Izabella.BaldoAno 08/04/2024
Essa é a terceira vez que leio Úrsula, agora através do clube de leitura @autorasdobrasil.
no ano passado, quando fiz minha primeira releitura, escrevi uma resenha dizendo que, diferente do primeiro contato, eu tinha amado muito o livro. refleti, inclusive, sobre como minhas bagagens de leitura e de vida influenciam na recepção dos livros que leio em determinados momentos. nesta terceira leitura, acrescento que, mesmo achando que já tinha muita intimidade com o livro, tive uma experiência mais uma vez completamente diferente.
acho que essa é a magia de fazer leituras em espaços compartilhados com outras pessoas, poder pensar sobre os livros coletivamente, discutir, perceber que cada pessoa é tocada por um ponto diferente, fazer desses diferentes olhares também lugar de partilha.
o livro nos apresenta, a princípio, a história de amor entre os protagonistas, cheia dos impedimentos comuns a uma narrativa ultrarromântica. em torno desse romance se revelam questões familiares extremamente complexas e também outras questões sociais, tendo destaque entre elas a discussão sobre escravidão e liberdade do povo negro, à época ainda escravizado.
chamam a atenção os personagens Túlio e Suzana: ambos escravizados pela família da protagonista, são deles as reflexões mais profundas que aparecem nessa história. Suzana segue sendo minha personagem favorita e, nesta nova leitura, pensei muito sobre tudo que ela representa: suas falas em torno da liberdade, a própria vulnerabilidade da sua condição, os papéis e símbolos que ela assume ao longo da história.
eu achei que Úrsula não seguiria sendo um favorito justamente pela escrita ultrarromântica, mas, depois de conversar sobre o livro com outras pessoas, vi que ele tinha tanto pra ressoar em mim e me ensinar que mais que um favorito do ano, acredito que tenha se tornado um livro pra lembrar pra vida.
"sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados (...). quando menos, sirva (...) de incentivo para outras".