spoiler visualizardani1064 06/03/2024
Fantástico
Brilhante. Certamente é um dos livros mais necessários para compreender os efeitos das ações sociais.
O livro é extremamente psicológico e demonstra muito bem a mente da personagem, seus anseios, angústias, questionamentos e diversos outros sentimentos intensos. É notável que, no decorrer da leitura, a Offred se perde em sua própria cabeça. Pode-se dizer que 40% da história são lembranças confusas e os outros 60% são a realidade, o que ela vive hoje.
A organização social me deixou absolutamente intrigada. Das Esposas às Não-Mulheres, existe, sim, uma grande opressão. É nítida a desigualdade entre os homens e mulheres, a partir do fato de que até os homens mais pobres têm mais poder que as mulheres mais ricas.
Ainda na questão da organização social: o nome das Aias é um indicativo de posse. O próprio nome da protagonista, Offred, é um exemplo. As Aias não são pessoas, são objetos que servem para a reprodução, são usufruídas pelos seus Comandantes (e todo o resto da sociedade) como uma "máquina de bebês".
Muitos dos acontecimentos são nojentos e perturbadores. Alguns me fizeram pausar a leitura por um tempo para conseguir digerir a atrocidade, muitas vezes tratada como normal, que estava lendo. As cenas da Cerimônia e do Muro são extremamente violentas e repugnantes, mesmo nos momentos em que elas são propositalmente romantizadas e tratadas como "o cotiano que faz sentido no contexto atual", e o fato da história acontecer em um futuro distópico não tão distante é arrepiante.
A trama traz um julgamento extremamente intenso. Não, o livro não tem como objetivo disseminar ódio sobre o Cristianismo para enaltecer pensamentos feministas, mas sim criticar as interpretações radicais de livros sagrados (neste caso, a Bíblia) e avaliar os seus impactos em uma sociedade funcional, focando, principalmente, nas mulheres. A história poderia muito bem ser aplicada a partir da interpretação rígida do Corão, por exemplo. Além disso, o livro é uma prova viva de que o machismo não é uma frescura: o romance só existe porque, em nosso grupo atual, existe algo minimamente parecido e identificável, que chamou a atenção de Margaret Artwood.
Para mim, me senti muito presa à leitura e realmente gostei do estilo da autora. A história é envolvente e, no meu ponto de vista, muito interessante. Uma leitura atenta consegue capturar muitas interpretações.
Em resumo, O Conto da Aia é uma leitura inteiramente necessária. Há, sim, uma complexidade na escrita, os cenários construídos são sombrios e o enredo é envolvente. Sua importância para compreender o nosso grupo social atual existe: podemos realmente afirmar que o machismo existe e está presente em todos os lugares, já que veio da nossa história.