Caroline Meirelles 17/03/2022Antes de humana, trabalho em uma loja de conveniênciaComo começar a explicar esse livro? Sim, é bizarro, é estranho, é incômodo, mas essa é a proposta da autora.
Keiko trabalha em uma loja de conveniência e essa é sua vida há 18 anos. Enquanto para outras pessoas um trabalho de meio período em uma loja de bairro seria apenas um degrau na escada, para ela é tudo. Ela respira e é parte da loja. Tudo que ela come é de lá, tudo que ela faz é pensar nessa loja, todas as pessoas que conhece, tirando 2 amigas e sua família, trabalham lá.
A junção de Keiko com a loja é algo muito interessante, como muitas pessoas se definem pelos seus trabalhos, respiram por isso, vivem por isso, e não só usam do dinheiro para viver. A autora sabe criar um panorama tão vívido que eu mesma sentia a loja ao ouvir o áudiolivro.
Keiko também não pensa em se casar, formar uma família, nem em trocar de emprego, ela só existe pela loja. E isso incomoda muito as pessoas, o fato de que ela está bem em viver sua vida vista como medíocre para muitos. Então ela tenta se adaptar e o livro mostra o que acontece depois disso.
É simples, a escrita é bem dinâmica, sei que não é um livro para todos, porque me deixou incomodada no início, mas MUITO curiosa e extraí coisas boas do livro, como a pressão da sociedade; como as pessoas preferem que a outra tenha uma vida podre, mas "normal" pelos parâmetros (a pessoa fica mais feliz por você ter um casamento ruim do que você dizer que não quer se casar com ninguém); como nos moldamos nas pessoas à nossa volta; o sentimento de pertencimento e como o trabalho pode literalmente te definir como pessoa.
A capa é brilhante, a personagem principal como um alimento qualquer de uma loja de conveniência, pois ela É a loja. Um livro caricato, muito diferente, mas que poderia ser uma bíblia de 500 páginas e ainda assim não conseguiria trazer a mensagem como a autora fez.