Levantado do Chão

Levantado do Chão José Saramago




Resenhas - Levantado do Chão


43 encontrados | exibindo 31 a 43
1 | 2 | 3


Guga 11/09/2010

O que dizer deste livro? Saramago é perfeito ao contar os sofrimentos de pessoas desafortunadas que são vítimas dos grandes proprietários. É impossível não se emocionar em algumas cenas do livro, que renovou a liguagem e a estrutua narrativa, iniciando a famosa prosa saramaguiana, com parágrafos longos, pouca pontuação e falas empregadas de forma diferente.
Além de conter algumas sutis ironias, característica dos livro de Saramago.
Ou seja, perfeito. Não deixe de ler antes de morrer.
comentários(0)comente



Tórtoro 17/09/2010

“SARAMARGO” : LEVANTADO DO CHÃO

“Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava.”

José Saramago


Acaba de falecer, com repercussão na mídia mundial, o escritor português, Prêmio Nobel de Literatura – 1998, José Saramago, que chamou o Papa Bento XVI de “cínico” e disse que a “insolência reacionária” da Igreja precisa ser combatida com a “insolência da inteligência viva” .
E disse mais, quando esteve presente à capital italiana para divulgar o livro O Caderno: “que Ratzinger tenha a coragem de invocar a Deus para reforçar seu neomedievalismo universal , um Deus que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o absoluto cinismo intelectual” desta pessoa.
Controvérsias à parte, ler Saramago é, para mim, sempre uma experiência adoravelmente amarga.
Viver com ele a saga dos Mau-Tempo é viver a vida quase real — não as da nova novela da Globo — de uma família de trabalhadores rurais da região do Alentejo, no sul de Portugal, em cujos limites se passa o romance, desde o começo do século.
Trata-se de uma denúncia vigorosa da exploração do desemprego e da miséria e, ao mesmo tempo, da tomada de consciência política por parte do trabalhador rural: o aprendizado da luta pelo direito ao trabalho, pelas oito horas de jornada e pela posse útil da terra.
Pontuado por acontecimentos históricos de três quartos de século, esse romance consegue tecer um painel da burguesia fundiária (Lambertos, Albertos, Norbertos, Dagobertos, Bertos ...) , à medida que vai compondo a “biografia” dos Mau-Tempo (Domingos, Lara, João , Joaquim, Sara, Antônio, Faustina, Gracinda , Amélia ...) e da própria história de Portugal no século XX.
A família Mau-Tempo faz lembrar a família Buendía , dos Cem Anos de Solidão , de Gabriel Garcia Márquez , e a obra Os Sertões , de Guimarães Rosa, sem que Saramago renegue as suas mais autênticas raízes lusitanas, indo buscar inspiração no que de mais positivo a literatura portuguesa tem produzido ao longo dos séculos.
O padre Agamedes representa, na obra, a Igreja Católica Apostólica Romana e, como tal , é o tempo todo ironizado e criticado duramente por sua postura hipócrita e conivente com os poderosos latifundiários, ficando as beatas representadas na figura de Dona Clemência e a sua distribuição de comida aos pobres, às quartas e sábados.
O chefe quadrilheiro, José Gato, é comparado ao nosso Lampião (pag. 126) e o calvário de Germano Santos Vidigal parece homenagear a todos os torturados pelas ditaduras do mundo, inclusive os torturados pelo regime militar durante a década de sessenta/setenta , no Brasil: imagens terríveis testemunhadas por formigas que levantam o nariz , como cães.
João Calvedo , inspetor Paveia , algozes de João Mau-Tempo e representantes do DOI-CODI lusitano de Saramago, contrastam em atitude com o gesto cristão do casal Ricardo Reis e Ermelinda , na acolhida ao João comunista, que paga pelo preço de ter-se encontrado com Manuel Dias da Costa, líder revolucionário que viaja de bicicleta, e por ser amigo de Sigismundo Canastro.
Enfim , como afirmou Saramago, esse livro é um simples romance, com gente, conflitos, alguns amores, muitos sacrifícios e grande fomes, as vitórias e os desastres, a aprendizagem da transformação, e mortes. É um livro que quer aproximar-se da vida, e essa seria sua mais merecida explicação.
São trezentas e sessenta e cinco páginas, uma para cada dia do ano, e que fazem sonhar, nessa época de Natal, um mundo melhor.


ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

comentários(0)comente



Ana Emilia 09/03/2014

"Levantado do chão" é uma bela homenagem aos trabalhadores de todo o mundo. Saramago usa a saga da família Mau-Tempo para contar as agruras dos trabalhadores rurais portugueses desde o fim da Monarquia até a Revolução dos Cravos e sua luta injusta contra o latifúndio.

Começamos acompanhando Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição, em um eterno imigrar. Domingos não é nenhum exemplo de marido e acaba recaindo sobre Sara a incumbência de cuidar só dos três filho, entre ele João Mau-Tempo, que se tornará um homem bem diferente do pai.

O tempo passa, mas no latifúndio, mesmo após a República, tudo continua igual. Os trabalhadores, porém, começam a e levantar contra o reino de injustiças a que estão submetidos. Um levante lento, mas definitivo.

Saramago mostra toda sua genialidade, por exemplo, ao descrever uma cena de tortura pela ótica de uma formiga!
comentários(0)comente



Lívia 19/06/2015

Quem é rico mora na praia, mas quem trabalha não tem onde morar

Eles se levantam bem antes do sol nascer e voltam para cama quase à hora de se levantar. Pegam na enxada e só a largam bem depois do sol posto. Eles não conhecem domingos, nem feriados, nem dias santos. Eles só conhecem o trabalho. E a fome. E a miséria. Mas ainda assim, sonham.
Levantado do Chão é um romance sobre a formação do Alentejo, região no sul de Portugal, a partir da narrativa da vida uma família de trabalhadores rurais, os Mau-Tempo. Além da história dessa família até quatro gerações, Saramago também denuncia a fome, a miséria, a exploração do trabalho e o desemprego a que os trabalhadores rurais estavam submetidos no começo do século até algum tempo depois da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974. Ao mesmo tempo, comoventemente, a tomada de consciência política por parte dos trabalhadores que, embora miseráveis, fatigados e famintos não deixaram de sonhar com a liberdade, e foi o sonho que os moveu a lutar bravamente por oito horas de trabalho diário, por quarenta escudos de salário, por melhores condições de trabalho, por ter a liberdade de comemorarem livremente o primeiro de Maio, e, sobretudo, por dignidade.
A história se passa na pequena vila de Monte Lavre, onde vivem trabalhadores rurais e para onde vão os fundadores da família, Sara da Conceição e Domingos Mau-Tempo.
Seria redundante dizer que Saramago é brilhante em suas metáforas e sua ironia, o livro é repleto delas. Mas o que me chama atenção são as mulheres da história. Ele cria mulheres fortes, submissas e trabalhadoras, mas, ao mesmo tempo, doces e apaixonadas, como Gracinda Mau-Tempo e sua linda história com Manuel Espada, um amor prático, real, sem idealizações dignas de poesias, mas linda e sublime como nunca vi em nenhuma outra história.
Levantado do Chão, como o próprio nome sugere, é uma história de superação, de luta, de sonhos. Homens e mulheres que se levantaram do chão e a ele nunca mais retornaram.
“Todos os dias os homens se levantam de suas camas, todas as noites se deitam nelas, e dizer camas é dizer o que de cama faz as vezes, todos os dias se sentam diante do alimento ou da vontade de o ter suficiente, todos os dias acendem e apagam uma luz, debaixo da rosa do sol não há nada de novo.” (p. 319).
comentários(0)comente



Debora.Vilar 11/04/2020

Sustentabilidade e família
Este romance conta a história da família Mau Tempo. Apesar do monótono cenário campestre, tudo transforma-se menos a miséria dos trabalhadores que lutam por seus direitos, e o latifúndio é testemunha ocular das assolações dos pobres.
A família faz o que pode para sobreviver, superando até os genes adulterado de realeza, a tendência ao vício, e a opressão da tortura. O latifúndio é quase um personagem, ali está a observar todo o desenrolar da luta por posse e poder, que nesse caso significam o mesmo.

Este romance mescla fatos sociais da História de Portugal, os fatos poderiam ser também de qualquer parte do mundo que estavam a par da Guerra fria. Nesta guerra ideológica, foi acima de tudo uma guerra de classes, no imaginário de muitos o que estava em jogo era a liberdade (ou a perda dela, com relação a bens materiais), mas na verdade o que se estava lutando era a igualdade de direitos cidadãos, de oportunidade para tomada de decisão ideológica inclusive (sair da tutela do patrão), e no contexto da obra da luta por igualdade em adquirir direitos trabalhistas flexíveis e de Saúde e Educação, o mínimo para o desenvolvimento humano.

Enfim o tempo passa, mas a luta pelo trabalho digno, direito a saúde e propriedade como garantia para manter-se com bem estar e sustentar uma família mesmo que a de Mau Tempo vai ficando na utopia se não lutar com sangue de determinação.
comentários(0)comente



ElisaCazorla 15/07/2016

Quando o latifúndio é o personagem principal
Neste romance Saramago discorre majestosamente sobre história recente de Portugal com o governo Salazarista e a Revolução dos Cravos de 1974. O centro de tudo é o latifúndio que parece ter vontade própria e que exerce tremenda influência na vida dos trabalhadores e donos das terras. Saramago consegue, habilidosamente, mesclar a saga da família Mau-Tempo e a história de Portugal sem deixar que um pareça mais ou menos importante que o outro, ou seja, não há pano de fundo, há apenas histórias importantes e centrais. Como é que ele consegue escrever assim??? Como??!! Ele é genial!
Enfim, foi um livro difícil para mim. Difícil intelectualmente, difícil porque é exigente, difícil porque entender as entranhas desse universo terrível (o trabalhador rural) não é fácil. O mundo rural nos parece longínquo, talvez propositalmente não convivemos com o rural e não discutimos o rural nas escolas e não ouvimos constantemente as durezas por que passam os trabalhadores rurais. Sempre que uma batalha acontece entre trabalhadores e latifundiários tais notícias chegam até nós como se as vítimas fossem os 'pobres' latifundiários que tiveram 'suas terras' 'invadidas' por índios furiosos ou ativistas violentos. Trabalhadores lutando por seus direitos básicos são tratados como terroristas pela nossa mídia.
O autor defende um dos lados - o do trabalhador. Defende e nos mostra o seu ponto de vista, suas vidas, seu pensar.
Um livro lindo, emocionante, exigente. Uma obra prima.
comentários(0)comente



ig: rafamedeirosmartins 20/07/2016

O mundo literário se transforma num imenso Portugal: um livro sobre trabalhadores.
Com este romance José irrompeu, em definitivo, no Olimpo da alta literatura mundial. Acompanhamos três gerações dos camponeses Mau-Tempo, que, com a enxada na mão e as dores do corpo, atravessaram da ditadura à República portuguesas sob condições próximas à servidão. As grandes estruturas de poder (Latifúndio-Igreja-Estado) são reveladas ao leitor por meio de parábolas cheias de compaixão e ironia. Temas candentes são enfrentados: a exploração do homem pelo homem, a demonização de quem vindica justas condições de trabalho, as alianças espúrias para manter tudo como sempre foi. Meu romance favorito do Prêmio Nobel português, é um livro fundamental. Mais: necessário.
comentários(0)comente



Bruna 11/08/2016

Conta a história da família Mau-tempo e suas gerações,começando com o casal Domingos Mau-Tempo e Sara, uma história de trabalhadores rurais explorados por proprietários de terras, trabalhando de sol a sol sob condições de extrema pobreza e durezas. Sem direitos trabalhistas,esses trabalhadores tentam ser ouvidos,se reúnem, gritam por seus direitos,fazem greve , mas sob uma ditadura política, são perseguidos,presos e até mesmo torturados.
O livro é uma crítica a exploração da mão de obra braçal, e também à igreja católica que apoiava os proprietários das terras, um livro que serve como denúncia contra um sistema de exploração dos trabalhadores, diferenças sociais, e os sonhos que os trabalhadores nutriam de uma vida melhor.
comentários(0)comente



Vivi 22/08/2016

História do povo alentejano desde vida familiar, amigos e sua lida na roça para tirar seu sustento. Muito denso e interessante.
comentários(0)comente



Aione 07/02/2018

Levantado do Chão é considerado um livro de transição na obra José Saramago, no qual, pela primeira vez, o autor apresenta o estilo literário que viria a consagrá-lo e a caracterizar sua narrativa.

Nele, conhecemos a história dos Mau-Tempo, família da região do Alentejo que nos é apresentada durante três gerações. Porém, não apenas a trajetória de seus membros é narrada, mas sim também a própria evolução de Portugal. Assim, conforme acompanhamos as mudanças na família, também vemos a transição do país, que, em menos de um século, passou de Monarquia à República e viveu anos de ditadura militar até conquistar a democracia, após a Revolução dos Cravos — evento que encerra o livro. Dessa maneira, cada geração representa uma diferente etapa dessa trajetória da nação, que passa da submissão ao questionamento até atingir o estágio de luta e revolução.

O interessante é que a história do país não é diretamente contada ou apresentada em um primeiro plano. Ela está lá, presente durante toda a narrativa de Levantado do Chão, mas de uma maneira indireta. Há apenas algumas passagens que fazem menção ao contexto sócio-político do momento, justamente para descrever as conjunturas das quais as personagens fazem parte, uma vez que elas afetam diretamente a vida dos Mau-Tempo.

Se há uma interligação entre a história das personagens e a do país, isso também ocorre entre elas e o espaço onde os eventos se desenrolam. As diversas menções à natureza e a caracterização do cenário como um todo metaforicamente dizem respeito às próprias personagens apresentadas. Assim, a linguagem poética de Saramago é um dos pontos mais notáveis de Levantado do Chão. Ao mesmo tempo, sua narrativa é também crítica e política, sendo a visão do autor e sua opinião sobre os fatos facilmente identificáveis na leitura.

Acho muito difícil não se sentir impactado pela escrita de Saramago. Há beleza em sua narrativa, que nos causa uma admiração imediata. Suas próprias estruturas complicadas, que mesclam narrativa e diálogos em um só período, contribuem para essa beleza e para a própria maneira do livro nos prender, já que nos força a ter uma atenção redobrada. Ainda assim, fiz uma leitura muito menos envolvente do que aconteceu em Ensaio Sobre a Cegueira, talvez pela temática e abordagem do segundo me interessar mais do que a de Levantado do Chão.


Independentemente disso, a experiência de ler Saramago é sempre válida e incrível. Levantado do Chão traz sua essência no próprio título: do chão, o estilo que viria a consagrar o autor se levanta. Do chão, o homem se levanta rumo à luta por seus direitos e por uma vida mais digna. E do chão, levanta-se toda uma nação.

site: http://minhavidaliteraria.com.br/2018/02/07/resenha-levantado-do-chao-jose-saramago/
comentários(0)comente



Erika 12/05/2019

A força da ação
Um mapa de reconhecimento do que nossos antepassados superaram para estarmos aqui. E cadê as feministas de bandeira para levar esse livro embaixo do braço? Um dos livros de mais difícil leitura do portuga por conta do revezamento história x estoria; mas sensacional como tudo que ele fez.
comentários(0)comente



Sarah 21/03/2020

uma experiência singular
Levantado do Chão é o terceiro romance de José Saramago, publicado pela primeira vez em 1980. Foi o primeiro livro que eu li do autor e demorei um pouco pra me habituar com o estilo de Saramago. Este livro em especial é um romance de transição do autor, e apresenta uma linguagem experimental. O enredo se entrelaça de forma quase indistinguível com a história de Portugal e a linguagem poética utilizada, formando uma mistura singular.
Na minha opinião, se o leitor não conhecer ao menos o mínimo da história de Portugal, corre o sério risco de ficar perdido, então vale a pena pesquisar sobre os séculos XIX e XX português – houve todo um processo de queda da monarquia, governos instáveis, ditadura e, por fim, a Revolução dos Cravos. Levantado do Chão conta a história de algumas gerações da família Mau-Tempo, que mora no Alentejo – região de Portugal – e é explorada no latifúndio. É um livro muito profundo e delicado por contar justamente a história portuguesa de um ponto de vista diferente: dos camponeses explorados. Mais do que só uma sucessão de manobras políticas, a história é humanizada, assumindo-se a narrativa a partir da vida particular de quem sofreu com toda essas conjunções.
Com uma linguagem lírica, conta-se indiretamente a história de Portugal pela história da família Mau-Tempo. De forma geral, o livro é incrivelmente sensível; ele que requer empatia do leitor, pois estamos a todo momento sendo puxados para a realidade dos explorados. Apesar da inegável qualidade do texto, eu julgo Levantado do Chão como um livro difícil, principalmente pelos aspectos históricos – quem não é português, é difícil conhecê-los – e pela linguagem experimental do autor. Mas é uma leitura que vale a pena; provoca muita reflexão e emociona ao ver os personagens levantarem-se do chão (da miséria do latifúndio) a que estiveram presos por várias gerações.
comentários(0)comente



43 encontrados | exibindo 31 a 43
1 | 2 | 3


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR