Van 20/06/2020
Victor Capesius era um farmacêutico bem conhecido e querido entre seus clientes e amigos, sempre se preocupando com o bem estar de sua comunidade. Muitos dos seus chefes e clientes eram judeus, que apreciavam seu cuidado e ótimo atendimento. Foi vendedor de produtos farmacêuticos da Bayer, na Romênia, e juntou-se aos nazistas em 1943.
Sua história, então, tem uma mudança assustadora quando Auschwitz entra em seu caminho, mostrando um homem frio, insensível, oportunista e covarde. Alguém que teve poder e acesso à riquezas e foi corrompido por isso.
Capesius era o responsável pela farmácia em Auschwitz, armazenando e liberando o Zyklon B (gás utilizado nas câmaras) e dispensando substâncias que eram utilizadas pelos médicos em experimentos desumanos nos prisioneiros. Revirou malas e mandíbulas de prisioneiros mortos, procurando por joias e dentes de ouro. Seu objetivo era prover uma vida confortável após o fim da guerra. Também participou ativamente nas seleções dos recém-chegados ao campo. Como foi capaz de ignorar as súplicas e enviar para a câmara de gás seus antigos amigos e conhecidos?
A autora também nos conta do pacto entre os nazistas e o maior conglomerado da Alemanha, a I.G. Farben, que possuía patentes e pesquisas inovadoras e tinha a Bayer como sua subsidiária farmacêutica. Hitler tinha grandes planos para a Farben, mas antes buscou a exclusão de todos os cientistas judeus da empresa.
As grandes empresas se aproveitaram dos campos de concentração e financiaram experimentos ilegais em prisioneiros, causando a morte de muitos deles. Foi construído um complexo industrial que custou bilhões, consumia mais energia que a cidade de Berlim e se utilizava de trabalho escravo para seu crescimento, sendo um centro extremamente lucrativo.
A Farben enriqueceu imensamente com o Zyklon B, um pesticida cuja base é o cianeto. À princípio, era comercializado para fumegar roupas e alojamentos, mas seu poder letal foi descoberto com muito entusiasmo. Em 1943, o Zyklon B foi responsável por 70% dos negócios e 90% da produção foi para abastecer Auschwitz.
A maior parte do livro se dedica aos acontecimentos legais pós-guerra e as reviravoltas na vida de Capesius, que quase escapou completamente de seus crimes. O sistema judicial alemão me deixou profundamente triste, por seus pensamentos e relutância em julgar os nazistas. Não havia indignação, até o aparecimento de Herman Langbein (passou 4 anos em Auschwitz) e Fritz Bauer (promotor judeu) que lutaram incansavelmente por justiça.