Paulo Silas 21/04/2017Como o título sugere, Weber apresenta nessa pequena obra a ciência e a política como vocações. Através de seu pensamento metodológico próprio, o autor elabora um raciocínio estruturante que expõe a vocação atinente e necessária para cada um desses saberes.
Na primeira parte da obra, "A ciência como vocação", Weber parte da seguinte indagação: "quais são, no sentido material do termo, as condições de que se rodeia a ciência como vocação?". Daí que para expor uma manifestação em resposta à indagação, Weber busca na academia, em diversas minúcias e contextos, as origens e bases de como se forma o cientista. É feita inclusive uma comparação de como se forma o acadêmico na Alemanha e nos Estados Unidos, explicitando as diferenciações dos modelos adotados por cada país a fim de apresentar as consequências de cada um.
Para a ciência, há de se ter vocação. E a vocação, conforme ensina Weber, deve estar presente em dois aspectos: tanto nas qualificações enquanto cientista, como nas qualificações do professor. A tarefa desse duplo aspecto da vocação deve ser levada em conta, já que "é possível, ao mesmo tempo, eminente cientista e péssimo professor".
O labor, o ofício, o estudo, a pesquisa, enfim, tudo aquilo que está envolto na ciência, deve ser feito com paixão, pois somente assim haverá valor naquilo que se produz. E é justamente por meio do trabalho e da paixão que acaba por surgir a intuição, sendo tal tríade necessária para a produção científica.
Weber ainda dialoga acerca de outras questões que se fazem presentes na ciência: a necessidade de se libertar do intelectualismo da ciência, os pressupostos da ciência, a função do professor na sala de aula ("a tarefa primordial de um professor capaz é a de levar seus discípulos a reconhecerem que há fatos que produzem desconforto, assim entendidos os que são desagradáveis à opinião pessoal de um indivíduo"), a distinção de "professor" e "líder", e outras.
"A política como vocação" é a segunda parte da obra, onde o autor se debruça na temática da política enquanto vocação: seus meios de desempenho, seus requisitos para exercício, sua função teleológica, e outras questões.
É aqui que Weber dá o seu famoso conceito de Estado, pela perspectiva sociológica, aduzindo que "o Estado não se deixa definir a não ser pelo específico meio que lhe é peculiar, tal como é peculiar a todo outro agrupamento político, ou seja, o uso da coação física". Para tanto, o autor deixa claro que "a relação entre o Estado e a violência é particularmente íntima", consistindo o Estado em "uma relação de dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legítima".
Após uma análise bastante pormenorizada dos meandros do Estado em sua formação pelo aspecto sociológico, problematizando diversos temas envoltos à ideia de Estado, Weber conclui que "a ética da convicção e a ética da responsabilidade não se contrapõem, mas se completam e, em conjunto, foram o homem autêntico, isto é, um homem que pode aspirar à "vocação política"".
A política exige vocação, e tal vocação está calcada num árduo esforço, e esse esforço exige paixão e senso de proporções.
Diversos ensinamentos estão presentes nessa pequena grande obra de Weber. Parcimônia, necessidade de abertura ao diálogo e a imperiosa racionalização nas questões que dizem respeito não apenas à ciência e política, mas em todas aquelas de cunho social, ou seja, que digam respeito ao ser humano. Tudo isso e muito mais, cuja construção argumentativa criada dentro de um determinada contexto e período, permanece atual e em voga em muitos pontos.
Vale conferir!