O Elmo do Horror

O Elmo do Horror Viktor Pelevin




Resenhas - O Elmo do Horror


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Carlozandre 21/01/2010

Jogos Literários Mortais
Oito pessoas acordam à frente de computadores em celas individuais cujas portas dão para labirintos misteriosos feitos de tábuas, corredores com aparelhos de tevê, igrejas gigantescas ou cercas-vivas. Não se conhecem, não sabem quem são, mas vão descobrindo que, na hora das refeições, podem apertar um botão e a refeição será servida de um compartimento misterioso ao lado do computador pessoal.

O único contato entre esses estranhos se dá por um programa de chat em rede que automaticamente dá a cada um deles um pseudônimo ridículo ao estilo da Internet: Monstradamus, Romeo-y-Cohiba, IsoldA, Sartrik, Ugli 666, Organizm (-:, Ariadna e Nutscracker. Eles trocam impressões por meio do chat, tentam saber quem são e como vieram parar ali, mas misteriosos moderadores do bate-papo os impedem de fornecer pela conversa qualquer informação pessoal, como nome, profissão, endereço, nacionalidade. Palavrões também são vetados. Aos poucos, descobrem que cada cela está conectada a um labirinto, e que eles podem estar servindo de cobaias para uma experiência com um misterioso aparelho de apreensão da realidade, o "Elmo do Horror".

Esse ponto de partida instigante, como um Jogos Mortais literário high-tech, é apenas o início do maravilhamento ao qual o escritor russo Victor Pelevin leva o leitor em O Elmo do Horror, uma fantástica recriação do mito de Teseu e o Minotauro. O livro, publicado faz uns meses pela Companhia das Letras, é parte da Coleção Mitos, edição em português da série idealizada pela casa estrangeira Canongate na qual um escritor relê um grande mito da literatura univesal sob uma ótica moderna.

Pelevin estrutura seu livro sob a forma de uma conversa pela internet, como eu já disse: a narração não é em terceira pessoa, mais assemelha-se às rubricas de uma peça de teatro, cada um dos personagens fala com os outros em primeira pessoa como acontece num chat de verdade. Esse tipo de artifício literário ainda recente na literatura tem rendido algumas peças constrangedoras, o que torna uma surpresa ler um livro tão dinâmico e ao mesmo tempo com linguagem tão cuidada, com cada personagem dotado de uma voz própria e discernível a partir de um determinado ponto.

Pelevin relê não apenas o mito de Teseu, mas o labirinto como construção arquetípica literária, em uma série de descobertas e discussões que os personagens têm entre si enquanto tentam escapar da sua misteriosa prisão. O tal "Elmo do Horror" assume a cada novo passo uma definição diferente, um mecanismo de controle da mente coletiva em um momento, uma representação metafórica do cérebro humano em outro, um capacete de realidade virtual mais adiante. Cada novo labirinto desvendado pelos estranhos prisioneiros oferece uma nova chave interpretativa para os mistérios não apenas da história mas da condição humana.

Pelevin é um autor russo contemporâneo que eu particularmente não conhecia, e que descobri nesse romance com imenso prazer. Numa pesquisa rápida, descobri que ele tem outros dois livros traduzidos no Brasil, pela Rocco, ambos desde agora livros atrás dos quais eu pretendo correr: A Metralhadora de Argila e A Vida dos Insetos.
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