Thamiris.Treigher 24/07/2023
Definição de PERFEIÇÃO
Anna Karênina simplesmente roubou meu coração pra sempre! Nesse clássico primoroso, temos uma grande e maravilhosa fofoca russa. ?
Apesar do nome do livro, outro grande personagem divide a importância da história: Konstantin Lióvin que, inclusive, é o alter ego do autor. Ele prefere a vida rural e está sempre em busca de respostas para as suas indagações existenciais.
O livro traz diversos personagens com aqueles nomes que, no começo, parecem um trava-línguas ?, mas que a gente vai se acostumando. Além disso, Dolly e Kitty se juntam à Anna para fazer parte do entrelaçar das histórias pessoais de três mulheres russas do século XIX, montando assim um verdadeiro espelho em que se refletia a Rússia inteira.
Dolly, casada com Stiva, é o retrato da mulher que é uma exemplar dona de casa, mãe dedicada, que sempre perdoa os erros do marido, mesmo que o casamento esteja em ruínas. Kitty é aquela moça jovem, inocente, que sonha com o príncipe encantado, mas que teve o coração partido.
Aparentemente uma história cotidiana dos personagens, a narrativa vai além do óbvio, em que Tolstói é ousado para os padrões recatados do século XIX, trazendo a história de Anna, uma mulher casada que se apaixona perdidamente pelo Conde Vrônski, e abre mão de tudo para viver e gritar para o mundo o seu amor. Ela é uma mulher que ama, e que sofre uma cruel punição pelo seu amor.
O leitor pode aprovar ou não a conduta de Anna, mas é impossível tratá-la com indiferença. Essa mulher desafia as convenções da época. Ela poderia viver seu amor proibido em silêncio, se assim quisesse, mas decide mostrar a todos seu amor, mesmo em meio a uma sociedade conservadora e machista.
Para além da história de Anna em si, a narrativa expõe as restrições e opressões que impactavam apenas a mulher, mas que não mudavam em absolutamente nada a reputação do homem (podemos ver alguma semelhança com a atualidade? ?); o aprisionamento em relações sem amor e sem felicidade; o que se perde quando se opta pela liberdade individual e por seguir os próprios sentimentos; a ausência de direitos das mulheres e o abismo que as separa dos homens.
Não por acaso, a publicação de Anna Karênina provocou reações negativas. Afinal, Tolstói não disfarçou o indisfarçável, mas trouxe um panorama nu e cru da época e, "nenhuma sociedade humana, por menos retrógrada que se pretenda, gosta de ver seus defeitos de perto, sobretudo se não for possível corrigi-los de imediato".
Enalteço, mais uma vez, a escrita e a maestria de Tolstói. Apesar de ser um calhamaço de mais de 800 páginas, a leitura não foi nada cansativa, pelo contrário. A forma como ele conduz a história, intercalando com discussões sobre assuntos pertinentes da época e do país, como o desenvolvimento capitalista da Rússia; a gradual substituição da antiga classe de fazendeiros pelos novos proprietários rurais; conflitos espirituais entre o pensamento conservador e as ideias progressistas, entre outros, faz com que narrativa ganhe um fôlego e nos deixe ainda mais curiosos pelos próximos acontecimentos.
É impossível transmitir aqui toda a dimensão e impacto dessa obra, que virou uma das minhas favoritas da vida. Nunca vou esquecer dessa história. Trágico, magnífico, inteligente, genial e arrebatador! ??