Silvana.Freitas 20/03/2022
"O Livro do Desassossego", é nada mais que uma espécie de diário de um tal Bernardo Soares, um ajudante de guarda-livros, que nele registra suas impressões, reflexões, angústias e, sim, alguns poucos fatos cuja relevância nem de longe alcança as sensações e devaneios motivados no escritor.
Quando comecei a ler a obra, a intenção era não iniciar outra antes de terminá-la. Não consegui. Por não tratar-se de uma história, mas de fragmentos cujos motes eram os mais diversos, às vezes era difícil terminar um e conseguir assimilar imediatamente o assunto do outro. Assim, lia um pouco por dia, intercalando com outras leituras mais fluidas.
O livro, em linhas gerais, é encantador. Apesar de alguns escritos serem tão carregados de adjetivos e descreverem coisas tão etéreas como os sonhos mais fantásticos do autor, a ponto de me sentir lendo uma língua estranha; outros me tocaram tão profundamente como se Bernardo fosse um espelho onde eu conseguisse finalmente me ver. Em vários momentos, as imagens e reflexões me deixaram numa espécie de estado meditativo, onde não conseguia pensar em outra coisa como que elevada acima da realidade que me cerca.
A leitura vale a pena, não só pela beleza do texto, mas principalmente pelo movimento que provoca dentro da gente, pelo desassossego tão prazeroso que nos leva durante a leitura e nos devolve outros à vida de todo dia, quando fechamos o livro.