Maria16577 06/11/2022
"Com os olhos vidrados conseguiu K. ainda ver como os senhores, mantendo-se muito próximos diante de seu rosto e apoiando-se face a face, observavam o desenlace. Disse:
– Como um cachorro! – era como se a vergonha fosse sobrevivê-lo."
(O Processo, Franz Kafka)
No Longer Human é indigesto e pela maior parte do tempo praticamente inalcançável. A escrita é objetiva e rápida demais sob qualquer parâmetro, tomada por frases carregadas de severidade e julgamento. Nada aqui parece natural: Yozo narra a sua história do ponto de vista de uma pessoa que se renegou por reiteradas vezes, e todas as suas falas parecem ter passado por um processo cíclico de previsão de possíveis julgamentos pelas outras pessoas.
Ainda nessa linha, mesmo os eventos narrados não parecem nem um pouco confiáveis, tanto por Yozo, em toda oportunidade, se retratar como uma pessoa inferior a qualquer ser humano, quanto por, ao mesmo tempo, ver todas as outras pessoas de forma simplista (segundo ele, não são tomadas pela angústia e dor profunda que ele sente desde sempre, e, portanto, devem ser menos complexas).
Mas a subjetividade (e mais, a prisão do narrador em suas múltiplas preconcepções) é clara desde o início, e contribui para uma experiência de leitura única. Não acho que tenha lido qualquer livro semelhante, e não acho que isso vai acontecer tão cedo.