spoiler visualizarLuis Claudio LA 13/08/2022
Vou com o autor até certo ponto, mas...
Eu comecei a ler este livro pensando que seria um livro escrito por psicólogos (se eu compreendi bem) como outros que li: Rápido e Devagar de Daniel Kahneman e também o Mindset da Carol S. Dweck ou Inteligência Emocional de Daniel Goleman, mas logo no início eu percebi que o autor falava muito de crença, o poder das orações e sobre a inteligência infinita... O autor em vários momentos usa a palavra "científico", mas... Um conhecimento científico é aquele produzido usando o método científico, certo? O método científico prevê que seja possível experimentar, refazer os passos do pesquisador e também fazer predições... Enfim... Lendo um pouco da biografia (aqui no Skoob mesmo) do autor, o Sr. Joseph Murphy, vi que ele é psicólogo... Entretanto, eu não classificaria esta obra como algo científico, embora ele use esta palavra várias vezes.
Eu consigo ir com o autor até certo ponto... Quanto ele fala que em nosso organismo estão todas as instruções de construção de todos os órgãos, eu consigo dar um salto de fé e acreditar no que ele diz. Ele argumenta que estamos constantemente em reconstrução. Nossas células da pele são trocadas quase que diariamente, as hemácias do sangue e até mesmo os ossos são trocados em cerca de 10 anos. Então, como estamos constantemente em reconstrução, as instruções para estas construções estão em algum lugar que não são acessíveis através do cérebro consciente, mas elas estão lá. Ok. Consigo, dando um salto de fé, chegar até aqui com o autor.
Se as instruções de construção estão dentro de nós e não podem ser acessadas de forma consciente, então o inconsciente as acessa, mas, de forma inconsciente, claro. Se houvesse uma forma de o consciente conversar com o inconsciente e delegar o conserto necessário, isso poderia acontecer. Ok. Consigo, com um salto de fé, acompanhar ele nesta ideia. Há um capítulo em que ele fala de fé ligado à religiões e como essas fés podem de fato curar as pessoas. Como as pessoas realmente, conscientemente, acreditam que serão curadas, esta mensagem é transmitida ao inconsciente que, tendo todas as instruções de construções, ele comanda o conserto do que não está bom. E isso independe se está em um templo católico, evangélico ou se está com a estátua do Buda sendo tocada por você. O que importa é você acreditar, ter fé, e a coisa toda pode acontecer porque o inconsciente, que tem todas as instruções de construção, consegue ir lá e resolver o problema. Novamente, com um salto de fé, consigo ir com o autor até aí.
Ele conta a história de uma pessoa cujo pai estava muito doente (não me lembro de cabeça a doença… talvez Tuberculose) e esta pessoa entregou ao pai uma cruz com um pedaço de madeira dentro e ele lhe disse que aquele pedaço de madeira era um pedaço da cruz que Jesus foi crucificado. O pai dele pegou aquela cruz, apertou-a contra o peito e no dia seguinte começou a melhorar e depois ficou bom… Entretanto esta pessoa disse depois que a madeira tinha sido pega na floresta próxima, mas o pai dele acreditou e isso foi o suficiente para que o consciente ‘falasse’ com o inconsciente e como este tem acesso a todos os protocolos de construção, foi lá e curou ele. Consigo ir com o autor, com um salto de fé, e acreditar que a cura realmente aconteceu por conta da fé daquele homem.
Agora, onde é que nossos caminhos se separam? Vamos lá…
Ele conta uma história de uma moça que, estando em Beverly Hills vê uma bolsa muito bonita em uma vitrine e se encanta com ela, mas depois de ver o preço ela começa a dizer “Não… Eu não consigo … “ e não termina de falar. Lembra da palestra do autor e fala para si mesma algo como “Esta bolsa será minha, eu a mereço e a inteligência infinita encontrará uma forma de eu ter ela” Algo assim… Estou escrevendo de cabeça… Aí, à noite, o noivo dela vai lhe encontrar e leva a ela um presente e eis que o presente era… Sabe o quê? A bolsa. Sim, e ele deixa a entender que foi a fé da moça que fez com que ela tivesse aquele bem… Mas ele não explica o que aconteceu… Ela já tinha falado para o noivo daquela bolsa antes? No dia? Não falou nada? Foi uma coincidência ou foi a fé dela?
Em outro momento uma senhora viúva mentaliza que quer um novo esposo com as características X e Y e três semanas depois ela vai a uma padaria e encontra esta pessoa lá… Entretanto, só ter esta espécie de pensamento positivo não é suficiente para encontrar a pessoa que procura. Ela precisa se fazer vista, estar bem vestida, cabelos arrumados etc. Ou não né? Vai que há alguém que está em busca justamente do contrário… Vai saber…
Ele conta a história de um pai que tinha uma filha muito doente e que vivia dizendo que daria um braço para que a filha dele ficasse boa… Então, um acidente ocorre, o pai tem um dos braços decepados e depois a filha dele melhora. E isso aconteceu porque, segundo o autor, o cérebro inconsciente entendeu que era aquilo que ele deveria fazer e sendo assim, devemos evitar pensamentos ruins… Algo nesta linha…
Ele fala de acessar uma inteligência coletiva… Que arqueólogos conseguem refazer os locais de escavações porque eles podem acessar e ver como eram aqueles locais antes das ruínas e soterramento. Penso ser improvável a existência de uma inteligência coletiva que tem todas as respostas e tudo o que já aconteceu em todos os lugares e todos os tempos. Não consigo aceitar a plausibilidade disso, mas…
Eu até pensei em testar o que ele estava propondo com a minha diabetes. Eu ia crer que, como as instruções de construções estão em meu corpo, poderia haver o reparo do meu pâncreas que, salvo engano, é onde a insulina é produzida (não sei o nome certo é este), mas recebi um balde de água fria quando ele, em um dos capítulos, diz que pode ser que não funcione o que queremos e o problema é que não estaríamos tendo fé suficiente… Eu não estaria acreditando realmente que a cura aconteceria… Algo nesta linha… Isso é muito parecido com o que vários pastores evangélicos falam… “Se você não for curado, é porque sua fé não foi o bastante ou não teve fé” e no meu experimento envolvendo meu pâncreas, inicialmente eu não teria fé mesmo… Eu queria testar se era possível eu deixar de ter diabetes fazendo as orações (científicas) antes de dormir e logo depois de acordar…
É possível que o certo seja ele e eu é que estou cego. ;-) Estou lendo um outro livro que cita este… Então, é possível que eu não esteja certo… Nem sei se existe um “certo”. Eu quase não li este livro, mas eu pensei que fosse uma oportunidade de eu estar fora da minha zona de conforto e insisti comigo mesmo para terminar a leitura, embora muitas vezes torcia o nariz e pensava comigo mesmo “não não… não é possível que ele realmente acredita que isso é como ele está dizendo… ele deve estar brincando”...
Entretanto, embora não tenha concordado com uma boa parte do que li, a leitura foi interessante e pode ser que ajude muitas pessoas. O fato de eu não acreditar em muita coisa não quer dizer que não seja verdade ou que não vai funcionar para você que esteja lendo. O livro está cheio de evidências anedóticas que são usada para um viés de confirmação. Assim como remédios placebos também cura, pode ser que para muitas pessoas faça total sentido o que o autor propõe. Leia lá e tire suas próprias conclusões. Estas são só as minhas. ;-)
Grande abraço
Luís Cláudio LA