Jana 04/07/2022
Excelente, um presente para quem ama e respira leitura
Muito tranquilo e gostosinho de ler. Me identifiquei muito com a Nina. Separando aqui os trechos que marquei no e-book (seria giríssimo se alguma editora se dignasse a trazer essa belezinha pra cá, néah...)
É um verdadeiro paraíso na terra, se achares que o paraíso cheira a papel e cola. (Página 4)
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Suponho que, quando se tem uma vida aborrecida, as vidas aborrecidas das outras pessoas funcionam como um conforto. (Página 7)
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Nunca se sentira mais em casa do que na Knight’s, com a sua abundância de sarcasmo e reconfortantes filas de lombadas. Era o céu na terra. Se ao menos pudessem livrar-se dos clientes e fechar a porta da frente, isso é que seria mesmo bom. (Página 10)
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Também implicou que ela visse os livros como remédio, refúgio e fonte de todas as coisas boas. Até agora, não encontrara prova em contrário. (Página 11)
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Não conseguir lembrar-se de alguma coisa era uma tortura para Nina. Era como uma comichão no céu da boca ou como quando se tem uma picada de inseto entre os dedos dos pés. Tem de se coçar, embora seja uma sensação quase demasiado intensa para suportar. (Página 11)
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Adorava o seu apartamento, ainda que chamar-lhe apartamento fosse um tanto exagerado. Era basicamente uma grande sala, com uma kitchenette minúscula e uma casa de banho, mas o que tinha em abundância era luz e estantes e, francamente, de que mais é que uma pessoa precisava? (Página 17)
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Na sua vida imaginária, que era a que gostaria de estar a viver em vez da que lhe tinha calhado ao nascer, ela levantava-se, lavava a cara com uma variedade de produtos sustentáveis, tomava duche num daqueles chuveiros com cabeças múltiplas (embora se perguntasse frequentemente o que é que acontecia quando as pessoas se baixavam para pegar no champô — levavam com um jato de água na cara? Parecia rude) e depois enfiava-se em roupas confortáveis mas estilosas, feitas de fibras naturais colhidas por trabalhadores bem pagos. Estás a seguir tudo? Depois tomava um pequeno-almoço de fruta fresca, cereais integrais e iogurte feito com leite doado de livre vontade por cabras que tinham mais do que precisavam. Ela seria grata e mindful e imaculada. (Página 26)
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Em público, Nina era uma pessoa calada e reservada; em privado, era uma cavalgada cantante e dançante de luz e movimento. A não ser que fosse uma bola trémula de ansiedade, porque essa era também uma opção selecionada frequentemente. (Página 26)
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É capaz de ter comido o marido; ele desapareceu sem deixar rasto. Segundo a minha mãe, ele desapareceu de um dia para o outro, deixando todos os seus bens terrenos e a chave do carro para trás. — Isso é estranho. — Pois é. — Ele fez uma pausa. — Mas levou o cão. Nina assentiu com a cabeça. — Não ficou sem nada, então. (Página 63)
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Sabes, não podes estar sempre preparada. Infelizmente, a vida tende para o caos. Eu julgava que tinha a minha vida muito bem planeada, até que o meu marido morreu num acidente de carro e tudo mudou completamente. É muito bom ter um plano, é uma boa ideia, mas tens de ser capaz de te afastar dele, se precisares. (Página 113)
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olhara em volta e percebera que nunca se lhe esgotariam as coisas para ler, e essa certeza encheu-a de paz e satisfação. Pouco importava as porcarias que acontecessem, enquanto houvesse no mundo livros por ler, ela estava bem. (Página 171)
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Nina percebia pelo tom de voz que o seu novo sobrinho era uma pessoa matinal, essa raça desprezível. (Página 192)
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As outras pessoas também se sentem assim? — Como? Preocupadas? Sem certezas? Esperançosas e cínicas ao mesmo tempo? — Sim. — Claro que sentem, querida. Chama-se a isso estar vivo. — Não é uma boa sensação. (Página 246)
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Um verdadeiro misantropo, porém — continuou Lydia —, odeia e despreza as pessoas, e eu não as odeio, apenas não gosto muito delas, da mesma forma que também não gosto de ostras. Infelizmente, as pessoas são mais difíceis de evitar do que as ostras (Página 277)
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Sabes qual é a melhor sensação do mundo? — Hum… — Nina abanou a cabeça, apesar de ter algumas ideias. Liz iluminou-se. — É ler um livro, adorar cada segundo e depois olhar para a capa e descobrir que o autor escreveu mais 14 ziliões de livros. (Página 302)