Rony 02/01/2021
Mata virgem da literatura brasileira contemporânea
“Falta isso, né? Histórias para falar dessas relações que existem. (...) Só tão mostrando as historinhas em que o pessoal casa e vive feliz para sempre.”
E é justamente essa falta que torna este livro ainda mais significativo. É um golpe de ar fresco. É de uma sinceridade que impulsiona e alivia. Nestes contos eu me enxerguei e enxerguei alguns dos meus amigos, mas acima de tudo eu enxerguei verdade. Sobre comportamentos, sobre desejos, sobre dores.
Tobias Carvalho traça um mapa afetivo - ao meu conhecimento - inédito na literatura. Tal como o traçado da capa é algo que existe, mas não se consegue nomear, o autor percorre o caminho de um conto a outro, de um acontecimento a outro, de forma misteriosa, repetindo nomes ou objetos, fazendo pontes entre situações e significados. É uma linha tênue entre realidade e ficção, entre continuidade e independência, que ele caminha magistralmente, costurando uma imagem ampla e diversa da vida de jovens gays em grandes metrópoles brasileiras.
E eu entendo que talvez o livro não alcance a todo mundo tão facilmente. Entendo que algumas pessoas precisem de uma distinção mais clara entre o limite de um conto e o seguinte. Entendo que algumas pessoas precisem de mais acontecimento em cada um para sentirem que ele é válido por si só.
Mas esse livro me acertou em cheio. Nas coisas singelas que precisam ser escritas, lidas, refletidas. Nessas vivências que nos unem e nos deixam tão coisados.
Pra nós, às vezes, a distinção também não é clara.
Pra nós, às vezes, cada pequena coisa significa um mundo.