Os contos

Os contos Lygia Fagundes Telles




Resenhas -


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Cassionei 09/03/2019

UMA DECEPÇÃO
A edição de Os contos, de Lygia Fagundes Telles (Companhia das Letras, 888 páginas) é frustrante. Não pelas histórias da grande escritora, obviamente, mas sim pela expectativa criada no leitor de ler os livros da juventude da autora, afinal o release da editora nos fala de contos completos. Pelo visto, não conseguiram fazer a rainha da literatura brasileira (que me perdoem os fãs de Clarice Lispector, que por sinal mereceu um livro de contos completos digno de sua importância) mudar de ideia, se é que tentaram, pois ela renega seus primeiros livros. É uma pena, pois nos resta apenas sonhar em ler, por exemplo, Porão e sobrado, de 1938, quando a autora tinha 15 anos de idade, cujos raros exemplares disponíveis são vendidos por mais de mil reais nos sebos.

Além do livro citado, Lygia Fagundes Telles também proibiu que fossem reeditados Praia viva (1944) e O cacto vermelho (1949), pois são, segundo ela, “obras juvenis e seria perda de tempo lê-las”. Histórias de desencontro (1958) e O jardim selvagem (1965) também não foram reeditados e somente alguns contos apareceram em coletâneas posteriores, numa sucessão de títulos que confunde o leitor. Embora respeite a decisão da escritora, não a aprovo porque priva seus admiradores de conhecer toda a obra, sua evolução e, porque não dizer, a possibilidade de perceber que mesmo um conto ruim da Lygia Fagundes Telles merece ser mais lido do que contos de “fenômenos” fabricados por agências e editoras, inclusive a própria Companhia das Letras (vide o caso do incensado Geovani Martins).

Cheguei um dia a perguntar numa das redes sociais da editora se não fariam uma edição dos contos de Lygia semelhante a que fizeram com a obra de Caio Fernando Abreu. Responderam que não estava nos planos. Quando anunciaram Os contos como se fosse uma edição com todos os relatos, criei uma expectativa muito grande, assim como deve ter acontecido com muitos leitores, e pensei que haviam atendido a meu pedido.

Mas não. Os livros da coletânea são todos os editados pela própria Companhia das Letras, desde Antes do baile verde (de 1970, mas com alguns contos de coletâneas anteriores) até O coração ardente. Este último, lançado em 2012, pode parecer, para um leitor desavisado, um livro de contos novos de Lygia, mas todos são na verdade de livros dos anos 50 e 60 que não foram reeditados. Nem mesmo o belo posfácio de Walnice Nogueira Galvão explica isso. Aliás, é o único texto crítico em uma importante publicação como essa.

Uma edição, portanto, que acrescenta muito pouco à obra da autora. É apenas uma reunião de alguns livros que ainda estão em catálogo somando-se a alguns contos esparsos. O que poderia ter sido uma bela homenagem em vida para nossa grande escritora, torna-se apenas mais um título na sua bibliografia. Merece ainda mais do que isso.

site: https://cassionei.blogspot.com/2018/12/uma-decepcao.html
Mariana 13/05/2019minha estante
Ótimas colocações!! Parabéns!!


Cassionei 24/07/2019minha estante
Obrigado


Nanda 10/10/2019minha estante
Ao menos essa edição junta todos os livros
de contos já publicados rs.
Fiquei curiosa em saber sua opinião sobre a Clarice Lispector.


Italo Bernardo | @wesleyliterario 30/11/2019minha estante
Acho bem problemático culpar a edição e a editora, sendo que a própria autora proibiu a publicação desses primeiros escritos dela. Obviamente que todos nós queríamos ter acesso ao seus livros mais juvenis, realmente uma pena ela ter tomado essa decisão. No mais eu acho MARAVILHOSO ter todos os demais contos reunidos em um único lugar.


Jeh 07/04/2021minha estante
Confesso q tbm fui ludibriada pelo release, o que foi decepcionante. Mas como havia lido apenas "As Meninas", acabou não sendo uma perda para mim.


Filipe 27/06/2021minha estante
Essa confusão de livros e reedições também poderia ser melhor esclarecida. No mais, para quem é de São Paulo: na biblioteca da Universidade Mackenzie há uma cópia de "O cacto vermelho" para empréstimo. Eu li lá há uns quinze anos! Qualquer dia passo de novo para ver se alguns contos saíram nesse volume da Companhia (creio que "A confissão de Leontina" era dali; a verificar).


Gi 11/08/2021minha estante
Obrigada pelos esclarecimentos!


joedsonfrl 29/10/2021minha estante
Não faz nenhum sentindo essa crítica à edição. Como você mesmo pontuou, as obras citadas foram proibidas de publicação pela própria autora logo, o que Lygia deseja que seus leitores leiam, está aí disponível para tal.


Cassionei 12/11/2021minha estante
Joedson, está bem explicado o porquê da crítica.


Filipe 02/02/2022minha estante
Identifiquei outra ausência: o conto "O x do problema" (de "Seminário dos ratos") foi excluído, sem mais nem menos...


GeanPerius 07/04/2024minha estante
Não viaja cara, se a própria escritora proibiu alguns contos, tu queria o quê?




pl.tai 27/12/2022

Lygia, eu te amo!
Li essa antologia aos poucos, livro por livro, intercalando com outras leituras. Destaquei os meus contos preferidos de cada livro, mas a verdade é que não há nenhum que eu não tenha gostado. Todos são incríveis!

No entanto, "Invenção e Memória" teve uma quantidade de contos preferidos a mais, isso porque a mistura de realidade e ficção me fez identificar histórias verídicas da vida de Lygia, histórias que eu já tinha ouvido em entrevistas e palestras dela (todas assistidas on-line, não tive a oportunidade e o privilégio de vê-la pessoalmente). Eu amo como ela transbordava carisma ao contar seus "causos", mesmo quando os repetia em vários lugares. Ela falava com uma empolgação contagiante, uma simpatia que eu nunca antes tinha visto. Lembro-me dela contando a conversa que teve com Paulo Emílio sobre Capitu; o episódio em que falou para a professora sobre seu tio ter caído num vulcão; a inspiração para conto "Helga"...

Tirando "Invenção e Memória", porque me pegou de uma forma mais sentimental, "Antes do Baile Verde" foi o livro de contos que eu mais gostei. "Verde Lagarto Amarelo", inclusive, deve ser o conto que mais me deixou boquiaberta, tanto pela história quanto pela maestria com que foi escrito.

Olhando agora para o sumário e lendo o título de cada conto, percebo que, na verdade, eu amei todos eles.

Lygia faleceu esse ano, quando eu estava no meio da leitura desta antologia. Estava bem velhinha, 103 anos, mas o admirador sempre sente.
Joao 27/12/2022minha estante
De longe é minha contista preferida desse país. Ela é impressionante!


pl.tai 27/12/2022minha estante
Deusa da literatura nacional.




Nado 31/12/2023

Lygia Fagundes Telles é de longe a minha autora preferida, tudo dela funciona para mim. Fiz questão de ler os contos aos poucos para curtir a sua maestria com as palavras durante o ano inteiro. Revisitarei sempre esses textos... agora de forma aleatória. Claro, revisitando seus romances e memórias sempre e para sempre ?
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@thereader2408 13/07/2021

Antologia quase completa da dama da literatura brasileira
Todo ano eu escolho um autor que admiro bastante e me aprofundo em sua obra, esse é meu projeto de leitura "autor do ano", comecei em 2018 e em 2021 sigo com a dama da literatura Lygia Fagundes Telles. Ainda criança conheci os contos de Lygia nas aulas de gramática e me apaixonei e felizmente as releituras sobreviveram e posso dizer que a escrita da autora me agrada bastante.

Lygia é considerada uma das maiores escritoras brasileiras e, sobretudo, ficou conhecida pelos seus contos fantásticos. Esse livro foi publicado pela editora Companhia das letras que se propôs em organizar essa antologia de contos em uma edição especial que inclui, além de suas principais coletâneas, alguns escritos que há tempos estão fora de catálogo.

Na publicação temos acesso aos primeiros contos da autora, escritos em sua juventude, até sua produção mais madura, Os contos da Lygia, além de serem incríveis, apresentam uma escrita impecável. Além do posfácio com o texto O olhar de uma mulher escrito por Walnice Nogueira Galvão vemos uma mini biografia da autora no fim do livro que é dividido em 7 capítulos em 750 páginas (levei três meses lendo).

A coletânea é composta por Antes do Baile Verde, Seminário de Ratos, A estrutura da bolha de sabão, A noite mais escura que eu, A invenção da memória, Um coração ardente e contos esparsos. Todos esses capítulos são compostos de mais ou menos 10 a 15 contos e cada um você encontra, publicado pela companhia das letras, como livros separados. É mais prático para quem não tem o hábito de ler calhamaços como esse e quer muito conhecer a escrita da autora.

Lygia além de ter um papel fundamental para literatura nacional nos apresenta várias lições em seus contos que vão desde aproveitar os mais simples momentos da vida (Antes do baile verde) até a aprender amar (Um coração ardente), ter mais paciência (Eu era mudo e só) e ser um bom amigo (Biruta).

“A criação literária? O escritor pode ser louco, mas não enlouquece o leitor, ao contrário, pode até desviá-lo da loucura. O escritor pode ser corrompido, mas não corrompe. Pode ser solitário e triste e ainda assim vai alimentar o sonho daquele que está na solidão”.

@thereader2408

site: https://www.instagram.com/p/CRSUskprRbO/
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mpin 21/05/2020

Lygia no auge
Essa coletânea nos traz o legado de Lygia de tudo quanto é jeito, dos anos 1970 até a atualidade. Particularmente, muitos dos meus contos favoritos são da coletânea Antes do baile verde: estes, em particular, dissecam a condição humana, as inseguranças, a visão dos personagens diante de seus mundos internos. São contos mais psicológicos. Além desses, nas outras coletâneas, há contos sensacionais dela, como Meia-noite em ponto em Xangai, Uma noite na barca (esse todo mundo leu nos livros escolares dos tempos de ensino fundamental), A confissão de Leontina, entre vários outros que não vou lembrar aqui. Em alguns momentos, Lygia experimenta com o fluxo de consciência, especialmente nos contos envolvendo famílias e os dilemas de suas protagonistas com elas. Outros são metalinguísticos, como a releitura do conto A missa do galo, de Machado de Assis, ou mesmo um conto em que ela e um dos maridos escrevem uma peça baseada em Dom Casmurro. Esses contos mais metalinguísticos trazem pouca coisa interessante, em minha humilde opinião, mas mostram momentos de experimentação da Lygia. Em linhas gerais, os contos mostram a evolução da prosa de Lygia e mostram sua expertise em retratar personagens do cotidiano das cidades, alguns bem suburbanos, inclusive, em seus anseios e contradições. Para os estudiosos de literatura, vale inclusive para analisar a obsessão da autora pela cor verde, usada de formas curiosas e enigmáticas. A prosa ora dialoga com o leitor, ora o desorienta, aproximando-se com elegância da oralidade e dando a muitos contos uma identidade única. Imperdível: são vários livros em um.
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Vitória Romeiro 05/02/2023

lygia eu te amo!!!
definitivamente o melhor livro que li até o presente momento.
é o primeiro contato que tenho com essa escritora brasileira, sem dúvida a melhor contista que já li.
tirando um conto ou outro que não me pegou muito mesmo assim a escrita que lygia possui não te deixa cair no tédio e acaba sendo um livro coeso e encantador a cada página lida.
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Paulo Henrique 26/09/2021

Perfeito do início ao fim.
Esse livro magistral traz 86 contos de Lygia, que percorrem toda carreira da escritora e traz ao leitor tudo de perfeito que um(a) escrito(a) pode produzir. No meu caso selecionei 12 que me fizeram pensar muito e a me perguntar como alguém consegue extrair das palavras tanta perfeição.
Entra para a lista seletíssima do meus favoritos e assim permanecerá.
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Delirium Nerd 17/08/2019

5 contos para conhecer a incrível prosa da autora
Lygia Fagundes Telles, grande escritora brasileira, possui uma prosa rica em detalhes e versatilidade, uma vez que aborda temas diversificados que vão do suspense ao romance e passam pela fragilidade das relações humanas e a condição de ser mulher na sociedade contemporânea; os contos são envoltos por um realismo fantástico que permeia nossos pensamentos, causa indagações e promove interpretações variadas sobre um mesmo ponto – há sempre um mistério, algo nas sombras, um sentimento inquietante, pairando pelo ar.

A prosa subjetiva e poética da autora encanta milhares de leitoras e leitores, das mais variadas idades, e precisa ser cada dia mais conhecida e relida, por apresentar temas necessários dentre diversas discussões. Suas personagens, na maior parte mulheres, dão vozes àquelas que conhecemos, diferentes entre si, mas igualmente cheias de bravura e deslumbramento perante o mundo.

1) Venha Ver o Pôr do Sol
O ex-namorado de Raquel, Ricardo, a convida para um passeio em um lugar um tanto inusitado: um cemitério abandonado. Os dois conversam sobre o presente de ambos, enquanto relembram fatos do passado e, ao passo que avançam no lugar, o clima fica gradativamente mais soturno; a promessa de se ver um lindo pôr do sol fica, aos poucos, mais distante e nebulosa. O desfecho deste conto é impressionante e serve como uma excelente porta de entrada para os escritos de Lygia. A obra, ainda, revela toda a podridão que pode derivar de um relacionamento abusivo e, principalmente, de uma masculinidade tóxica capaz de ir até às últimas consequências em função de um ego ferido.

O conto possui um ritmo que flui ao longo das páginas e a tensão crescente permite que a leitora ou o leitor fique angustiado para saber o que acontecerá em seu desfecho. Repare na construção do ambiente e em como a estética decrépita e invasiva encaixa-se na personalidade de Ricardo.

2) Os Objetos
Lorena e Miguel, um casal, conversam enquanto ela constrói, aos poucos, um colar de contas sobre a utilidade de certos objetos e em como estes mesmos objetos podem ser entendidos em paralelo à utilidade das pessoas que fazem parte de nossas vidas. O conto conversa sobre o ato de prestar atenção em quem faz parte do nosso convívio e sobre os problemas que a falta de comunicação, principalmente entre casais, pode gerar. Aqui, é interessante analisar a postura do personagem principal; querendo a atenção de sua amada a qualquer custo, comporta-se de modo infantil, ao passo que a mulher, claramente mais lúcida que ele, parece conhecê-lo bem e não dar a mínima para o comportamento (o que culmina na problemática do final).

O conto termina de forma que leitoras e leitores possam teorizar sobre o que acontece após o último ato de Miguel e a última conversa dos dois, regada por um teor melancólico e, de muitas formas, manipuladora por parte do homem. Este é o tipo de conto de Lygia no qual, por mais breve que seja, pode-se inferir muito sobre a construção psicológica dos personagens ali presentes, estando aberto a muitas interpretações.

3) As Formigas
Duas primas, uma estudante de direito e a outra de medicina, precisam pernoitar em um casarão muito estranho. A dona da hospedagem diz que o último hóspede do quarto em que as garotas ficariam, também estudante de medicina, havia deixado um caixote com ossos de um anão, nos quais fazia seus estudos. Somando o clima do local, muito sombrio, e a existência do caixote de ossos, as duas personagens passam a ser atormentadas por acontecimentos bizarros.

Este conto remete ao “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe, e ao universo da série Twin Peaks. A estranheza do local, que parece ter vida e observar as personagens, e a sucessão de acontecimentos surreais promovem uma aura de suspense que inicia-se no primeiro parágrafo e estende-se ao último. Um dos contos de mistério da autora mais cativante e divertido de se ler!

4) Herbarium
“Herbarium” narra as peregrinações de uma jovem em busca de plantas para a coleção de um primo botânico, uma visita querida ao sítio em que mora e, mais do que isto, fala sobre o despertar das primeiras paixões, sobre a fascinação que o outro nos causa e o ciúmes que pode despontar destas trocas; fascinada pela natureza por conta do parente, a garota narra suas incursões pela mata próxima à sua moradia e, em cada gesto, nos transmite a consciência de uma ancestralidade feminina e sobrenatural muito forte, tanto no local quanto nela mesma.

A forma como Lygia conduz as descobertas da personagem e seu despertar para um “eu” primitivo é magnífica. A garota pega-se pensando na relação entre a natureza e a clarividência que, em certo trecho, evidencia-se nela pela existência de uma parente curandeira da menina, que também a possui, e pela estreita relação entre a doença que o primo tem e a ideia da morte – tanto do corpo físico dele quanto do possível afastamento entre os dois algum dia.

5) A Caçada
Um homem vai a uma loja de antiguidades e apaixona-se por uma tapeçaria que ilustra um bosque, imerso nas profundezas da mata, um caçador. A fascinação que a peça promove no personagem é gigantesca e, após este primeiro contato, episódios delirantes começam a se desenrolar. O conto possui um ritmo cinematográfico e uma crescente de fatos que prende leitoras e leitores do início ao fim do texto; a obra lembra o romance “Rose Madder“, de Stephen King, no qual uma mulher que sofre abusos físicos e psicológicos do marido reconecta-se consigo mesma após encantar-se pelo misterioso quadro de uma guerreira.


site: https://deliriumnerd.com/2019/05/23/lygia-fagundes-telles-5-contos-para-conhecer-a-incrivel-prosa-da-autora/
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Le 06/09/2022

Cativante.
Os contos de lygia, primeira vez que chorei diante de um livro . Incontáveis as vezes que gargalhei. Obrigada pela viagem, Lygia.
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Ju Ragni 17/07/2020

Excelente
Já tinha lido vários desses contos, em outras coletâneas, mas os reli agora e li pela primeira vez vários outros que ainda não conhecia, com o mesmo prazer... Conheci Lygia Fagundes Telles quando eu tinha 14 anos. Minha primeira leitura dela foi Ciranda de Pedra. Eu era terrivelmente romântica, queria descobrir as coisas do amor, e Lygia parecia um balde de água fria, mostrando a vida como ela era, crua, impiedosa. Nos romances ainda tinha uma veia de bondade, talvez um final meio feliz, mas os contos... Nos contos ela é dura, cortante, sem rodeios. Não tem piedade e nem disfarça nada, dá a real ali, na lata... Mas é um prazer imenso a sua leitura, recomendo muito.
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joaoggur 05/01/2023

Lygia era à frente de seu tempo!
Mergulhei na profunda literatura de Lygia Fagundes Telles, e não me arrependo nem um pouco. Tal qual Clarice Lispector, a autora consegue ter uma escrita estilizada, onde o fluxo de consciência dos personagens é intenso e extremamente difícil de acompanhar.

Nesse incrível volume, temos compilados alguns de seus mais famosos livros de contos. Mesmo faltando alguns livros que fãs mais tenazes gostariam de ler, temos aqui contos incríveis! (a literatura de Lygia pré-ditadura, com exceção de ?Ciranda de Pedra?, é uma certa incógnita: por conta do tempo, muitos de seus primeiros livros contistas acabaram se perdendo, uma grande perda para a literatura brasileira).

Meus contos favoritos foram:

- A caçada (Antes do Baile Verde)
- Venha ver o por do sol (Antes do Baile Verde)
- As formigas (Seminário dos Ratos)
- WM (Seminário dos Ratos)
- Noturno Amarelo (Seminário dos Ratos)
- A confissão de Leontina (A Estrutura da Bolha de Sabão)
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Rodrigo 30/09/2021

Perfeição
Descobrir a escrita de Lygia através de seus contos foi sensacional. Tive a ideia de ler um conto por dia e a experiência foi sensacional.
Conhecer a mulher, as famílias, o insólito da obra da autora transformou-me em seu fã.
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Wal - Ig Amor pela Literatura 02/02/2019

Perfeito!
Sempre gostei dos livros da Lygia; confesso, no entanto, que não era aficionada pela obra da autora, mas isso foi mudando aos poucos. Todos nós, dos igs literários, sabemos do imenso amor que o Synval, @synvalbarreiros, tem por tudo que diz respeito à Lygia – ele consegue fazer com que a gente queira conhecer mais e mais os seus livros – todos os dias, por meio de suas postagens, lembra-nos da grandeza dessa diva da Literatura. Foi assim que fui ficando cada vez mais interessada em conhecer sua escrita. Comprei vários livros dela e, recentemente, adquiri esse livro de contos.

Já havia lido muitos deles, mas fiz uma nova viagem ao universo criado pela genialidade da Lygia e, agora, compreendo perfeitamente bem toda a admiração que cerca sua obra. Há décadas, Lygia já escrevia o universo feminino sob um olhar moderno, destruindo o falso moralismo que sempre subjugava a mulher à visão da sociedade machista. Suas personagens carregam uma força imensa e caminham em um universo de monólogos potentes e desafiadores. A perfeição da autora não se restringiu a falar somente da temática feminina, ela abordou assuntos, na época polêmicos, como homossexualidade, adultério, drogas... além de escrever contos que uniram o fantástico à realidade do espaço urbano.

Alguns contos são inesquecíveis: "Uma branca sombra pálida"; "Apenas um saxofone"; "A confissão de Leontina"; "Que se chama solidão"; "O Cristo da Bahia"; "Helga"; "As cartas"; "Papoulas em feltro negro"; "As formigas"; "Se és capaz"; “A estrutura da bolha de sabão”; "Anão de Jardim"; "O menino", "O Jardim Selvagem" e tantos outros.

“Ele era a minha juventude mas naquele tempo eu não sabia, na hora a gente nunca sabe nem pode mesmo saber, fica tudo natural como o dia que sucede à noite, como o sol, a lua, eu era jovem e não pensava nisso como não pensava em respirar. Alguém por acaso fica atento ao ato de respirar? Fica, sim, mas quando a respiração se esculhamba. Então dá aquela tristeza, puxa, eu respirava tão bem...” – excerto do conto “Apenas um saxofone”.

A genialidade da Lygia esculhambou algumas certezas dentro de mim, mas fortaleceu outra: Lygia Fagundes Telles é eterna, atemporal, para sempre genial...
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Pretti 29/06/2022

Maravilhoso ??
Foram dois meses de leitura, mas, enfim, terminei "Os contos", da Lygia Fagundes Telles.

A coleta tem 749 páginas e reúne os seguintes livros:
- Antes do baile verde (1970),
- Seminário dos ratos (1977),
- A estrutura da bolha de sabão (1991),
- A noite escura e mais eu (1995),
- Invenção e memória (2000) e
- Um coração ardente (2012)

Além de uma seção com mais 12 contos esparsos, publicados em revistas, jornais ou antologias.

Não é fácil comentar um livro que reúne tanta riqueza, mas o que acho que vale mencionar é que é excelente acompanhar o processo da Lygia no decorrer dos anos, a mudança no estilo, a diferença entre os livros. Há épocas em que a autora escreveu contos longuíssimos, em outras, teve um apreço especial por finalizar seus contos no ponto mais alto da expectativa da narrativa. Perceber esses "bolsões" de estilo é fascinante.

Outro ponto curioso é que, apesar de ser apaixonada por Clarice Lispector, me identifiquei muito com a racionalidade que a Lygia deixa transparecer em seus textos. As narrativas tendem a ter um ordenamento lógico muito claro, mesmo aquelas nas quais há momentos de divagação. O trabalho com a linguagem também é muito precioso, e as personagens são bastante diversas e humanas. Eu, que já admirava Lygia enormemente, saí deste livro venerando-a como a escritora gigantesca que foi.

Recomendadíssimo!

Nota: ?????

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Eduardo Rockwell 28/07/2022minha estante
Ela é incrível! Também sou apaixonado ????


Alê | @alexandrejjr 01/09/2022minha estante
749 páginas? Lesse a versão física ou a digital, Thays?




de Paula 23/12/2021

Uma escritora digna de Nobel
Tive a oportunidade de ler Antes do Baile Verde a alguns contos selecionados na coletânea Pomba enamorada ou uma história de amor e outros contos escolhidos no ano de 2020 e confesso que até ler Lygia Fagundes Telles contista, não gostava muito do gênero, foi ela quem me abriu os olhos para este formato e a primeira autora com quem me deleitei neste sentido. Conheço os contos do Machado, por exemplo, que são tão longos a ponto de serem divididos em capítulos, onde alguns são publicados em livros únicos, por isso, a minha referência não era muito boa, porque para mim, o Machado era um novelista, não contista – mas, isso é algo que eu penso. O que me surpreendeu nos contos de Lygia é que ela é uma daquelas autoras de estilo único, como sua contemporânea, Clarice. A paulistana tem sua forma de contar histórias curtas que são marcantes e ao mesmo tempo únicas, deixando o julgamento de caráter dos personagens ou o encerramento da história a cargo do leitor. Ela conta sobre situações cotidianas, mas também se aventura pelo terror e fábula, sem medo de mostrar a verdadeira face das pessoas. Este livro traz em um único volume os famosos Antes do Baile Verde, Seminário dos Ratos, A estrutura da Bolha de Sabão, A noite escura e mais eu, Invenção e Memória, Um coração ardente e Contos esparsos. Mesmo que não contenha todos os contos da autora, são os que ela revisou e deixou ser republicado. Ela é uma mulher admirável, no auge dos seus 98 anos, a sua escrita não perde o vigor, a audácia e a acidez, além da sua lucidez de decidir como quer que o público leia suas histórias, isto é magnífico. Foi indicada ao prêmio Nobel de Literatura em 2016, não ganhou, mas no meu coração e no de todos que tiveram contato com um dos livros dela, Lygia sempre será a campeã. Deixo registrado alguns pontos observados nos livros e meus contos prediletos.

Antes do baile verde

Este livro eu confesso que não reli na edição única, por isso, trago os comentários feitos na resenha específica do livro apartado, que eu ainda concordo.
Os contos da Lygia não são parecidos com nada que você leu até hoje, porque eles são peculiares, de estilo único. O que eu mais gostei era de ir sem expectativas e ser maravilhada com tantas histórias realistas, de mágoa, vingança, traição, arrependimento, relações completamente destruídas e outras no marasmo, com episódios sem um desfecho explícito, cabendo ao leitor preencher as entrelinhas, ou simplesmente ir para o próximo conto, cabe a cada um o que fazer com as informações do conto.
As pessoas retratadas são humanas, cheias de pecados, imperfeições, sem nenhum ato heroico, mas facilmente identificáveis. Todo conto começa com uma sensação de calmaria, como se a vida estivesse da maneira que os personagens sempre almejaram, ou simplesmente estivessem acomodados com o que estava acontecendo, se deparam com as emoções borbulhantes por baixo da pele, trazendo à tona pensamentos e sentimentos guardados de uma maneira tão específica que acaba levando ao final do conto de maneira brilhante. Não há marasmo na leitura desta obra, simplesmente não é possível parar de ler na metade do conto, você precisa saber mais, mesmo que não vá ter uma resposta definitiva desenhada pela autora. Isso é magnífico, escrevendo não parece ser possível, mas é.
Esta edição conta com 18 contos, gostaria de citar os meus favoritos: Verde lagarto amarelo, Apenas um saxofone, O jardim selvagem, Natal na barca, Venha ver o pôr do sol, Eu era mudo e só, O Menino, são simplesmente sensacionais. O conto do natal tem ligação completa com a religião, mostrando os pontos do cristianismo desde o nascimento até a ressurreição, completamente diferente de tudo o que já vi. O conto Venha ver o pôr do sol é de terror, o que o torna uma experiência única, principalmente porque não se espera isso e ele foi estrategicamente colocado após o conto A Ceia, cujas narrativas se parecem a princípio. Todos os contos são ótimos, mas estes mereciam destaque.

Seminário dos ratos

Claramente Lygia foi amadurecendo na escrita e nos temas com o passar do tempo, é impossível não reparar que a qualidade do segundo livro é superior ao primeiro. Mesmo tendo gostado muito dos próximos, eu adorei Seminário dos ratos, acho que tem uma qualidade incrível, trata de temas importantes para o sistema político e social, além de contos marcantes.
O primeiro conto que me marcou muito foi A Sauna, como o narrador é cruel e maldoso, fazendo de tudo para chegar onde quer, sem remorso, apenas lembra do inconveniente que foi ter uma mulher simples que o amou e deu tudo por ele, para que ele se tornasse quem ele queria e foi descartada como uma sujeira que cola no solado do sapato e você consegue soltar esfregando-o no chão. Foi muito cruel e pesado, visceral e realista.
Senhor Diretor fala sobre a hipocrisia, principalmente das ditas mulheres belas, recatadas e do lar, que vivem de pudores e religiosidade para cima de todo mundo, criticando a sexualidade e todas as formas de representação feminina na sociedade, mas, por dentro gostariam de ser a atriz do filme com cena de sexo. É um fluxo de pensamento sobre uma mulher que vê revistas em banca de jornal e decide denunciá-las ao diretor da revista para que ele resolva a situação decadente, mesmo que isso seja pelo desejo obscuro de controlar as formas das pessoas se relacionarem intimamente, como se isso fosse a fonte de prazer dessas pessoas. Um ótimo conto.
Menções honrosas aos contos: As formigas (que loucura! Outro terror delicioso da autora), Tigrela e WM (lemos e ficamos no suspense para entender as minucias, um sobre quem é a tal Tigrela e o outro se os crimes cometidos são por conta de um transtorno dissociativo de personalidade, por fantasma ou de fato o que seja), Mão no ombro, A consulta e, claro, Seminário dos ratos.
O conto que dá nome ao livro é espetacular! Trata-se de uma fábula sobre os acontecimentos da ditadura militar, onde os golpistas são os ratos, que eliminaram os gatos e agora se refugiaram no interior (centro do país – Planalto Central – Brasília), onde ocorre uma mobilização para impedi-los de chegarem mais longe, mas eles acabam com tudo. Tem toques muito semelhantes ao Revolução dos Bichos, além de ter muitas camadas de interpretação. Lembrando que esse livro foi escrito e publicado na ditadura, passando pelos sensores da época. Com toda a certeza, se eu não tinha sido conquistada pela autora até aqui, este é sem dúvidas o melhor conto dela e sobre a ditadura militar, que foi uma realidade de 1964 a 1985, deixando um rastro de maldade e sangue na história do nosso país.

A estrutura da bolha de sabão

Neste os contos passam a ser mais profundos, complexos e até mesmo compridos. Dá para notar a maturidade da escrita da autora e provavelmente da pessoa Lygia Fagundes Telles, que após escrever Seminário dos ratos, estava pronta para o que viesse. Mesmo se tratando na maioria das vezes da burguesia ou a decadente classe média paulistana, Lygia introduz assuntos importantes em seus contos, o que auxiliam a entender melhor o contexto histórico da obra e ainda mais a crítica por traz do comportamento humano.
Já começa com A medalha, onde há um confronto de gerações, onde a filha quer viver sua vida e a mãe a critica, mas, a menina vai se casar no dia seguinte e estava com outro homem durante a noite toda, então, é bem difícil tomar um posicionamento, porque a noiva só faz isso porque o noivo é negro e segundo ela, não vai encontrar melhor partido. Normalmente os personagens da Lygia são repletos de lixo tóxico emanando de suas bocas, como esgoto, e neste conto não é diferente.
O espartilho é bem forte e fala sobre a decadência das famílias tradicionais paulistanas, sobre o apoio ao nazismo, o preconceito velado, as mentiras usadas para proteger os amados – cujas vidas eram podres, o racismo declarado, o controle sobre a vida da neta e a rebeldia do sangue que clamava por justiça pela sua ascendência. É muito específico, pesado, cheio de abuso psicológico e um dos maiores contos da Lygia, beira o tamanho de uma novela. Acredito que seja um dos melhores contos deste livro.
A confissão de Leontina é o meu favorito desta antologia. Conta sobre uma mulher simples, que vive da prostituição para se sustentar, após perder toda a família, exceto pelo primo mau caráter, e se vê metida em um caso de assassinato, a qual, ela é culpada. O conto é o relato desta mulher, simples e iletrada, que conta como chegou a este ponto e o que a vida lhe entregou mesmo em meio ao suor e as lágrimas derramadas desde a tenra infância. Me lembrou um pouco Torto Arado, a vida cruel do trabalhador do campo, assim como a história de Macabéa, quando foge da sua terra natal e vem tentar a vida no Rio de Janeiro. Muito crua e realista demais.
Menções aos contos Estrutura da Bolha de Sabão (sim, eu sei que não faz sentido!), e a Fuga. É um livro bom, mas os antecessores são muito melhores.

A noite escura e mais eu

Lygia estava mais introspectiva nestes contos, aparenta uma incursão mais pelo pensamento e caráter dos personagens do que as situações externas, como Seminário dos ratos e Estrutura da Bolha de Sabão. Além disso, ela tem coragem de trazer assuntos que eram verdadeiros tabus na época da publicação.
Meus favoritos nesta seleção são: Dolly (história de assassinato e liberdade feminina, assim como seu preço), O segredo, Papoulas em feltro negro e Anão de Jardim. Sobre Uma Branca sombra pálida, é sobre uma jovem lésbica ou bissexual, não fica muito explícito na história, que acaba se suicidando depois da mãe fazer uma grande pressão psicológica sobre ela, que agora é obrigada a dividir espaço no túmulo da filha com a amante dela, onde colocam rosas vermelhas (a namorada) e rosas brancas (a mãe). É bem triste e reflexivo, além de dar raiva da narradora por tanta falta de respeito com a própria filha.

Invenção e memória

Este é um dos livros reunidos que menos me marcou, embora seja muito bom. Acho que são os temas, que ao completar a sua maturidade, a autora permanece numa mesma linha de produção, o que já não gera a mesma novidade e suspense para ler o conto. Vale estacar: Que se chama solidão (acho que foi o pai da menina que fez isso), Suicídio na granja, Dança com o anjo (história de fantasma?), O Cristo da Bahia (e a conexão com um conto de fada de Oscar Wilde), Dia de dizer não, O menino e o velho (jornal sensacionalista, venha conferir esta história!), Rua Sabará, 400 (adorei o conto sobre Dom Casmurro e fiquei feliz com a análise sobre Bento e sua reação com a morte do filho, que um dia fora amado e querido antes das intrigas – para mim, senhor Bento Santiago é um psicopata, afinal, não tem um pingo de empatia naquele narrador não confiável), História de passarinho e Potyra (o realismo mágico emana nesta história, que se mescla de leve ao terror).

Um coração ardente

Como o título, estes contos são mais emocionais e viscerais, mas vou comentar apenas o conto que me sensibilizou e me lembrou de uma leitura incrível feita este ano. O conto é Biruta, que fala sobre um órfão adotado por uma família rica para ser o seu serviçal, junto com os demais empregados da casa, que tem um cachorro filhote que está naquela fase de troca de dentição que morde tudo e apronta todas. Como o próprio ser humano não vale nada para a família rica, menos ainda vale o cachorro dele e o desfecho da história é de cortar o coração, como o capítulo da Baleia em Vidas Secas. Emocionante e ao mesmo tempo reflexivo: quanto valemos aos olhos dos mais ricos?

Contos esparsos

Esta coletânea abrange contos de diversos momentos da carreira da autora, sendo possível identificar a mudança da escrita entre um texto e outro, inclusive a semelhança aos momentos das demais antologias. Quero destacar: O tesouro (uma caça ao tesouro na praia que vai dar numa cena de assassinato de uma jovem prostituta), O muro (os desafios da velhice e o retorno à infância, na viagem mística pré-morte, como a feita por Brás Cubas em suas Memórias Póstumas) e Hô-Hô (o ódio que eu tenho deste conto só perde para A sauna – ódio pelo personagem, porque a escrita é formidável).

O livro conta com uma fortuna crítica muito boa, além de contar sobre a vida da autora. Vale muito a pena a leitura, a apreciação e o saboreio destes contos. Tenho certeza que vou revisitá-los e provavelmente tudo isso aqui será modificado, assim como o é até hoje para a mãe deles, Lygia Fagundes Telles.
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