Carol 11/12/2020Impressões da CarolLivro: Aquele que é digno de ser amado {2017}
Autor: Abdellah Taïa {Marrocos, 1973-}
Tradução: Paulo Werneck
Editora: Nós
144p.
Das coisas que mais me fazem ser uma entusiasta de clubes de leituras é ter a oportunidade de ler um livro que, se não fosse por essa curadoria, provavelmente escaparia do meu radar.
É este o caso de "Aquele que é digno de ser amado", do marroquino Abdellah Taïa, lido para o clube LGBTQ+. Caso queiram conhecer o clube, procurem as arrobas @jamesthiago ou @lendoarte, no instagram.
Trata-se de um romance epistolar, que perpassa um período de 25 anos da vida de Ahmed, um homem árabe, de 40 anos, homossexual, vivendo em Paris. As cartas são datadas da mais recente à mais antiga, o que torna a leitura um mergulho no passado desse homem, numa tentativa de compreendê-lo.
O que leva uma pessoa a ser quem ela é? A agir como age? A amar como ama? Qual lugar esse homem exilado ocupa? O que é ser gay numa sociedade confessional como o Marrocos islâmico? O que é ser o outro numa França laica? Do que falamos quando falamos sobre submissão? E sobre poder?
São ao todo 4 cartas nas quais Abdellah Taïa não alivia pro leitor em momento algum. Sua escrita é direta, dura, seca e cheia de nuances. Ahmed é um homem marcado por suas origens e relações familiares e amorosas, é um homem factível e sua história nos comove porque, afinal, todos somos dignos de sermos amados.
Abdellah Taïa, ele mesmo, nascido no Marrocos e exilado na França, foi o primeiro escritor árabe a se assumir gay, abertamente. Para contextualizar a força desse ato, no Marrocos, a homossexualidade é crime e punida com até 3 anos de prisão e multa.
Se a literatura é esse exercício de se pôr no lugar de outrem, "Aquele que é digno de ser amado", é um belo exemplo do que de melhor a literatura contemporânea pode nos proporcionar. É um livro incômodo, mas pertinente. Recomendo!