giovanna 25/08/2022
inumana
Em Japonês, Furukawa pode significar "queda de uma ferramenta", ou até mesmo "ferramenta completa". Keiko pode ser "treinamento,prática". Amo quando os livros trazem nomes significativos, não poderia descrever a personagem de melhor maneira. Shihara pode vir de "útero", "pagamento", "assédio"... Sayaka Murata é um gênio.
Eu deveria ter lido esse livro há muito tempo para aulas da faculdade, mas devo confessar que quando a vontade aparece é tudo muito mais gostoso. A leitura é deliciosa, por mais incômoda que seja.
Não sou especialista, mas tenho a grande impressão de que Keiko esteja dentro do espectro autista. Ela mostra não compreender aquilo que vemos como normas da sociedade, portanto copia aqueles que a cercam. Como a própria personagem diz, ela não é humana ou normal, é uma trabalhadora de konbini.
Existem passagens super cruas que comparam a humanidade à animais e amontoados de carne (e mentiu?), além da clássica retomada de Shihara sobre como "tudo é mais difícil para os homens desde a idade das pedras". Ele é um incel. Nojento e detestável. Mas é impossível negar sua importância na narrativa. Ele é um ponto que causa distúrbio na rotina de Keiko: também excluído, diferentemente da mulher, ele não aceita bem ser colocado como o esquisito. Há essa repetição de o que "eles" (a sociedade "normal") vão pensar. A maior ironia se dá quando Shihara, que tanto parece querer não seguir o que "eles" pensam, começa a espelhar em Furukawa os mesmos pensamentos e projeções idealistas.
Toda a história é entremeada desses pensamentos da sociedade comum, e te fazem questionar o quê (ou quem) determina o certo e o errado. Quem escreveu o manual de regras não escritas?
Esse livro me deu uma rasteira.
Leiam, leiam, leiam, leiam, por favor. Preciso conversar com alguém sobre ele!!!!!!!