Leonardo 04/07/2011
Disponível em: http://catalisecritica.wordpress.com
Há alguns anos, após a leitura de diversos títulos relacionados à seca no nordeste (puxando da memória, que não é muito boa, lembro de Vidas Secas, São Bernardo, Grande Sertão: Veredas, O Quinze, Essa Terra, Os Sertões, Sargento Getúlio [que não é sobre a seca, mas é sertanejo demais]), avivou-se em mim a velha chama, um apego à terra, o “orgulho de ser nordestino”. Quando era criança (e início da adolescência) não cheguei a sofrer como sofrem os personagens desses livros com a seca, mas sentia bem claramente as consequências dessa agente climático tão inclemente. Foram muitas as viagens com uma carroça puxada por um burro para pegar água em fontes, em poços artesianos. Muita roça que não deu o que era para ter dado. Muitas horas sob o sol “puxando terra pros pés”.
Por conta de uma ideia dada por um professor de Filosofia para o meu mestrado no PRODEMA (mestrado em Meio Ambiente da UFS, para quem não está ambientado), acabei voltando ao tema. A ideia dele, muito boa, aliás, envolvia Os Sertões, de Euclides da Cunha. Somado a isso, vi, em algum programa sobre literatura, que este ano era o centenário de Rachel de Queiroz, e resolvi reler O Quinze, que foi, aliás, o primeiro livro que comprei na vida, acho que em 1993.
Chegando a Brasília, surgiu a vontade de revisitar essas leituras da minha infância/adolescência, já que estaria em um grande sebo, com um enorme acervo. Comprei então Essa Terra, de Antonio Torres, que já havia lido, certamente, mas de cuja história não lembrava de ABSOLUTAMENTE NADA. Incrível como isso pode acontecer.
Lendo o livro como se o fizesse pela primeira vez, foi fundamental já ter lido Faulkner, já ter lido Enquanto Agonizo, de Faulkner, para ser bem exato.
Antonio Torres não esconde a influência do escritor americano. Não sei se o meu foco foi parcial, mas o que li foi um Enquanto Agonizo do nordeste.
Claro que isso é simplificar as coisas. Não conheço a obra de Antonio Torres, só este livro mesmo. Mas a temática de Enquanto Agonizo está lá:
Uma família se despedaçando, uma morte, uma narração meio insana, PERSONAGENS meio insanos, muito, muito regionalismo e, para completar, alguém faz um caixão. Este último elemento, ao meu ver, é uma homenagem de Antonio Torres à obra de Faulkner.
Engraçado que ao final da edição que li há um artigo escrito por uma professora de Literatura Brasileira em uma Universidade de Portugal, analisando a riqueza do romance, como ele aproveita e reconstrói todo o mito do sertanejo, a temática da seca etc. E ela não faz nenhuma menção a Faulkner!
Sem dúvida ela reconheceu essa ligação, mas seu foco estava na literatura do nordeste, literatura brasileira.
Ei! Era para falar do romance, afinal de contas!
A história é curta, mas não menos complexa. Uma família no sertão da Bahia às voltas com os problemas típicos da região, em especial a falta de dinheiro, vive a novidade do retorno, após vinte anos, do filho mais velho. Ele…
Esse primeiro fato importante do livro, contado ainda no início, dá toda a tonalidade da história, e sinto muito, mas não vou revelá-lo. Descubram por si mesmos!