sr. felix 24/04/2024
Boa noite (?)
Boa noite Punpun é mais uma trama essencialmente simples: um garoto experimentando os gozos e dissabores da existência. Neste primeiro volume, Punpun conhece Aiko Tanaka, aluna novata que migrara de cidade, e por ela apaixona-se perdidamente. Em meio às turbulentas emoções do primeiro amor, Punpun ainda precisa encarar o iminente divórcio dos pais.
Logo, as portas da solidão se escancaram, conflitos existenciais emergem e dúvidas são suscitadas. Por que todos os seres humanos são, por essência, sozinhos? Qual o caminho a ser seguido? Existe uma teleologia por trás da vida? Há um Deus? Por óbvio, tais questionamentos não obtêm respostas, e Punpun segue a trilha das incertezas sem guia ou preceptor.
Exceto seu tio Yuuichi, um solteirão desempregado, ninguém assume o papel de autoridade em sua vida. Ademais, somente uma pequena trupe de garotos com problemas familiares e de personalidade - Harumi, Komatsu, Shimizu e Seki - lhe fornecem companhia e lealdade.
Inio Asano consegue mexer com os sentimentos do leitor utilizando recursos narrativos precisos. A figura visual do personagem principal - e toda a sua família - é retratada com traços simples, vazios e até mesmo vulgares, diferenciando-o do mundo em seu entorno que contém uma representação mais realista, assim transmitindo a maneira de como o personagem vê a si e seus entes.
Por intermédio do que conhecemos como um "significante vazio" - corroborando com o fato de a sua compleição possuir uma arte com características minimalistas - projetamos facilmente em Punpun nós mesmos e a nossa própria vida. Apesar de ser um personagem de estrutura definida, habitante de uma terra do outro lado do mundo com costumes e hábitos distintos, seu vazio gráfico transforma-se em espelho para enxergarmos o nosso.