Mateus 19/05/2024
A busca por propósito em um mundo esquisito
"Naquele momento, pela primeira vez eu fazia parte do mundo. Acabo de nascer, pensei. Sem dúvida, aquele dia marcou meu nascimento como uma peça no mecanismo do mundo". Pensamento de Keiko Furukura após começar a trabalhar na Konbini.
Os costumes sociais, aspirações, desejos e sonhos comuns constituem metas arraigadas no imaginário popular. Sem dúvida o casamento, o relacionamento familiar e social, e o sucesso profissional são os temas estruturantes para que um indivíduo seja considerado normal. Existe uma espécie de check list social. Quanto mais marcações uma pessoa tiver nessa lista, mais respeito terá perante seus semelhantes.
Mas o que poderia acontecer a uma pessoa não entende e não vê necessidade de aderir a esses costumes? Provavelmente seria excluída, a menos que adquira habilidades para transitar entre dois mundos.
Em seu mundo particular, seus valores são definidos por você mesmo. Você não cria tudo do zero, até porque seria impossível, mas sim, após reflexão, seleciona viver aquilo que realmente tem significado.
Talvez namorar ou casar não faça sentido, ou quem sabe trabalhar em uma grande multinacional e receber um alto salário, que apenas uma pequena porcentagem de seu país tenha acesso, não te chame atenção. Não é que tudo isso seja ruim em si mesmo, ter condições financeiras que te dê oportunidade de viajar o mundo é muito divertido! Mas a baixa frequência da utilização das malas de viagem não parece incomodar algumas pessoas.
No outro mundo, o público, as pessoas gostam de fazer o check list social dos outros. Dessa forma conseguem medir sucesso e decidir se devem receber aquele indivíduo em seu meio. Do lado oposto, para quem não passar no teste, a pena é cruel. Banimento e exclusão.
A personagem principal do livro é Keiko Furukura que, desde criança, apresenta dificuldade em entender certos comportamentos sociais e tem reações diferentes do que normalmente se esperaria. Assim, ela enxerga tudo através de uma análise bastante racional. Não demorou muito para entrar em diversos problemas por causa disso, mas ela também conseguiu driblar essa dificuldade utilizando de sua ótima capacidade de observação.
Quando mais jovem ela começa a trabalhar na Konbini e ali ela encontra um dos propósitos de sua vida: o trabalho. Por meio dele ela finalmente se torna uma peça funcional naquela estranha máquina chamada mundo. Ocorre que as pressões sociais nunca dão trégua, para cada momento da vida existem deveres que devem ser respondidos.
Assim, acompanhamos Keiko tentando responder a esses deveres. Sua inabilidade social talvez faça que enxergue justamente as coisas como são, mas o sentimento de solidão e de que estamos decepcionando as pessoas que amamos não é fácil de lidar. Será possível viver entre esses dois mundos?