Levantado do Chão

Levantado do Chão José Saramago




Resenhas - Levantado do Chão


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Duda de Lemos 16/07/2011

Levantado do Chão
Foi o primeiro livro do Saramago que eu li, e simplesmente fui fisgada! Mesmo depois lendo Ensaio sobre a Cegueira, O Homem Duplo e o Ensaio sobre a Lucidez, não conseguia esquecer as emoções que senti no meu primeiro contato com ele. Apesar de que NÃO se compara os livros de Saramago, cada um tem suas emoções, tramas e reflexões singulares.
Acho que quem não consegue sentir a profundidade de Levantado do Chão está muito alheio a realidade cotidiana das milhares de pessoas exploradas diuturnamente seja pelo latifúndio seja pelas outras formas de exploração e opressão, o que a inclui nessa massa de explorados/as.
Nesse livro Saramago me fez refletir sobre a indignação de ver outra pessoa explorada, sentimento que me faz HUMANA, e que é totalmente diferente da INDIFERENÇA e cegueira dessa vida que levamos. E como diria o Eduardo Galeano... chegará o dia em que veremos o outro como uma esperança e não como uma ameaça.
Como Saramago, morrerei comunista por não aguentar sofrer mais, nem ver mais os outros sofrerem... E se um dia não o for mais: estarei padecendo de um dos maiores males da atualidade: a indiferença pós-moderna narcísica!
Helen 01/08/2011minha estante
Concordo, principalmente com o último parágrafo: se um dia deixar de ser comunista, será como tapar os olhos diante da luz, regredir na insignificância e aceitar desculpas esfarrapadas para pobreza e demais injustiças. "Não sei onde eu tô indo, mas sei que eu tô no meu caminho" como diria Raul :)


Baixando 15/03/2013minha estante
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Rosa Santana 29/08/2020minha estante
Muito boa sua análise sobre Levantado do Chão. Chorei muito lendo a história dos explorados pelo latifúndio, casado com a igreja e com o poder constituído, representado pela polícia, tão tendenciosa. Chorei no final, vendo a vitoria dos trabalhadores, como os nossos ?Sem Terra?, que lutam pela posse da terra, para nela encontrarem o meio de sobrevivência e não o de exploração usurpadora.
Parabéns pela resenha!




Sete-Sóis 04/07/2011

O título literário mais bonito que eu conheço: "Levantado do Chão", porque do chão levantam-se os homens e suas colheitas... Não é o melhor livro de Saramago, mas é o mais bem escrito, sem uma palavra que não esteja bem dita, sem uma percepção que não seja bem sentida... Conta os 60 anos de uma família de moleiros. Inícia-se no trabalho quase escravo, com uma linguagem arcaíca e evolui até a consciência dos direitos dos trabalhadores,encerrando-se numa peregrinação de todos os personagens, mortos e vivos, em busca de justiça social. Uma ode ao socialismo e uma crítica ácida de Saramago ao latifúndio e ao fascismo português.
Baixando 15/03/2013minha estante
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Rosa Santana 29/08/2020minha estante
Muito boa sua análise sobre Levantado do Chão. Chorei muito lendo a história dos explorados pelo latifúndio, casado com a igreja e com o poder constituído, representado pela polícia, tão tendenciosa. Chorei no final, vendo a vitoria dos trabalhadores, como os nossos ?Sem Terra?, que lutam pela posse de uma gleba, para nela encontrarem o meio de sobrevivência e não o de exploração usurpadora.
Parabéns pela resenha!




Babi.Dias 22/02/2018

Um dos melhores livros do Zé ?
Debora.Vilar 11/04/2020minha estante
com certeza!




Caio 13/02/2011

Uma elegia alentejana
Levantado do chão, como as searas e os homens com suas esperanças. Assim queria José Saramago seu romance, publicado pela primeira vez em 1979, por isso o fez telúrico, as raízes fincadas profundamente na terra. Mas não é de idílios pastoris que trata o livro, apresenta antes, rude e áspero, a faina dos trabalhadores rurais do Alentejo em suas desgovernadas andanças, toscos amores e doridas mortes numa galeria sem-fim de tipos. Esmagados e embrutecidos pelo latifúndio e suas engrenagens injustas, insensatas quase, párias entre párias, todos ossos e nervos prodigalizados na construção e sustento duma pátria, duma igreja e duma propriedade que incansavelmente pedem mais, como se não houvessem ainda e nunca obtido o suficiente. É essa a imagem, pintada em rico colorido, que carrega na retina quem consegue chegar ao fim das mais de 360 duras páginas de Levantado do Chão.

O romance trata por um lado da saga nada épica da malfada família de lavradores que carregam o ajustado sobrenome de Mau-Tempo, adequadíssimo a estes míseros a quem o tempo é sempre mau. Começando com Domingos, passando por João e Antônio e outros tantos Manuéis, Josés e Augustos, que não carregam o mesmo sobrenome, mas a quem não se pode negar o pertencimento a essa família, irmanados na mesma miséria, batizados com dor idêntica, mesmíssima fome. O antagonista, não se pode dele esquecer, da grande família Mau-Tempo, Lamberto, Norberto, Alberto ou Floriberto, pouco importa o afixo, o nome é sempre o mesmo, intercambiável entre esses vários prenomes, o antagonista chama-se Latifúndio. Desse milenaríssimo embate é que trata o livro, a massa trabalhadora contra a propriedade privada ou antes, para que a preposição não indique qualquer oposição consciente mas antes sentimento vago e impreciso, melhor seria dizer que o livro trata das relações entre a massa trabalhadora e a propriedade privada.

Mas falar de massa trabalhadora seria grave injustiça contra Saramago, que tanto se esforçou – e justamente a variação dos nomes dos lavradores indica isso – por mostrar a riqueza da vivência desses homens, e mulheres também, evidentemente, muito embora acerca delas não se tenha ainda dito palavra. Mesmo isso é deliberado, uma vez que o próprio aparecimento e o destaque dados às personagens em oportunos momentos indicam a estratégia narrativa da história. Trata-se de um desvelamento cujo avanço é demarcado cronologicamente quanto mais prossegue a história.

Tudo isso regado por fina ironia, um singular modelo de construção lingüística que pouco se dá em respeitar regras tradicionais de diálogo, travessão-ponto-parágrafo, e um léxico camponês consoante ao tema, que respeita sua linguagem, sonoridade e particularismos e mesmo erros, como forma mais adequada de expressão da trama. Acompanhado de um raro domínio do idioma, de constantes e deliberadas intervenções com o objetivo de mostrar ao leitor o caráter de constructo do texto, quase como beliscões na forma de diálogos conosco, quando íamos já entorpecidos pelo ritmo da narrativa. Essas marcas distintivas tornam o texto saramaguiano inconfundível para quem já o tenha lido ao menos uma vez com atenção e profundidade.

Esse é, por tudo isso e tantos outros motivos, definitivamente, um romance engajado. Mas não daquele engajamento insosso e ingênuo, que idealiza um trabalhador herói de músculos de aço e filósofo de dialéticas e vãs morais. É engajado por ser quase agressivo, um murro em nossa pacífica e complacente disposição de aceitar como imutável e quase celestial verdade um estado de coisas que nos é imposto – por alguém, não resta dúvida. Quais respostas daremos a essa agressão, Saramago jamais poderia determinar, mas provavelmente sabia em seu íntimo que, depois de ler Levantado do Chão, ninguém é igual a antes.

Baixando 15/03/2013minha estante
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Gláucia 08/07/2011

Levantado do Chão - José Saramago
O livro narra a saga da família Mau-Tempo, formada por operários da terra e é uma crítica feroz à relação de exploração entre latifundiários e seus empregados. Não é do meus livros preferidos do autor mas mereceu 4 estrelas pelo primor de linguagem, se assemelha a música. Me fez lembrar um pouco Germinal de Zola, perfeito.
Baixando 15/03/2013minha estante
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Vanessa 22/02/2013

"Acho que do chão se levanta tudo, até nós nos levantamos. E sendo o livro como é - um livro sobre o Alentejo - e querendo eu contar a situação de uma parte da nossa população, num tempo relativamente dilatado, o que vi foi todo o esforço dessa gente de cujas vidas eu ia tentar falar é no fundo o de alguém que pretende levantar-se. Quer dizer: toda a opressão económica e social que tem caracterizado a vida do Alentejo, a relação entre o latifúndio e quem para ele trabalha, sempre foi - pelo menos do meu ponto de vista - uma relação de opressão. A opressão é, por definição, esmagadora, tende a baixar, a calcar. O movimento que reage a isto é o movimento de levantar: levantar o peso que nos esmaga, que nos domina. Portanto, o livro chama-se Levantado do Chão porque, no fundo, levantam-se os homens do chão, levantam-se as searas, é no chão que semeamos, é nos chão que nascem as árvores e até do chão se pode levantar um livro." O Tempo em Novembro de 1981
Baixando 15/03/2013minha estante
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Valério 29/09/2014

Apoteose da luta no campo
Saramago é o poeta do sofrimento humano.
O livro transborda sofrimento. Semelhante à obra de Sthendal, "As vinhas da ira", mostra o sofrimento do trabalhador rural, ao acompanhar as desventuras de 4 gerações da família Mau-Tempo principalmente na primeira metade do século XX.
A diferença está na poetização de Saramago.
Cenas comoventes permeiam o livro, levando-nos a profunda consternação (especialmente por lembrar que houve e ainda há milhões de trabalhadores na mesma situação e até pior).
As humilhações, a existência de ignorância e desprovida de proteção dos humildes.
História comovente, triste.
E que fecha grandiosamente.

"Todos os dias são iguais, e nenhum se parece"
Saramago - Levantado do chão
Peterson Boll 26/08/2015minha estante
Só uma observação, "As Vinhas da Ira" é obra do escritor John Steinbeck




Volnei 23/12/2016

Levantando do chão
Este romance de José Saramago conta a cina de uma família humilde e cujo patriarca já começa agindo errado ao se aproveitar daquela que viria a se tornar mãe de vários filhos seus. Depois de casado ele não para em nenhuma das cidades por onde passa, ele mostra sua outra face e se entrega a bebida, transformando a vida de seus familiares em um verdadeiro inferno. A esposa não aguentando mais o abandona e retorna à casa paterna . O marido vai a sua procura e a toma de volta e o pais diz que se ela o seguir não devera voltar mais. Ela passa a viver novamente os mesmos transtornos e abandona o marido de vez . Quando ele a procura de novo ela não o perdoa e ele em um ato insano se enforca . A mãe passa a depender do trabalho do filho mais velho que na época tinha apenas 10 anos mas já consegue algum trabalho para ajudar no sustento da casa. Este cresce, torna-se homem e parece destinado a seguir os passos do pai ao tirar uma donzela de sua casa.Uma das características interessante deste romance é o fato deste estar ambientado em um período bastante turbulento pelo qual passou Portugal nas primeiras décadas com a proclamação da Republica em 5 de outubro de 1910 e a seguir com a ditadura Salazarista que se iniciou em 1932 e durou até 1974 com a revolução dos Cravos que pós fim a ditadura. O livro faz alusão as torturas que o governo fazia a fim de arrancar confissões, muitas vezes sem qualquer prova e depois forjava um suicídio muito mal explicado. Com certeza foi a forma encontrada pelo autor para critica tal época. Uma das características deste romance é justamente a forma encontrada pelo autor de mostrar as atrocidades cometidas pelas autoridades com a intenção de combater o comunismo . A partir da Leitura desta obra foi que compreendemos o motivo pelo qual o autor viveu seus últimos anos de vida no exílio. Mesmo depois de o regime Salazarista ter acabado o autor continuou no exílio e neste livro ele deixa claro sua posição política. O romance é ambientado em varias gerações que sofrerão com o regime . O titulo é uma referencia a posição em que se encontrava o povo português na época do inicio do século XX

site: http://toninhofotografopedagogo.blogspot.com.br/
Yuri Garrido 31/10/2017minha estante
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Rodolfo Vilar 30/09/2016

Saramago e a voz de um povo oprimido
No ano de 1981, numa entrevista para o Jornal O Tempo, Saramago declara:
"Acho que do chão se levanta tudo, até nós nos levantamos. E sendo o livro como é - um livro sobre o Alentejo - e querendo eu contar a situação de uma parte da nossa população, num tempo relativamente dilatado, o que vi foi todo o esforço dessa gente de cujas vidas eu ia tentar falar é no fundo o de alguém que pretende levantar-se. Quer dizer: toda a opressão económica e social que tem caracterizado a vida do Alentejo, a relação entre o latifúndio e quem para ele trabalha, sempre foi - pelo menos do meu ponto de vista - uma relação de opressão. A opressão é, por definição, esmagadora, tende a baixar, a calcar. O movimento que reage a isto é o movimento de levantar: levantar o peso que nos esmaga, que nos domina. Portanto, o livro chama-se Levantado do Chão porque, no fundo, levantam-se os homens do chão, levantam-se as searas, é no chão que semeamos, é nos chão que nascem as árvores e até do chão se pode levantar um livro
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Belas palavras, as de José Saramago, porque é exatamente assim que nos sentimos quando começamos a ler as primeiras páginas de Levantado de Chão: Nos sentimos oprimidos; arrastados pelo peso de nossas culpas, essas que na verdade nem sequer existem; sentimos os olhos da opressão e do fascismo a nos dominar conforme enxergamos que a situação em que os personagens se encontram são calamitosas. Somos esmagados pelo simples desejo oprimido do querer fazer mudança, e não conseguir.

Há um tempo atrás, logo quando dei inicio a me aventurar nos clássicos da literatura, me deparei com um livro chamado "Cem anos de solidão". A descoberta dessa obra me deixou desalentado, não somente porque era algo fora dos meus padrôes de leitura como também porque aquilo me devastou, me deixou cansado e perdido dentro de mim mesmo por experimentar tamanha fotografia de algo ou alguém. Quando li Levantado do chão essa mesma sensação ressurgiu em mim.Não no sentido de que tenha sido uma leitura complicada, apesar de ser nesse livro que Saramago inicia sua escrita peculiar, com poucas pontuações e à frente de seu tempo, não. Me senti novamente estranho porque senti que o autor queria nos teletransportar para o mesmo ambiente de seus personagens, de sua terra, de suas criações e críticas. Ler Levantado do chão foi algo como experimentar estar amarrado a um sentimento de revolta interna, mas na verdade não poder fazer nada.

Para quem não conhece, Levantado do Chão, publicado inicialmente em 1980 e sendo o terceiro romance de José Saramago, conta a história da geração dos Mal-tempo, uma família que vive pelas bandas do Alentejo, um dos pequenos povoados de Portugal, e que sofre os males da repreensão fascista dentre o século XIX e XX. Por se tratar de assuntos um tanto "polêmicos" para aqueles que são delicados com a política, o romance irá tratar de vários aspectos políticos e sociais da população que ali vive, essa prestativa aos trabalhos advindos do latifúndio. Sendo assim, o que José Saramago pretende é dar voz ao lado da história que não teve vez, mostrando o lado oprimido daquelas famílias que viverem sobre constante repreensão das politicas fascistas que obrigavam e não viam o trabalhador da terra como um sujeito de direitos igualitários, abominando assuntos como o comunismo, direitos trabalhistas, greves e etc.. Por isso que o livro é repleto de aspectos da história politica de Portugal, o que faz com que o leitor pelo menos tenha em mente o significado de alguns dos temas citados para situar os primórdios das criticas levantadas pelo autor.

Além disso, Saramago consegue retratar as características culturais de seu povo, seus costumes, as tradições populares e as velhas histórias contadas nas rodas familiares e transmitidas de geração á geração. Apesar do livro ter passagens bastante pesadas, o autor conseguiu nos transmitir um sentimento de esperança que nos renova até o fim do livro, onde o ápice do livro se dá com a futura geração dos Mal-tempo, que reflete os aspetos da nossa sociedade atual. Mesmo escrito em 1980, o livro ainda continua bastante atual em seus assuntos tratados. Uma leitura necessária para qualquer um e que vai te transformar num ser humano melhor. Cada vez me sinto mais apaixonado pela literatura humanista do Saramaguinho.

site: http://bodegaliteraria.weebly.com/biblioteca/levantado-do-chao-jose-saramago
suzanna.oliveir 21/06/2017minha estante
Eu tb sinto muito essa semelhança com Cem Anos de Solidão, não só pelo fato de acompanharmos gerações de uma mesma família, mas tb por aquela sensação de fatalismo nos destinos das personagens, a mordaça social de um lugar que traz, já pronta, a sorte dos que ali nascem... Lindo o livro, ótima resenha. Obrigada




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RAVAGNANI 01/03/2009

Político....
O tom político de Saramago. Bom, porém menos que Evangelho Segundo Jesus Cristo.
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lucianosousa 07/01/2010

Eu sinceramente, esperava muito mais...

Leitura cansativa que não prende... é uó!

Mas, ainda assim é legalzinho se tiver paciência...
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Guga 11/09/2010

O que dizer deste livro? Saramago é perfeito ao contar os sofrimentos de pessoas desafortunadas que são vítimas dos grandes proprietários. É impossível não se emocionar em algumas cenas do livro, que renovou a liguagem e a estrutua narrativa, iniciando a famosa prosa saramaguiana, com parágrafos longos, pouca pontuação e falas empregadas de forma diferente.
Além de conter algumas sutis ironias, característica dos livro de Saramago.
Ou seja, perfeito. Não deixe de ler antes de morrer.
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Tórtoro 17/09/2010

“SARAMARGO” : LEVANTADO DO CHÃO

“Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava.”

José Saramago


Acaba de falecer, com repercussão na mídia mundial, o escritor português, Prêmio Nobel de Literatura – 1998, José Saramago, que chamou o Papa Bento XVI de “cínico” e disse que a “insolência reacionária” da Igreja precisa ser combatida com a “insolência da inteligência viva” .
E disse mais, quando esteve presente à capital italiana para divulgar o livro O Caderno: “que Ratzinger tenha a coragem de invocar a Deus para reforçar seu neomedievalismo universal , um Deus que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o absoluto cinismo intelectual” desta pessoa.
Controvérsias à parte, ler Saramago é, para mim, sempre uma experiência adoravelmente amarga.
Viver com ele a saga dos Mau-Tempo é viver a vida quase real — não as da nova novela da Globo — de uma família de trabalhadores rurais da região do Alentejo, no sul de Portugal, em cujos limites se passa o romance, desde o começo do século.
Trata-se de uma denúncia vigorosa da exploração do desemprego e da miséria e, ao mesmo tempo, da tomada de consciência política por parte do trabalhador rural: o aprendizado da luta pelo direito ao trabalho, pelas oito horas de jornada e pela posse útil da terra.
Pontuado por acontecimentos históricos de três quartos de século, esse romance consegue tecer um painel da burguesia fundiária (Lambertos, Albertos, Norbertos, Dagobertos, Bertos ...) , à medida que vai compondo a “biografia” dos Mau-Tempo (Domingos, Lara, João , Joaquim, Sara, Antônio, Faustina, Gracinda , Amélia ...) e da própria história de Portugal no século XX.
A família Mau-Tempo faz lembrar a família Buendía , dos Cem Anos de Solidão , de Gabriel Garcia Márquez , e a obra Os Sertões , de Guimarães Rosa, sem que Saramago renegue as suas mais autênticas raízes lusitanas, indo buscar inspiração no que de mais positivo a literatura portuguesa tem produzido ao longo dos séculos.
O padre Agamedes representa, na obra, a Igreja Católica Apostólica Romana e, como tal , é o tempo todo ironizado e criticado duramente por sua postura hipócrita e conivente com os poderosos latifundiários, ficando as beatas representadas na figura de Dona Clemência e a sua distribuição de comida aos pobres, às quartas e sábados.
O chefe quadrilheiro, José Gato, é comparado ao nosso Lampião (pag. 126) e o calvário de Germano Santos Vidigal parece homenagear a todos os torturados pelas ditaduras do mundo, inclusive os torturados pelo regime militar durante a década de sessenta/setenta , no Brasil: imagens terríveis testemunhadas por formigas que levantam o nariz , como cães.
João Calvedo , inspetor Paveia , algozes de João Mau-Tempo e representantes do DOI-CODI lusitano de Saramago, contrastam em atitude com o gesto cristão do casal Ricardo Reis e Ermelinda , na acolhida ao João comunista, que paga pelo preço de ter-se encontrado com Manuel Dias da Costa, líder revolucionário que viaja de bicicleta, e por ser amigo de Sigismundo Canastro.
Enfim , como afirmou Saramago, esse livro é um simples romance, com gente, conflitos, alguns amores, muitos sacrifícios e grande fomes, as vitórias e os desastres, a aprendizagem da transformação, e mortes. É um livro que quer aproximar-se da vida, e essa seria sua mais merecida explicação.
São trezentas e sessenta e cinco páginas, uma para cada dia do ano, e que fazem sonhar, nessa época de Natal, um mundo melhor.


ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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