Raiane96 14/05/2020DecepçãoFaz anos que tenho vontade de ler esse livro. O livro é quase um clássico da literatura com temática LGBT. E é bom ler um livro brasileiro e conhecer nossos escritores. Porém, não sei como descrever tamanha decepção.
A primeira parte do livro é até interessante. Ok, temos alguns diálogos pobres e um excesso de quantidade de cenas de sexo. Mas temos o romance de Marcus e Renato que enfrentam o mundo para poderem ter o direito de se amar. Os diálogos com os pais do Marcus são um dos pontos altos do livro. Retratam a dificuldade das pessoas LGBT e de seus pais. Porém chega na metade do livro e a situação começa a ficar extremamente forçada. Parece tirada de alguma fanfic mal escrita.
A parte que o livro começa afundar é quando inventam de enfiar a Beatriz na história. Eu já sabia pelo título e pela capa que teria uma terceira pessoa na história e que o livro falava sobre bissexualidade. Porém esperava algo mais elaborado. E não esperava que a terceira pessoa fosse a chata da Beatriz. A personagem é bem irritante já no começo. Levou um pé na bunda do Renato e continua aceitando sair com ele, mesmo sabendo que nutre sentimentos por ele. Se apaixona pelo Marcus do nada. Ok, ela é apenas uma adolescente, mas o que me irrita não só nela e em outros personagens é que falta alguém para falar umas verdades. O Renato, por sua vez, já sabendo como é a Beatriz e sabendo que ela ainda nutre sentimentos por ele, chama ela para sair e a descarta como se fosse um objeto que você usa e joga fora depois. O protagonista Marcus é um tolo. Acha que pode tudo e que tudo se resolve na conversa, mas quando precisa falar fica quieto. Por isso, na minha opinião, a traição do Marcus é praticamente culpa dos três. Aliás, a cena de traição é problemática, uma relação sexual forçada. Os personagens se tornaram insuportáveis.
As situações são inverossímeis. Os garotos tem apenas 16 anos. Dirigem, bebem e fumam perto dos pais e nada acontece. Parece um sonho adolescente, ter pais que deixam fazer tudo. Tem uma parte do livro que eles reservam um quarto em uma pousada e o funcionário oferece um monte de bebida alcoólica. Sei que alguns podem argumentar que o livro é dos anos 90 e não tinha tanta regra assim, mas achei tudo extremamente forçado. Aliás, quem dirige durante a viagem do casal é o Renato, que tem apenas 16 anos e por isso não tem idade para dirigir. No final do livro a mesma coisa, a Beatriz fica preocupada pois o Marcus vai sair com o carro da mãe e ela fica com medo dos pais dele não gostarem. Mas se os pais do Marcus não gostam de ver o filho de 16 anos dirigindo, por qual motivo deixaram o Renato, que também tem 16 anos, dirigir durante a viagem de Ano Novo do filho?
No começo do livro, o pai do protagonista demonstra preocupação com a possibilidade do filho se envolver com drogas e prostituição, retratando o esteriótipo de que se a pessoa é gay vai usar drogas e se prostituir. Chega uma parte do livro que o Marcus está viciado em cigarro e álcool (não são drogas ilícitas, mas não deixam de ser drogas) e saindo com garotos de programa (??????????). Ou seja, o livro critica o esteriótipo, mas aí logo depois o reforça.
Senti falta no livro de alguém para falar umas verdades, alguém mais racional. Esse papel poderia ser feito pelos pais, mas chega em um determinado momento do livro que os pais começam a passar pano para tudo o que os filhos estão fazendo. No início de qualquer confusão arrumam um escândalo sem sentido, mas minutos depois abaixam a cabeça e aceitam tudo numa boa.
A parte da gravidez da Beatriz é ridícula. Os pais aceitam tudo com tanta facilidade. De boas ser pai aos 17 né? Nem um puxão de orelha? Um sermão? Conselho? Tá né. Ainda tentam vilanizar a mãe do Marcus, porém fica totalmente forçado.
No fim, os adolescentes irresponsáveis ainda ganham um apartamento gigante. O.o Os pais dos 3 personagens aceitam de boas um relacionamento a três. Algo difícil de ser aceito nos dias de hoje, imagine quase 30 anos atrás.
O final é tão estúpido que não vale nem a pena comentar. Na última página você ainda passa raiva lendo o Marcus dizendo que ama tanto o filho dele que passeia com ele todo domingo. Realmente, grande pai esse.
O livro pode até ser baseado em fatos reais. Mas é dever do autor pegar essa história e desenvolvê-la. E não foi o que ele fez.
Dei 2 estrelas por causa do começo e da narrativa rápida (li o livro em 2 dias).