Adriana Scarpin 02/07/2018"AINDA se lembra dos ratos
esmagados na bota do avô.
Recém-nascidos, eram massa frágil,
sem distinção de pele e ossos.
Macios como a moleira dos bebês.
Não viu os olhos da neta
mecânico em seu gesto de aniquilar.
O pai capturava uma rata.
Foi incapaz de matá-la.
O animal recusava a fuga
contornava a cria
e nos olhava, quase humano.
O homem acomodou os filhotes numa caixa,
sobre um pedaço de pano,
levou-os para longe dos olhos da casa.
Um homem sem vocação para o nojo
e a aversão.
Mas ele também usa coturnos.
A filha cresceu vira-lata, cadela faminta
buscando o amor instintivo dos ratos
para sempre
o amor impossível do pai."