Grace Borges 11/12/2020Livro inteligente e confusoLivro inteligente e confuso. A linguagem que Atwood usa para dar voz a Penélope é quase atual. Como se tivesse acontecido esse infortúnio épico no dia de ontem. Se vc vai ler achando que vai ler um "poema de Homero", fico feliz em te dizer que não vai ser nada disso. Penélope está morta, vagando pelos Campos Elíseos (céu grego, por assim dizer) e está narrando sua "odisseia" mais de 3 mil anos depois. Está contando a sua versão dos fatos, e tirando o véu de acontecimentos, digamos, mais fantásticos e "regidos pelos deuses"
"Odisseu residia numa ilha encantada, como hóspede de uma deusa, diziam alguns; ela transformara seus marinheiros em porcos (...), e os dois deliravam ao fazer amor todas as noites; que nada, diziam outros, era só um puteiro chic e ele tomava dinheiro da cafetina"
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Isso, pra mim, é o melhor do livro, o desvelamento da mitologia por parte de Penélope, que agora não é mais a Rainha chorosa, viúva sem nunca ter sido, que está narrando. Penélope tem sua versão dos fatos e diz todo tempo que "acredita nas histórias de Odisseu, pq é melhor do que não ter nada pra contar, porém ela tem a sua voz e a sua versão contada por ela, sendo essa "a verdade".
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Outra parte importante dessa narrativa fica por conta do Coro das 12 escravas assassinadas por Odisseu. Quem são essa escravas, "doces criaturas", e o que elas teriam feito para merecer morrer? Leia e descubra vc mesma. Acredito que vai ficar cheia de caraminholas na cabeça por horas, como eu estou agora, no momento em que escrevo essa "resenha".