César Belardi 18/08/2020
NIBELUNGOS E HOBBITS POR TODOS OS LADOS!
Repertório é tudo! Se não concordar, estará exercendo seu direito de opinião, mas pense bem, antes...
Como soa, para você, dizer que nos áureos tempos depois da criação, alguns habitantes deste pequeno mundo cheio de estranhezas se empenharam em criar e possuir o objeto máximo de controle de tudo e de todos? A forma desse objeto? Bem, precisaria ser algo poderoso, prático de portar... uma lança, um machado... talvez um escudo... melhor ainda! UM ANEL!!!
E esse anel dominaria o Universo! Poder absoluto! Forjado com material surrupiado de seus guardiões! Com essa origem, dificilmente seria um artefato cheio de amor, paz e compaixão nas mãos de seu portador. Seria, sim, uma arma cobiçada por muitos psicopatas com delírios divinos. Mesmo aqueles poucos que ainda se mantivessem distantes dessa aberração, sofreriam seus efeitos. Deuses, humanos, em suas vidas simples e bucólicas, teriam seus valores e amores distorcidos.
Talvez, neste ponto, você já esteja com vontade de rever toda a saga de Tolkien, em livros e filmes, dos pequenos Hobbits contra o Senhor de Todos os Anéis. Bom, seguem duas dicas: a primeira é, sim, reveja os filmes, de preferência a trilogia original na versão do diretor, que passa de 10 horas, mas é uma obra digna de qualquer fã, será um final de semana inesquecível!
A segunda é procurar a quadrinização espetacular de P. Craig Russel para a ópera “O Anel do Nibelungo”! Se você aceitar a segunda sugestão, vá preparado para dedicar mais tempo a essa obra do que o final de semana com Frodo e Gandalf.
A leitura pode até ser breve, apesar do volume trazer toda a saga, originalmente lançada ao longo de meses em fascículos, mais tarde encadernada com primor pela editora Pipoca & Nanquim. A arte de Russel tem um toque de simplicidade, sem os exageros de sombra e luz digitais, chegando a parecer um traçado sem muita elaboração, o que é um engano estrondoso. Ele apenas trouxe para esse meio, das HQs, uma das maiores obras musicais de Richard Wagner. Ele adaptou uma ópera para os quadrinhos...
Sabendo disso, se aquele pequeno Nerd que vive em você ainda não despertou, quando isso acontecer, ele vai sugerir que você busque as referências originais... ôpa! Lá vem o repertório! E essas referências nada mais são do que as peças musicais de Wagner. É claro que não é possível ouvir uma ópera como ouviríamos MPB ou Rock. São peças mais longas, cheias de diálogos cantados (dependendo da versão que você encontrar, será alemão ou inglês) que exigem e merecem o acompanhamento do texto, o velho “libreto” dos idos do Século XX entregues na entrada do Teatro Municipal, para entender tudo com o cuidado merecido.
Você encontrará inúmeras referências, presentes na atualidade da Cultura Pop, Nerd e Geek. Talvez a mais evidente seja “A Cavalgada das Valquírias”, tornada popular no filme “Apocalypse Now” e novamente evocada em “Watchmen”, uma referência dupla.
É claro que você vai encontrar Tolkien, também! Com anões, magos, guerreiros desentendidos, dragões...
E, quando você visitar a Terra Média, depois do universo nórdico dos Nibelungos, tudo parecerá novo, de novo... não há crítica ou demérito algum nessas referências e semelhanças entre as duas obras e seus autores. São ímpares e espetaculares ao discutir a condição humana diante do poder, das paixões e do livre arbítrio. Tolkien, e Peter Jackson, fizeram a esquizofrenia de Gollum um dos piores pesadelos para alguém com princípios éticos e morais. Tanto os livros quanto os filmes, e a ópera com sua adaptação para os quadrinhos, nos mostram personagens fantásticos e fantasiosos vivendo os impasses comuns aos nossos tempos. Deuses sem escrúpulos, humanos deslumbrados, paixões desmedidas e por aí vai. Não pense que essas obras exploram só o que há de sórdido neste universo, se maneira alguma! Há, sempre, um toque de otimismo, de libertação, onde o que é bom – ainda que este conceito tenha se tornado subjetivo nestes nossos tempos – prevalece.
Uma última dose nessa saga pessoal que você poderá percorrer estará nos bastidores das obras. “O Anel do Nibelungo” oferece um capítulo final, fora da história, com desenhos e textos de Craig Russel sobre o seu processo de adaptação da ópera para os quadrinhos, além de alguns desenhos de estudo de personagens.
Pronto, agora você vai querer rever todo o Making Of do “Senhor dos Anéis”, também...
Repertório é tudo, inclusive diversão!