpado perante os outros, mas sim que o senhor seja culpado perante si mesmo, perante a riqueza de dons e de forças que lhe coube neste mundo. O seu destino era ter sido um grande homem, mas o senhor se rebaixou e se destruiu com suas próprias mãos"
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Leandro190 25/08/2022

Engraçado, crítico, necessário
O autor usa o bom humor para falar da dura realidade da Rússia do século XIX. Longe da aristocracia seus personagens mostram as durezas enfrentadas pela maioria da população e mostra ainda e com destaque nesse livro os desvios morais, as prevaricações, "o jeitinho russo" para se ganhar dinheiro e reconhecimento. A biografia do autor é tão interessante quanto o livro. Gogol queimou quase toda segunda parte desse romance, uma pena, mas certamente ele teve seus motivos para isso. Vale a pena conhecer a biografia e a obra de Gogol.
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Gotas de leitura 31/05/2020

Almas mortas. Nikolai Gógol. 1842.
No regime de servidão russo no início do século XIX, o proprietário de terras também era dono dos mujiques de sua terra, podia comprar e vender esses servos, além de pagar impostos sobre essa “propriedade”. Cada alma era declarada no censo e, mesmo que o servo tivesse morrido no intervalo entre um censo e o seguinte, o imposto correspondente ao período completo era cobrado.

O espertalhão Tchítchikov se aproveita desse prejuízo com os servos falecidos e tenta comprar essas almas mortas. Ao longo do enredo, vamos descobrindo as intenções do nosso herói, não sem antes dar boas risadas com as histórias do protagonista para alcançar seu objetivo.
A veia satírica fica por conta do narrador que tem papel de destaque e nos cativa pela imaginação e irreverência de suas descrições e observações.

Os costumes das pequenas cidades da Rússia czarista são o pano de fundo da grande obra-prima de Gógol, considerada precursora do romance russo clássico.

A intenção inicial do autor era que esse livro fizesse parte de uma obra grandiosa, uma Divina Comédia russa, mas esse projeto não foi concluído e Gógol queimou os manuscritos da continuação de Almas mortas antes de morrer. Nessa edição da Editora 34, alguns rascunhos recuperados desses manuscritos compõe os anexos, juntamente com cartas a respeito do livro e o posfácio.

site: https://instagram.com/gotasdeleitura
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Carol 02/02/2022

Impressões da Carol
Livro: Almas Mortas {1842}
Autor: Nikolai Gógol {Ucrânia, 1809-1852}
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: 34
432 págs.

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Mais conhecido pelos leitores brasileiros por seus contos, Nikolai Gógol deixou uma produção literária variada como legado, oscilando tematicamente entre o resgate do folclore ucraniano e o cenário urbano de São Petersburgo.

"Almas Mortas", podemos afirmar, é o romance de uma vida. Gógol, em carta a seu amigo Púchkin, afirmou que o romance englobaria toda a Rússia, que seria uma espécie de "Divina Comédia" russa, dividida em três partes.

Infelizmente, o projeto ficou inacabado. Doente, mentalmente atormentado, com ânsias cada vez mais moralizantes, Gógol lançou os manuscritos da 2° Parte do romance ao fogo e, poucos dias depois, faleceu, aos 43 anos.

Nesta edição da 34 temos o que seria a 1° Parte do romance, que de tão genial se sustenta como um livro acabado; fragmentos da 2° Parte, que escaparam do fogo; e um excelente ensaio do prof. Donald Fanger.

Falemos, então, do enredo de "Almas Mortas". Acompanhamos Tchítchikov, um fabuloso picareta, em suas andanças por cidades interioranas da Rússia. Ele se arma com sua boa oratória, astúcia e pequenas bajulações para fechar negócios.

O trambique reside nesses negócios. Tchítchikov adquire almas mortas, servos que morreram desde o último recenseamento e que não foram oficialmente declarados mortos pelos proprietários rurais. Para empenhá-las, como se vivas fossem, em troca de uma fortuna.

"Almas Mortas" é um grande livro, entre o épico e o cômico, como soi ocorrer na obra gogoliana. Há sempre algo em disputa: a alma humana, o bem e o mal, a vida e a morte, o amor à pátria, a sátira, a denúncia, a moral. Tchítchikov traz toda essa complexidade em si, apesar de ser um herói-patife, nunca perde o desejo de regenerar-se.

Li "Almas Mortas" mediada pelo @cesarmrins, do instagram @litrussa e tive o privilégio de assistir a uma aula esplêndida com o tradutor Rubens Figueiredo. Gógol é uma leitura fundamental a todos que amam literatura russa. Um autor que revela a natureza humana, através do riso, é um autor que merece ser lido.
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Luíza | ig: @odisseiadelivros 10/04/2020

Leitura de quarentena #2
Quando estabeleci a meta de ler livros da literatura russa em 2020, não sabia onde estava amarrando meu jegue. É um desafio prazeroso, um doce amargo. Comecei pelo conto de Nikolai Gógol, "O capote", e percorri um pequeno caminho até chegar ao meu primeiro romance russo: Almas mortas, novamente de Gógol. E estou grata por voltar a ele.
Almas Mortas não é nada mais do que uma representação da sociedade russa por meio da jornada de um homem russo. Cômica e perversa, em linhas gerais, mas possuidora de belezas que não se limitam às descrições de paisagens naturais.
O herói dessa jornada é Tchítchikov, um estranho homem do qual sabemos pouco e conhecemos no exato momento em que ele desembarca em uma capital de província e passa a conhecer e a reverenciar as principais figuras públicas do local. Logo suas intenções se tornam claras para os leitores: ele vai atrás de donos de terra para comprar almas (servos), desde que essas almas estejam... mortas. Durante toda a jornada, o narrador não revela muitas informações a respeito de Tchítchikov. Conhecemos suas motivações somente ao final do livro. No entanto, no caminho conhecemos personagens um tanto quanto singulares, genuínas caricaturas que, com certeza, não são encontradas apenas na Rússia.
O livro foi escrito com a intenção política de retratar uma Rússia tradicional, fugindo das demais estéticas europeias. Somos apresentados a um país em que as tradições são muito valorizadas no interior, ao mesmo tempo em que nas grandes cidades há uma grande influência das modas do restante da Europa.
Algo a se destacar, também, é o estilo de Gógol, muito cômico (é possível dar MUITAS risadas com esse livro), com divagações do narrador, que se confunde com o autor, deixando com que aqui e ali ele dê suas opiniões acerca de diversos assuntos que dizem respeito ao país; a linguagem, os costumes importados, a índole da sociedade russa. Além disso, Gógol tem um estilo refinado, em que retrata paisagens que o leitor quase pode enxergar, ouvir e até mesmo pegar. É uma sinestesia bonita pela qual vamos nos enveredando ao passar as páginas desse poema. Poema, título dado a esse livro por Gógol, é o termo russo para obras longas e narrativas. E, sendo assim, foi mantido pela tradução. Tradução sempre primorosa da Editora 34, essa em específico feita por Rubens Figueiredo.
O narrador/autor interage e brinca com o leitor, iniciando uma série de devaneios para em seguida dizer: “Opa! Agora vamos ver o que Tchítchikov está aprontando!”. No entanto, não se engane pela gentileza e comicidade do escritor, há pontos sérios nesse livro. Há a apresentação de uma realidade sórdida, que poucos têm a coragem de revelar. As personagens são extremamente reais, revelando os piores defeitos do ser humano, entre eles, a hipocrisia. E, consequentemente, as caricaturas acabam sendo universais, e não apenas exclusivas da Rússia. Logo, todas as críticas à Rússia se tornam universais.
Porém, é importante que não haja engano. Gógol não se isenta das críticas à sociedade. Em algumas cartas presentes na edição da 34, coloca-se alvo dessas críticas também. Ele exalta e critica a Rússia ao mesmo tempo, e, quando está criticando, critica a si mesmo.
Não obstante termos acesso às cartas e a uma tradução de um ensaio de Donald Fanger, a edição da 34 disponibiliza capítulos do 2° livro, que foram preservados da tentativa de Gógol de queimar os manuscritos do 2º e do 3º livro. A intenção era fazer uma espécie de Divina Comédia russa; infelizmente, sem sucesso, já que ele faleceu antes de cumprir esse objetivo. Podemos ver os traços de um Purgatório no que nos é oferecido na 2ª parte, enquanto a 1ª parte é claramente o Inferno. É uma pena que não tenhamos acesso. É possível ver que Gógol lapidou o segundo em relação ao primeiro livro. Há poucos devaneios, mais explicações da índole das personagens, um autor pouco interativo, um caráter mais moralista. Imagino a incrível continuação que não pudemos ter.
A jornada de Tchítchikov é, afinal, uma jornada pela alma humana. As almas mortas são apenas representadas pelos servos? Não poderíamos pensar em uma sociedade russa tão decadente e caquética que estaria se matando? Morrendo aos poucos graças à hipocrisia e à burocracia e, principalmente, por conta do caráter das pessoas. Mas algum lado positivo as pessoas devem ter, já que era a intenção de Gógol chegar ao Paraíso.
Não tivemos a chance de chegar ao Paraíso, mas, felizmente, tivemos um gostinho do Inferno.
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