Ba Lima 10/01/2024
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Resenha
Essa grande obra de Machado de Assis retrata a vida do personagem Brás Cubas, no qual começa a relatar uma espécie de biografia de sua vida através de memórias. O autor, já falecido, começa falando sobre sua morte, sobre o emplasto (que nada mais era do que um medicamento destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade), sobre como e quando morreu, sobre seu antigo amor chamado Vigília, seus delírios, seu nascimento (no dia 20 de outubro de 1805), as expectativas de seus familiares em relação ao seu futuro, seu primeiro amor (Marcela), sua viagem a Coimbra, a volta ao Rio e tantos outros mais acontecimentos de sua vida.
O que me atraiu em Brás Cubas foram seus pensamentos e opiniões, confesso que na maior parte do tempo o considerei um cínico, contudo, ele exprime muito bem o egoísmo humano, a angústia e a luxúria, ele deixava claro quais eram seus interesses de acordo com a atitude que viria ou não a tomar, por exemplo, quando idealizou o emplasto, confessou que visava acima de tudo, a fama e o reconhecimento, além de lucro, evidentemente. Ademais, quando Brás entre em um delírio e vê toda a humanidade, narra suas características, entre elas: '' a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, [...] a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza....''. Como o próprio narrador diz: '' Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana''.
Outro exemplo, quando o pai de Cubas propõe que ele se case, o personagem deixa claro que esse não é seu objetivo, entretanto afirma que uma posição política e uma esposa formosa eram bens dignos de apreço, tal fato evidencia o quanto ele só pensava em si mesmo.
Em alguns outros momentos, Brás realizou algumas boas ações, como ajudar alguém, e se orgulha disso, não por ter tomado alguma atitude generosa, mas sim por sentir se superior, por esperar algo em troca, por acreditar que é um ser iluminado e devido a isso, receberá alguma recompensa. Esse livro é o retrato do homem em sua forma mais real, automaticamente, sua forma mais egoísta.
O defunto aborda temas e assuntos pelos quais me identifiquei muito, acredito que isso tenha sido um dos fatores pelos quais me apaixonei pelo livro e principalmente, pela obra ter se tornado a minha favorita, entre eles está o amor da glória, o que eu interpretei como o amor à conquistas, amor à bens materiais, amor ao sucesso. Outro pensamento que também reconheci for o da opinião, acredito que o autor quis dizer que, enquanto vivos, evitamos opinar sobre algo temendo um julgamento, escondemos o que nos vem a consciência e quando morremos, estamos livres para expressar os pensamentos, já que não haverão julgamentos ou críticas de outros.
Não obstante, a forma como Machado escreveu essas memórias foi fantástica, ele dialoga com o leitor, faz recomendações, dá conselhos, aborda seus ideais, e simplesmente interrompe um assunto e inicia um outro completamente distinto com a maior naturalidade, naturalidade pela qual somente Machado consegue fazer, tornando a obra mais vivida, única e singular. Dito isso, podemos todos concordar que Machado de Assis é o melhor escritor brasileiro.
Outras coisas mais me fizeram amar essa obra prima, como o romance às escondidas de Virgila e Cubas, mas não as direi aqui, para não antecipar a leitura daqueles que virão a conhecer o livro e também porque são muitas, e estou com preguiça. A questão é que eu queria ter palavras para explicar genialidade desse homem.