Rodrigo 09/03/2012
ACHANDO GRAÇA COMUM EM JOSÉ LINS DO RÊGO
"O Padre Amâncio estava ali no Açu porque amava a Deus. Ouvira D. Eufrásia dizendo: "Se Amâncio quisesse já era Bispo, um grande, um príncipe." E não. Ficava no Açu para aguentar aquele povo, aquela gente. Montava a cavalo para andar seis léguas com o tempo que houvesse (...) para salvar uma alma das profundezas do inferno. Se não fosse ele, teria fugido com Dioclécio, teria fugido com homem mais feliz do mundo. O que anda pela terra, o que amava mulheres lindas e vira um milagre, uma força de Deus se exercendo. Antônio Bento vacilava assim entre o Padre Amâncio e o mundo que Dinoclécio descobrira.
José Lins do Rêgo em PEDRA BONITA, pp 82
COMENTÁRIO MEU: Antônio Bento foi criado pelo amoroso, piedoso, altruísta e dedicado Padre Amâncio. Aquele homem sempre foi seu referencial de abnegação, amor a Deus. Realmente, este personagem ainda que fictício tem traços admiráveis de devoção e compaixão. Narra o autor que ele poderia ter ascendido na hierarquia, tornado-se se Bispo, mas preferiu continuar na pequena cidade, sofrendo com e por aquelas pessoas.
Entretanto, certo dia, o jovem se depara com um forasteiro, um cantador, cangaceiro, que narra história incríveis, recheadas de aventuras, mulheres, milagres, e tudo num ritmo alucinante e poético. Uma vida livre e libertina. Acontece que o referencial do jovem é abalado. Ele passa a admirar aquele homem, até mesmo em confronto com a imagem criada ao redor do Padre.
Uma perola literária que nos fala profundamente a respeito de nossa natureza humana, que parece se encantar mais com aventuras libertinas, coisas vãs que nada contribuem para o crescimento de outros, do que com o sacrifício pessoal, a humildade e o altruísmo sem vaidade.
Pensamos que a felicidade está na satisfação de nossos desejos egoístas. E passamos longe da real satisfação plena e perpetua que em está em Deus!
Já dizia o salmista:
Tu me farás conhecer a vereda da vida; na tua presença há plenitude de alegria; à tua mão direita há delícias perpetuamente. (Salmo 16:11)