Euflauzino 04/12/2018As várias faces do mal
O início do livro é tão impactante que irei repeti-lo aqui. É com parágrafos assim que se ganha o leitor.
"É sempre assim. No gelo, primeiro se ouve a voz da Besta, depois se morre. Blocos de gelo e abismos idênticos àquele em que eu me encontrava estavam cheios de alpinistas e escaladores que tinham perdido as forças, a razão e por fim a vida por culpa daquela voz."
Fácil se apegar a um livro que rasga logo de cara nossa sensibilidade, deixando-nos suscetíveis ao que vem pela frente. Acidentes com alpinistas acontecem em todo momento e por inúmeros motivos: falta de conhecimento das técnicas, falta de conhecimento sobre o caminho, falta de preparo físico, pouca visibilidade, pouca oxigenação, excesso de confiança, estupidez. Cabe aos socorristas enfrentar este universo amedrontador em busca daqueles que iniciaram a jornada, mas não retornaram.
"O terror no olhar do rapaz paralisado por um ataque de pânico. A dor do pastor com a perna esmagada por um desmoronamento de pedras. O turista semicongelado. O casal perdido na neblina. Uma infinidade de ossos quebrados, bacias deslocadas, articulações destruídas, sangue, suor. Muitas lágrimas, poucos agradecimentos."
O livro A essência do mal (Intrínseca, 368 páginas) do italiano Luca D’Andrea trata justamente deste enfrentamento, seja por alguém treinado (socorrista), seja por um inexperiente (visitante), que se depara com forças que vão além da compreensão. Que energia possui lugares inóspitos da natureza que podem influenciar negativamente às pessoas?
Jeremiah Salinger e seu amigo Mike McMellan ganham a vida criando documentários, são astros em ascensão. Salinger escreve roteiros e Mike grava as imagens. Porém, Mike adoece e Salinger resolve ir em seu lugar gravar algumas cenas das montanhas de Siebenhoch. O helicóptero em que estão sofre um acidente e apenas Salinger sobrevive para carregar a culpa, um tormento e uma ideia fixa de que ao redor das montanhas existe algo desconhecido, uma força, um mal a que ele chama de Besta.
Jeremiah vai para Siebenhoch porque é lá que foi criada sua esposa. Este local fica ao norte da Itália fronteira com a Áustria, porém lá é uma colônia de alemães e austríacos. Jeremiah é americano e nunca se sentiu tão estrangeiro quanto em Siebenhoch, aliás todos que não nasceram lá são tratados como estrangeiros. Pequenos lugarejos têm seus segredos.
"Revire um pouco abaixo da superfície de um vilarejo de setecentas almas e você vai encontrar um ninho de cobras."
Depois do acidente do helicóptero ele é responsabilizado e hostilizado pelos moradores, aumentando sua sensação opressora de solidão e desconforto.
Excursionando com a filha pelo desfiladeiro ele ouve acidentalmente sobre a morte de três jovens há quase 30 anos. Os jovens foram brutalmente atacados e tiveram os membros arrancados, sendo que o assassino ou assassinos nunca foram encontrados.
"— Na guerra se mata. Caçando se mata. Matar é humano, mesmo que não se admita, e é justo que se busque impedir isso o máximo possível. Mas o que foi feito com aqueles três pobres garotos no Bletterbach em 1985 não era matar. Foi um massacre que de humano tinha bem pouco.
— Deus estava olhando para outro lado, naquele 28 de abril."
Desvendar este mistério torna-se a obsessão de Jeremiah. No Bletterbach há pegadas de fósseis pré-históricos. Haveria ali naquele local uma força oculta, um animal pré-histórico que conseguiu sobreviver vivendo nas cavernas?
site:
Leia mais em: http://www.lerparadivertir.com/2018/12/a-essencia-do-mal-luca-dandrea.html