GH 30/01/2017
Liberi
Considerado o último trabalho da fase positiva de Niet, A Gaia Ciência nos trás o filósofo que é conhecido por sua acidez incontrolável, de um pensamento inconformado com os dogmas criados ao longo da história, um tanto quanto mais calmo, pode-se classificar assim. Também podemos observar ele como um ser humano um tanto quanto paradoxal em seus pensamentos e ideais, como qualquer outro humano, inclusive nós. Há vários momentos em suas páginas que ele se mostra um conservador ao extremo, chegando a alegar que ''o novo, em todas as circunstâncias, é o mal, pois é aquilo que deseja conquistar...''. É no mínimo curioso ler uma afirmação dessas, sabendo de toda sua história e todos os seus questionamentos e posicionamentos perante religião, por exemplo, ou sobre qualquer dogma cujo ele sempre se opôs. Aqui também se encontra a primeira abordagem do ''eterno retorno'', que a meu ver é disparado o melhor tema abordado do livro e também já abre presságio de alguns temas abordados futuramente.
Nietzsche sem dúvidas é um dos filósofos mais importantes da humanidade e sua imagem infelizmente é tratada de maneira errônea, pois o colocam juntos aos pessimistas, rótulo inverdadeiro e demonstra ignorância perante os rotuladores. Nietzsche não é pessimista e mais, sua filosofia é um convite a vida!
O poema introdutório ao livro já nos abastece a ponto de inicia-lo e não abandona-lo e não só isso, para degusta-lo de maneira eficaz, sem pressa. Demorei alguns meses para finalizar e absorver o máximo que eu podia, sem dúvidas nenhuma não absorvi tudo, mas o que assimilei me foi e é de grande utilidade.
''Vivo em minha própria casa
Jamais imitei algo de alguém
E sempre ri de todos os mestres
Que nunca se riram de si também
(Inscrição sobre minha porta)''
E deixo aqui o que em minha opinião é um dos melhores se não o melhor aforismo do livro, a abordagem do eterno retorno:
''E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?'' (Pág. 179, aforismo 341)