Marcella.Martha 08/08/2019
Fascismo: Um alerta é uma leitura que, ainda que para muitos possa ser chover no molhado, se faz extremamente atual, e até necessária, no infeliz contexto Brasil pós-eleições 2018. Aliás, tenho certeza de que o nosso excelentíssimo presidente da república teria ganhado uma notinha no livro da Madeline Albright caso o mesmo tivesse sido escrito depois de outubro do de 2018. A quantidade de stories que eu fiz com passagens do livros e comentários como 'Hmmm, por que será que isso soa familiar???' ou 'Onde foi que eu vi isso mesmo????'....
Muito do que a Albright escreve aqui é história, e muito conhecida - ainda que não menos interessante por isso, especialmente com alguns detalhes de pronunciamentos, declarações e discursos de época que ela acrescenta. A ascenção do nazismo na Alemanha, do fascismo na Itália, do stalinismo na União Soviética, o McCartismo, a guerra da Coréia, a Guerra Fria, entre outros momentos. Imagino que, para o público americano, a quem o livro foi principalmente direcionado, muito disso seja novidade, visto que eles estudam praticamente nada de história e geografia política internacional. Para nós, brasileiros médios, que estamos cansados de ver isso na escola, muita coisa é só refresco para a memória.
Ainda assim, o livro tem muitas passagens extremamente interessantes. A Albright nasceu em 1937 na Tchecoslováquia, saiu do país com a família fugindo do nazismo, então tem uma vivência muito pessoal com a situação. Muitos parentes dela morreram em campos de concentração e o pai trabalhou durante toda a Segunda Guerra para o governo em exílio.
A Albright foi também Secretária de Estado dos EUA durante o governo Clinton, e tratou diretamente com muitas das figuras que ela fala sobre no livro, Putin, Orban, Chavez, Kim Jong-il, Milosevic. Esses detalhes de bastidores e impressões pessoais dela, enquanto pessoa que sentou à mesa para negociar e discutir política internacional com toda essa galera, são muito interessantes. E, enquanto passa essas impressões, ela vai tecendo a imagem que o fascismo tem nos dias atuais, para além daquela noção clássica de Hitler/Mussolini.
Mas muita coisa aqui precisa ser relevada ou relativizada. Por ter ocupado o cargo que ocupou, ela trata a política internacional dos EUA como "bem intencionada", apesar de criticar algumas coisas (e bater muito no governo Trump, logicamente). Fala que, apesar dos erros "de ambos os lados", os EUA defendiam a democracia contra a tirania da URSS durante a Guerra Fria (quando a gente sabe muito bem que o que o governo americano mais fez durante a Guerra Fria foi financiar milícias, golpes e ditaduras a torto e a direito por aí, especialmente na América Latina). Não tem praticamente crítica nenhuma aos governos Clinton e Obama - muito pelo contrário.
É uma boa leitura, que oferece um panorama bem interessante sobre o fascismo através dos séculos XX e XXI, abordando as diversas faces do mesmo na figura de presidentes, ditadores e autocratas em geral, mas que poupa muita gente que tem culpa no cartório (inclusive pelo "fenômeno" eleição do Trump).