Aione 29/06/2018Não Chore, Não é o mais recente lançamento de Mary Kubica no Brasil. O livro é o terceiro da autora editado pela Planeta, que também publicou A Garota Perfeita, romance de estreia de Kubica, e A Desconhecida.
Em Não Chore, Não a jovem Quinn acorda em um domingo e percebe que sua colega de apartamento, Esther, desapareceu. Dividida entre a incerteza de algo de grave ter acontecido e de a amiga simplesmente ter ido misteriosamente embora, Quinn começa a buscar indícios sobre o que pode ter acontecido. Paralelamente, a vários quilômetros de distância, Alex vive em uma pequena cidade e tem sua rotina afetada pela chegada de uma jovem, que imediatamente o atrai e a quem ele nomeia Pearl. Sem conseguir parar de prestar a atenção nela, ele pouco a pouco começa a vigiar seus passos, e o que começa como uma simples paixão, logo evolui para algo mais sombrio.
A narrativa de Não Chore, Não é construída em primeira pessoa alternando as perspectivas de Quinn e Alex. Assim, é como se duas histórias diferentes começassem a ser contadas, deixando ao leitor apenas sugestões de como elas podem estar interligadas. Apesar de tanto Quinn quanto Alex fornecerem bastantes informações sobre Esther e Pearl, bem como das situações vividas por cada um, minha impressão era de que suas narrativas revelavam muito mais sobre si próprios do que sobre as jovens por eles acompanhadas. Assim, me vi em muitos momentos me perguntando mais sobre eles do que sobre as garotas, o que criou em mim a expectativa de receber mais informações sobre os narradores. Fui frustrada, é claro, uma vez que a história não é sobre eles, ambos apenas são porta vozes da trama desenvolvida. Por um lado, a estratégia de Mary Kubica foi ótima ao desenvolver a narrativa dessa maneira, uma vez que tanto Quinn quanto Alex desconhecem os segredos de Esther e Pearl e, assim como o leitor, passam a conhecê-las conforme a história avança. Se a narrativa se desse pela perspectiva das garotas, os artifícios para ocultar os mistérios e criar o suspense deveriam ser outros.
Apesar de ter ficado curiosa pelo desfecho de Não Chore, Não e de não ter sido capaz de solucionar seu final, o livro acabou por me decepcionar. Em primeiro lugar, a leitura não me prendeu. Demorei para avançar as páginas simplesmente porque não conseguia me envolver: tudo parecia se desenrolar de forma muito monótona, de maneira que pouco me vi atenta ao que lia e deixei passar muitas informações relevantes para compreender a trama. Ao final, quando tudo foi revelado, precisei retornar os capítulos para reler passagens que haviam sido lidas superficialmente e só então entendi melhor o desenvolvimento do enredo. Não sei se eu teria conseguido solucionar o mistério, caso tivesse feito uma leitura realmente atenta.
Não apenas o livro não me prendeu, como o final também me decepcionou. Em partes, gostei de como Mary Kubica criou a história e uniu as pistas pouco a pouco para chegar ao clímax. Em termos de estrutura, Não Chore, Não não deixou a desejar. Porém, foi a construção dos personagens e suas motivações o que me incomodou: não consegui me convencer pela escolha que levou ao desenvolvimento do caso. A situação criada pela autora certamente é polêmica e nos faz questionar o que faríamos se estivéssemos na mesma situação da personagem em questão; contudo, a maneira de como o conflito é desenvolvido é rasa, a ponto de ter sido difícil que eu aceitasse sua justificativa. Dessa maneira, o final fez com que a história não me parecesse verossímil. Em vez de eu me ver dividida e compreendendo a dificuldade da situação, apenas achei tudo um tanto quanto absurdo.
Assim, Não Chore, Não ficou aquém das minhas expectativas, criadas a partir da experiência positiva com A Garota Perfeita. De qualquer modo, ainda espero ler A Desconhecida para ter outra oportunidade de acompanhar o trabalho de Mary Kubica.
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