A dama dos Romances 19/04/2024RepresentatividadeUma autista escrevendo uma resenha de um livro escrito por uma autista e cuja personagem principal é autista.
Falemos de representatividade. Stella, a personagem principal, é uma autista adulta (sim, nós crescemos) que já passou por todas as dificuldades infantis descritas pelos médicos e encontrou um lugar para si. O trabalho a ancora no mundo, é seu hiperfoco, é aquilo que a faz seguir.
Nós, autistas, temos hiperfocos: assuntos que dominamos e que facilmente nos tomam todo o tempo, preenchendo nosso cérebro de neurotransmissores de prazer. Eles nos movem. No caso da personagem, os padrões matemáticos.
A dificuldade relacional é uma das marcas do autismo, um de seus antigos tripés de diagnóstico e, portanto, Stella o tem. Ela encara isso como um problema a ser resolvida da forma como encara o mundo, de uma visão lógica e quantificada. Assim, contrata os serviços de Michael. E inicia-se um romance como esperaríamos, mas permeado por todas as características que envolvem um relacionamento com um de nós: rigidez mental, hipersensibilidade ao toque, e outros.
Foi a primeira vez que li um livro com uma protagonista com características semelhantes às minhas e a de tantas outras mulheres autistas. Sim, nós amamos, sofremos, fazemos besteiras como todas as outras mulheres desse mundo e temos uma luta dupla, invisível: conosco mesmas e nossas dificuldades e com o mundo externo. A preocupação de Stella sobre "tratar diferente" é real e nos passa pela cabeça
Esse livro me representou. E mostrou que há espaço para que falemos