Os contos

Os contos Lygia Fagundes Telles




Resenhas -


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Cassionei 09/03/2019

UMA DECEPÇÃO
A edição de Os contos, de Lygia Fagundes Telles (Companhia das Letras, 888 páginas) é frustrante. Não pelas histórias da grande escritora, obviamente, mas sim pela expectativa criada no leitor de ler os livros da juventude da autora, afinal o release da editora nos fala de contos completos. Pelo visto, não conseguiram fazer a rainha da literatura brasileira (que me perdoem os fãs de Clarice Lispector, que por sinal mereceu um livro de contos completos digno de sua importância) mudar de ideia, se é que tentaram, pois ela renega seus primeiros livros. É uma pena, pois nos resta apenas sonhar em ler, por exemplo, Porão e sobrado, de 1938, quando a autora tinha 15 anos de idade, cujos raros exemplares disponíveis são vendidos por mais de mil reais nos sebos.

Além do livro citado, Lygia Fagundes Telles também proibiu que fossem reeditados Praia viva (1944) e O cacto vermelho (1949), pois são, segundo ela, “obras juvenis e seria perda de tempo lê-las”. Histórias de desencontro (1958) e O jardim selvagem (1965) também não foram reeditados e somente alguns contos apareceram em coletâneas posteriores, numa sucessão de títulos que confunde o leitor. Embora respeite a decisão da escritora, não a aprovo porque priva seus admiradores de conhecer toda a obra, sua evolução e, porque não dizer, a possibilidade de perceber que mesmo um conto ruim da Lygia Fagundes Telles merece ser mais lido do que contos de “fenômenos” fabricados por agências e editoras, inclusive a própria Companhia das Letras (vide o caso do incensado Geovani Martins).

Cheguei um dia a perguntar numa das redes sociais da editora se não fariam uma edição dos contos de Lygia semelhante a que fizeram com a obra de Caio Fernando Abreu. Responderam que não estava nos planos. Quando anunciaram Os contos como se fosse uma edição com todos os relatos, criei uma expectativa muito grande, assim como deve ter acontecido com muitos leitores, e pensei que haviam atendido a meu pedido.

Mas não. Os livros da coletânea são todos os editados pela própria Companhia das Letras, desde Antes do baile verde (de 1970, mas com alguns contos de coletâneas anteriores) até O coração ardente. Este último, lançado em 2012, pode parecer, para um leitor desavisado, um livro de contos novos de Lygia, mas todos são na verdade de livros dos anos 50 e 60 que não foram reeditados. Nem mesmo o belo posfácio de Walnice Nogueira Galvão explica isso. Aliás, é o único texto crítico em uma importante publicação como essa.

Uma edição, portanto, que acrescenta muito pouco à obra da autora. É apenas uma reunião de alguns livros que ainda estão em catálogo somando-se a alguns contos esparsos. O que poderia ter sido uma bela homenagem em vida para nossa grande escritora, torna-se apenas mais um título na sua bibliografia. Merece ainda mais do que isso.

site: https://cassionei.blogspot.com/2018/12/uma-decepcao.html
Mariana 13/05/2019minha estante
Ótimas colocações!! Parabéns!!


Cassionei 24/07/2019minha estante
Obrigado


Nanda 10/10/2019minha estante
Ao menos essa edição junta todos os livros
de contos já publicados rs.
Fiquei curiosa em saber sua opinião sobre a Clarice Lispector.


Italo Bernardo | @wesleyliterario 30/11/2019minha estante
Acho bem problemático culpar a edição e a editora, sendo que a própria autora proibiu a publicação desses primeiros escritos dela. Obviamente que todos nós queríamos ter acesso ao seus livros mais juvenis, realmente uma pena ela ter tomado essa decisão. No mais eu acho MARAVILHOSO ter todos os demais contos reunidos em um único lugar.


Jeh 07/04/2021minha estante
Confesso q tbm fui ludibriada pelo release, o que foi decepcionante. Mas como havia lido apenas "As Meninas", acabou não sendo uma perda para mim.


Filipe 27/06/2021minha estante
Essa confusão de livros e reedições também poderia ser melhor esclarecida. No mais, para quem é de São Paulo: na biblioteca da Universidade Mackenzie há uma cópia de "O cacto vermelho" para empréstimo. Eu li lá há uns quinze anos! Qualquer dia passo de novo para ver se alguns contos saíram nesse volume da Companhia (creio que "A confissão de Leontina" era dali; a verificar).


Gi 11/08/2021minha estante
Obrigada pelos esclarecimentos!


joedsonfrl 29/10/2021minha estante
Não faz nenhum sentindo essa crítica à edição. Como você mesmo pontuou, as obras citadas foram proibidas de publicação pela própria autora logo, o que Lygia deseja que seus leitores leiam, está aí disponível para tal.


Cassionei 12/11/2021minha estante
Joedson, está bem explicado o porquê da crítica.


Filipe 02/02/2022minha estante
Identifiquei outra ausência: o conto "O x do problema" (de "Seminário dos ratos") foi excluído, sem mais nem menos...


GeanPerius 07/04/2024minha estante
Não viaja cara, se a própria escritora proibiu alguns contos, tu queria o quê?




pl.tai 27/12/2022

Lygia, eu te amo!
Li essa antologia aos poucos, livro por livro, intercalando com outras leituras. Destaquei os meus contos preferidos de cada livro, mas a verdade é que não há nenhum que eu não tenha gostado. Todos são incríveis!

No entanto, "Invenção e Memória" teve uma quantidade de contos preferidos a mais, isso porque a mistura de realidade e ficção me fez identificar histórias verídicas da vida de Lygia, histórias que eu já tinha ouvido em entrevistas e palestras dela (todas assistidas on-line, não tive a oportunidade e o privilégio de vê-la pessoalmente). Eu amo como ela transbordava carisma ao contar seus "causos", mesmo quando os repetia em vários lugares. Ela falava com uma empolgação contagiante, uma simpatia que eu nunca antes tinha visto. Lembro-me dela contando a conversa que teve com Paulo Emílio sobre Capitu; o episódio em que falou para a professora sobre seu tio ter caído num vulcão; a inspiração para conto "Helga"...

Tirando "Invenção e Memória", porque me pegou de uma forma mais sentimental, "Antes do Baile Verde" foi o livro de contos que eu mais gostei. "Verde Lagarto Amarelo", inclusive, deve ser o conto que mais me deixou boquiaberta, tanto pela história quanto pela maestria com que foi escrito.

Olhando agora para o sumário e lendo o título de cada conto, percebo que, na verdade, eu amei todos eles.

Lygia faleceu esse ano, quando eu estava no meio da leitura desta antologia. Estava bem velhinha, 103 anos, mas o admirador sempre sente.
Joao 27/12/2022minha estante
De longe é minha contista preferida desse país. Ela é impressionante!


pl.tai 27/12/2022minha estante
Deusa da literatura nacional.




Pretti 29/06/2022

Maravilhoso ??
Foram dois meses de leitura, mas, enfim, terminei "Os contos", da Lygia Fagundes Telles.

A coleta tem 749 páginas e reúne os seguintes livros:
- Antes do baile verde (1970),
- Seminário dos ratos (1977),
- A estrutura da bolha de sabão (1991),
- A noite escura e mais eu (1995),
- Invenção e memória (2000) e
- Um coração ardente (2012)

Além de uma seção com mais 12 contos esparsos, publicados em revistas, jornais ou antologias.

Não é fácil comentar um livro que reúne tanta riqueza, mas o que acho que vale mencionar é que é excelente acompanhar o processo da Lygia no decorrer dos anos, a mudança no estilo, a diferença entre os livros. Há épocas em que a autora escreveu contos longuíssimos, em outras, teve um apreço especial por finalizar seus contos no ponto mais alto da expectativa da narrativa. Perceber esses "bolsões" de estilo é fascinante.

Outro ponto curioso é que, apesar de ser apaixonada por Clarice Lispector, me identifiquei muito com a racionalidade que a Lygia deixa transparecer em seus textos. As narrativas tendem a ter um ordenamento lógico muito claro, mesmo aquelas nas quais há momentos de divagação. O trabalho com a linguagem também é muito precioso, e as personagens são bastante diversas e humanas. Eu, que já admirava Lygia enormemente, saí deste livro venerando-a como a escritora gigantesca que foi.

Recomendadíssimo!

Nota: ?????

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Eduardo Rockwell 28/07/2022minha estante
Ela é incrível! Também sou apaixonado ????


Alê | @alexandrejjr 01/09/2022minha estante
749 páginas? Lesse a versão física ou a digital, Thays?




Wal - Ig Amor pela Literatura 02/02/2019

Perfeito!
Sempre gostei dos livros da Lygia; confesso, no entanto, que não era aficionada pela obra da autora, mas isso foi mudando aos poucos. Todos nós, dos igs literários, sabemos do imenso amor que o Synval, @synvalbarreiros, tem por tudo que diz respeito à Lygia – ele consegue fazer com que a gente queira conhecer mais e mais os seus livros – todos os dias, por meio de suas postagens, lembra-nos da grandeza dessa diva da Literatura. Foi assim que fui ficando cada vez mais interessada em conhecer sua escrita. Comprei vários livros dela e, recentemente, adquiri esse livro de contos.

Já havia lido muitos deles, mas fiz uma nova viagem ao universo criado pela genialidade da Lygia e, agora, compreendo perfeitamente bem toda a admiração que cerca sua obra. Há décadas, Lygia já escrevia o universo feminino sob um olhar moderno, destruindo o falso moralismo que sempre subjugava a mulher à visão da sociedade machista. Suas personagens carregam uma força imensa e caminham em um universo de monólogos potentes e desafiadores. A perfeição da autora não se restringiu a falar somente da temática feminina, ela abordou assuntos, na época polêmicos, como homossexualidade, adultério, drogas... além de escrever contos que uniram o fantástico à realidade do espaço urbano.

Alguns contos são inesquecíveis: "Uma branca sombra pálida"; "Apenas um saxofone"; "A confissão de Leontina"; "Que se chama solidão"; "O Cristo da Bahia"; "Helga"; "As cartas"; "Papoulas em feltro negro"; "As formigas"; "Se és capaz"; “A estrutura da bolha de sabão”; "Anão de Jardim"; "O menino", "O Jardim Selvagem" e tantos outros.

“Ele era a minha juventude mas naquele tempo eu não sabia, na hora a gente nunca sabe nem pode mesmo saber, fica tudo natural como o dia que sucede à noite, como o sol, a lua, eu era jovem e não pensava nisso como não pensava em respirar. Alguém por acaso fica atento ao ato de respirar? Fica, sim, mas quando a respiração se esculhamba. Então dá aquela tristeza, puxa, eu respirava tão bem...” – excerto do conto “Apenas um saxofone”.

A genialidade da Lygia esculhambou algumas certezas dentro de mim, mas fortaleceu outra: Lygia Fagundes Telles é eterna, atemporal, para sempre genial...
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Occult 01/08/2019

Excelente, sou suspeito para falar porque adoro Lygia e no entanto tinha lido só dois livros de contos dela, sendo assim a maioria foi uma grata novidade, passei vários meses refletindo e lendo sobre cada conto. .

Não se trata de todos os contos e pelo que sei não existirá uma edição completa, visto que a autora não gosta dos primeiros livros e não quis que fosse republicados, os contos aqui reúnem livros famosos da fase de maturidade literária de Lygia como Antes do baile Verde e Seminário dos Ratos. Alguns contos mais antigos foram republicados em uma nova seleção, como a do livro Coração Ardente aqui retratados e também como Contos esparsos, sendo apresentados no fim do livro.
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Fátima Lopes 12/08/2019

Sou leitora entusiasmada da autora há mais de quarenta anos;sua escrita é elegante , profunda e sem excessos .
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Delirium Nerd 17/08/2019

5 contos para conhecer a incrível prosa da autora
Lygia Fagundes Telles, grande escritora brasileira, possui uma prosa rica em detalhes e versatilidade, uma vez que aborda temas diversificados que vão do suspense ao romance e passam pela fragilidade das relações humanas e a condição de ser mulher na sociedade contemporânea; os contos são envoltos por um realismo fantástico que permeia nossos pensamentos, causa indagações e promove interpretações variadas sobre um mesmo ponto – há sempre um mistério, algo nas sombras, um sentimento inquietante, pairando pelo ar.

A prosa subjetiva e poética da autora encanta milhares de leitoras e leitores, das mais variadas idades, e precisa ser cada dia mais conhecida e relida, por apresentar temas necessários dentre diversas discussões. Suas personagens, na maior parte mulheres, dão vozes àquelas que conhecemos, diferentes entre si, mas igualmente cheias de bravura e deslumbramento perante o mundo.

1) Venha Ver o Pôr do Sol
O ex-namorado de Raquel, Ricardo, a convida para um passeio em um lugar um tanto inusitado: um cemitério abandonado. Os dois conversam sobre o presente de ambos, enquanto relembram fatos do passado e, ao passo que avançam no lugar, o clima fica gradativamente mais soturno; a promessa de se ver um lindo pôr do sol fica, aos poucos, mais distante e nebulosa. O desfecho deste conto é impressionante e serve como uma excelente porta de entrada para os escritos de Lygia. A obra, ainda, revela toda a podridão que pode derivar de um relacionamento abusivo e, principalmente, de uma masculinidade tóxica capaz de ir até às últimas consequências em função de um ego ferido.

O conto possui um ritmo que flui ao longo das páginas e a tensão crescente permite que a leitora ou o leitor fique angustiado para saber o que acontecerá em seu desfecho. Repare na construção do ambiente e em como a estética decrépita e invasiva encaixa-se na personalidade de Ricardo.

2) Os Objetos
Lorena e Miguel, um casal, conversam enquanto ela constrói, aos poucos, um colar de contas sobre a utilidade de certos objetos e em como estes mesmos objetos podem ser entendidos em paralelo à utilidade das pessoas que fazem parte de nossas vidas. O conto conversa sobre o ato de prestar atenção em quem faz parte do nosso convívio e sobre os problemas que a falta de comunicação, principalmente entre casais, pode gerar. Aqui, é interessante analisar a postura do personagem principal; querendo a atenção de sua amada a qualquer custo, comporta-se de modo infantil, ao passo que a mulher, claramente mais lúcida que ele, parece conhecê-lo bem e não dar a mínima para o comportamento (o que culmina na problemática do final).

O conto termina de forma que leitoras e leitores possam teorizar sobre o que acontece após o último ato de Miguel e a última conversa dos dois, regada por um teor melancólico e, de muitas formas, manipuladora por parte do homem. Este é o tipo de conto de Lygia no qual, por mais breve que seja, pode-se inferir muito sobre a construção psicológica dos personagens ali presentes, estando aberto a muitas interpretações.

3) As Formigas
Duas primas, uma estudante de direito e a outra de medicina, precisam pernoitar em um casarão muito estranho. A dona da hospedagem diz que o último hóspede do quarto em que as garotas ficariam, também estudante de medicina, havia deixado um caixote com ossos de um anão, nos quais fazia seus estudos. Somando o clima do local, muito sombrio, e a existência do caixote de ossos, as duas personagens passam a ser atormentadas por acontecimentos bizarros.

Este conto remete ao “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe, e ao universo da série Twin Peaks. A estranheza do local, que parece ter vida e observar as personagens, e a sucessão de acontecimentos surreais promovem uma aura de suspense que inicia-se no primeiro parágrafo e estende-se ao último. Um dos contos de mistério da autora mais cativante e divertido de se ler!

4) Herbarium
“Herbarium” narra as peregrinações de uma jovem em busca de plantas para a coleção de um primo botânico, uma visita querida ao sítio em que mora e, mais do que isto, fala sobre o despertar das primeiras paixões, sobre a fascinação que o outro nos causa e o ciúmes que pode despontar destas trocas; fascinada pela natureza por conta do parente, a garota narra suas incursões pela mata próxima à sua moradia e, em cada gesto, nos transmite a consciência de uma ancestralidade feminina e sobrenatural muito forte, tanto no local quanto nela mesma.

A forma como Lygia conduz as descobertas da personagem e seu despertar para um “eu” primitivo é magnífica. A garota pega-se pensando na relação entre a natureza e a clarividência que, em certo trecho, evidencia-se nela pela existência de uma parente curandeira da menina, que também a possui, e pela estreita relação entre a doença que o primo tem e a ideia da morte – tanto do corpo físico dele quanto do possível afastamento entre os dois algum dia.

5) A Caçada
Um homem vai a uma loja de antiguidades e apaixona-se por uma tapeçaria que ilustra um bosque, imerso nas profundezas da mata, um caçador. A fascinação que a peça promove no personagem é gigantesca e, após este primeiro contato, episódios delirantes começam a se desenrolar. O conto possui um ritmo cinematográfico e uma crescente de fatos que prende leitoras e leitores do início ao fim do texto; a obra lembra o romance “Rose Madder“, de Stephen King, no qual uma mulher que sofre abusos físicos e psicológicos do marido reconecta-se consigo mesma após encantar-se pelo misterioso quadro de uma guerreira.


site: https://deliriumnerd.com/2019/05/23/lygia-fagundes-telles-5-contos-para-conhecer-a-incrivel-prosa-da-autora/
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HonorLu 29/10/2019

Ai, Lygia
Minha madrinha literária, divisor de águas dentro de minha caminhada espiritual. Sou apaixonado, passaria horas falando sobre esses contos maravilhosos. Ganhei este livro do meu melhor amigo, o que atribui a ele um valor muito maior.
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mpin 21/05/2020

Lygia no auge
Essa coletânea nos traz o legado de Lygia de tudo quanto é jeito, dos anos 1970 até a atualidade. Particularmente, muitos dos meus contos favoritos são da coletânea Antes do baile verde: estes, em particular, dissecam a condição humana, as inseguranças, a visão dos personagens diante de seus mundos internos. São contos mais psicológicos. Além desses, nas outras coletâneas, há contos sensacionais dela, como Meia-noite em ponto em Xangai, Uma noite na barca (esse todo mundo leu nos livros escolares dos tempos de ensino fundamental), A confissão de Leontina, entre vários outros que não vou lembrar aqui. Em alguns momentos, Lygia experimenta com o fluxo de consciência, especialmente nos contos envolvendo famílias e os dilemas de suas protagonistas com elas. Outros são metalinguísticos, como a releitura do conto A missa do galo, de Machado de Assis, ou mesmo um conto em que ela e um dos maridos escrevem uma peça baseada em Dom Casmurro. Esses contos mais metalinguísticos trazem pouca coisa interessante, em minha humilde opinião, mas mostram momentos de experimentação da Lygia. Em linhas gerais, os contos mostram a evolução da prosa de Lygia e mostram sua expertise em retratar personagens do cotidiano das cidades, alguns bem suburbanos, inclusive, em seus anseios e contradições. Para os estudiosos de literatura, vale inclusive para analisar a obsessão da autora pela cor verde, usada de formas curiosas e enigmáticas. A prosa ora dialoga com o leitor, ora o desorienta, aproximando-se com elegância da oralidade e dando a muitos contos uma identidade única. Imperdível: são vários livros em um.
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Ju Ragni 17/07/2020

Excelente
Já tinha lido vários desses contos, em outras coletâneas, mas os reli agora e li pela primeira vez vários outros que ainda não conhecia, com o mesmo prazer... Conheci Lygia Fagundes Telles quando eu tinha 14 anos. Minha primeira leitura dela foi Ciranda de Pedra. Eu era terrivelmente romântica, queria descobrir as coisas do amor, e Lygia parecia um balde de água fria, mostrando a vida como ela era, crua, impiedosa. Nos romances ainda tinha uma veia de bondade, talvez um final meio feliz, mas os contos... Nos contos ela é dura, cortante, sem rodeios. Não tem piedade e nem disfarça nada, dá a real ali, na lata... Mas é um prazer imenso a sua leitura, recomendo muito.
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Léia Viana 02/01/2021

"Invento, mas invento com a secreta esperança de estar inventando certo. - Paulo Emílio Sales Gomes
Foi meu primeiro livro da Lygia Fagundes Telles e, além do vocabulário elegante que me surpreendeu bastante, a evolução - ou declínio - da sociedade, foram os pontos que mais me chamaram atenção durante a leitura, como esses fragmentos ao longo das páginas, como o conto: "Que se Chama Solidão" e o conto: "Suicídio na Granja" com esses dois trechos que gostei bastante: "...alguns justificam e se despedem através de cartas, telefonemas ou pequenos gestos - avisos que podem ser mascarados pedidos de socorro. Mas há outros que se vão no mais absoluto silêncio. Ele não deixou nem ao menos um bilhete?, Fica perguntando a família, a amante, o amigo, o vizinho e principalmente o cachorro que interroga com olhar ainda mais interrogativo do que o olhar humano, e ele?!" outra passagem também do mesmo conto que me prendeu: "Suicídio por justa causa e sem causa alguma e aí estaria o que podemos chamar de vocação, a simples vontade de atender ao chamado que vem lá das profundezas e se instala e prevalece pois não existe a vocação para o piano, para o futebol, para o teatro. Ai!... para política, Com a mesma força (evitei a palavra paixão) a vocação para a morte quando justificada pode virar uma conformação, Tinha os meus motivos! diz o próximo bem informado. Mas e aquele suicídio que abre (aparentemente) não tem nenhuma explicação? A morte obscura, que segue veredas indevassáveis na sua breve ou longa trajetória."


Alguns outros contos, como o: "Os Mortos" é triste, fala da morte em vida de um relacionamento e a tentativa vã de "salvá-lo". Os contos: "Espartilho", "A Confissão de Leontina", "Você Não Scha que Esfriou", "Se És Capaz" e "Um Coração Ardente", são o retrato da sociedade daquela época. Seus valores, preconceitos e rótulos.

Alguns desses contos me fizeram refletir muito na evolução e também no retrocesso da nossa sociedade. Pareço contraditória nesse parágrafo? Não estou sendo. Os contos foram publicados entre os anos de 70, 77, 90 e 2012, então é esperado sim a mudança no perfil nas relações humanas; mas, lendo esses contos percebo uma sociedade que vai se ajustando as novas experiências e culturas, mas que ainda está bem longe do ideal.

Recomendo muito a leitura!
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carlineeeee 14/04/2024

Nunca existiu e nem nunca vai existir alguém tão gigante quanto a lygia!!! fico até feliz que há livros de contos/relatos/etc fora dessa coletânea, assim sei que ainda não acabei de lê-los ?
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Sérgio 09/06/2021

Magnífica!
Prosa original plenamente sintonizada com narrativas perturbadoras.
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@thereader2408 13/07/2021

Antologia quase completa da dama da literatura brasileira
Todo ano eu escolho um autor que admiro bastante e me aprofundo em sua obra, esse é meu projeto de leitura "autor do ano", comecei em 2018 e em 2021 sigo com a dama da literatura Lygia Fagundes Telles. Ainda criança conheci os contos de Lygia nas aulas de gramática e me apaixonei e felizmente as releituras sobreviveram e posso dizer que a escrita da autora me agrada bastante.

Lygia é considerada uma das maiores escritoras brasileiras e, sobretudo, ficou conhecida pelos seus contos fantásticos. Esse livro foi publicado pela editora Companhia das letras que se propôs em organizar essa antologia de contos em uma edição especial que inclui, além de suas principais coletâneas, alguns escritos que há tempos estão fora de catálogo.

Na publicação temos acesso aos primeiros contos da autora, escritos em sua juventude, até sua produção mais madura, Os contos da Lygia, além de serem incríveis, apresentam uma escrita impecável. Além do posfácio com o texto O olhar de uma mulher escrito por Walnice Nogueira Galvão vemos uma mini biografia da autora no fim do livro que é dividido em 7 capítulos em 750 páginas (levei três meses lendo).

A coletânea é composta por Antes do Baile Verde, Seminário de Ratos, A estrutura da bolha de sabão, A noite mais escura que eu, A invenção da memória, Um coração ardente e contos esparsos. Todos esses capítulos são compostos de mais ou menos 10 a 15 contos e cada um você encontra, publicado pela companhia das letras, como livros separados. É mais prático para quem não tem o hábito de ler calhamaços como esse e quer muito conhecer a escrita da autora.

Lygia além de ter um papel fundamental para literatura nacional nos apresenta várias lições em seus contos que vão desde aproveitar os mais simples momentos da vida (Antes do baile verde) até a aprender amar (Um coração ardente), ter mais paciência (Eu era mudo e só) e ser um bom amigo (Biruta).

“A criação literária? O escritor pode ser louco, mas não enlouquece o leitor, ao contrário, pode até desviá-lo da loucura. O escritor pode ser corrompido, mas não corrompe. Pode ser solitário e triste e ainda assim vai alimentar o sonho daquele que está na solidão”.

@thereader2408

site: https://www.instagram.com/p/CRSUskprRbO/
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