PedroSF 29/07/2023
Caderno de memórias que ultrapassam a autora
Resgatando suas memórias de infância durante o período em que as revoltas anticoloniais na África eram ascendentes, Isabela Figueiredo mostra, a partir de sua história pessoal, o extrato das relações contemporâneas como um todo. Sendo filha de um colonialista e vivendo em Moçambique, vemos uma relação de pai e filha muito conturbada, onde os sentimentos de amor, repulsa e nojo se misturam em uma narrativa carregada das mais intensas emoções e descrições, elevando o que seriam apenas momentos corriqueiros do dia a dia para um patamar geral de eterno conflito. Socialmente falando, é um retrato dos mais crus e realistas que poderíamos ter sobre esse período histórico, que vemos ressoar em todos aqueles que são, diretamente ou não, impactados. Por não possuir uma linha cronológica realmente posta, além de sua linguagem muitas vezes contemplativa e cheia dos mais diversos significados, o leitor precisa estar sempre em alerta para não perder a essência da leitura. Para finalizar, não poderia deixar de recomendar para aqueles que gostariam de uma leitura intensa, mas real.