Maria2264 15/12/2020O que leva um autor a fazer o leitor passar por tal situaçãoQuantidade elevada de spoiler!
Eu nem explicar tamanha raiva que eu estou sentindo depois de ter lido esse livro. É uma espécie de livro que já não começa muito bem, vai melhorando bem gradativamente, tipo de uma forma que mal dá para perceber, mas que está ali, para chegar ao fim e ser aquilo que foi. Sem condições.
Eu já tinha falado antes que o livro não tinha nada de especial, sim? Eu estava bem enganada. Ele tem sim algo de muito especial que o diferencia de todos os outros do gênero: Ser o pior que eu já li! Que coisa pavorosa.
O livro tem como foco a investigação de um assassinato que ocorre na escola interna onde nossa protagonista, Kay Donovan, estuda. Nada de diferente até o momento. Só que depois da morte de sua colega, Kay começa a ser chantageada, através de um site, para que se volte contra suas amigas. Você, que está do outro lado da tela, pode deduzir que o livro vai ser bom por se tratar de um thriller adolescente que é a cópia cuspida e escarrada de "Pretty Little Liars", certo? Mas é bem o oposto disso que acontece.
Eu penso que para um livro do gênero ser bom, ele precisa introduzir o leitor as investigações do assassinato que ocorre por lei de forma direta, e isso não ocorre aqui nesse livro. As informações sobre o caso que deveriam induzir o leitor a juntar dois com dois e criar teorias, simplesmente, não existem. É tudo meio enrolado, dramático e supérfluo.
Eu costumava pensar que sendo o título do livro "Garotas como nós", que, claramente, é referente ao sexo feminino no plural, além de toda aquela cena introdutória do primeiro capítulo das meninas descobrindo o corpo no lago juntas, haveria mais desenvolvimento em relação a amizade delas do que houve, de fato, no livro. Só para reforçar aqui: Não se engane! Apesar do título da obra prometer garotas no geral, o livro é focado inteiramente em Kay e sua vida amorosa, tendo o assassinato de outras pessoas como segundo plano.
Era bem estranho tudo aquilo. Eu não sei bem explicar o que rolou, mas vou tentar resumir com o que o meu cérebro foi capaz de processar: No começo, vemos que Kay possui um grupo bem vasto de amigas e pode-se perceber que uma delas em especial, Brie, é a única capaz de despertar coisas em Kay. A partir disso, com as ameaças que nossa protagonista sofre através do site criado, supostamente, pela morta que ninguém conhecia, ela é obrigada a ir "derrubando" suas amigas uma de cada vez. Até o exato momento tudo bem. O que acontece é que tudo se desenrola com uma facilidade, sem nenhum empecilho. Nenhum mesmo. Era de uma bizarrice sem tamanho: Kay recebia as informações que usaria contra suas amigas em decodificadas em forma de poemas, apesar das metáforas e das palavras embaralhadas, ela conseguia tirar tudo de letra e, simplesmente, ia falar com elas sobre isso. Quando Kay começava a dizer que tinha conhecimento dos segredos das mesmas, e que elas precisavam sair da escola, era uma coisa de louco porque elas choravam, retrucavam, barganhavam, chegavam até a jurar vingança eterna contra Kay, mas no final só saiam de cena e nunca mais eram citadas. É muito estranha a forma como personagens que você percebe que poderiam ser de grande contribuição para o desenrolar da história são descartados tão facilmente no capítulo 2. Literalmente.
Depois de toda essa análise sobre essa parte em específico do livro, eu só posso dizer uma coisa: Esse plot de site da vingança só não é mais desnecessário que o desenvolvimento da vida amorosa de Kay. Todo mundo nesse livro parecia nutrir uma paixão por ela, mas justo a única pessoa que ela queria só fazia brincar com o pobre coraçãozinho da Kay. Pode entrar o motivo do meu ranço: Brie. Sério gente, com uma amiga/crush como a nossa Brie quem precisa de site da vingança? Ela é aquela pessoa altamente tóxica que gosta de ficar rodando por aí, mas quer sempre que Kay esteja parada no lugar de sempre para paparicar ela sem retorno. É irresponsável afetivamente, infiel, chata, abusiva, tóxica, são tantos adjetivos que nem caberiam em uma só resenha. O pior é que parece que a autora via isso tudo como qualidades já que nem tentava esconder a preferência pela personagem.
O livro até chega a mencionar, e muito, um relacionamento passado de Kay com um jovem chamado Spencer que é fundamental para o desenrolar do plot de assassinato por ter ligação direta com a vítima. É meio que um triângulo amoroso Kay - Brie - Spencer. Sendo assim após descobrirmos que Spencer era ligado a morte da colega de escola da Kay, a autora joga no ar uma história de que na verdade a ligação de Spencer e Jessica, a tal colega de Kay, só foi possível por uma aproximação de Brie, que almejava afastar Spencer de Kay. Quando descobrimos que Brie também tinha ligação com Jessica, é passado ao leitor a informação de que as duas compartilhavam uma amizade muito forte no passado que acabou de forma drástica por picuinhas adolescentes. Essa história da ligação Brie - Jessica poderia ter dado um ótimo arco para que o leitor, e até os próprios personagens, podessem considerar Brie uma forte suspeita do assassinato, mas, como no resto do livro, a preferência que a autora nutre pela personagem é tanta que os personagens nem se dão ao trabalho de pensar nessa hipótese e o resto da história é esquecida no churrasco. Não há desenvolvimento do por quê Brie apresentou Jessica a Spencer (E a personagem nem sequer admite que fez isso e nem explica nada. Ela passa o livro todo com a máscara de boa moça), a história da amizade de Jessica e Brie é a mais mal contada de todas e na visão de Kay: Brie é doce e linda demais para pensar em querer o mal de alguém. Bem diferente do que o leitor vê pelas atitudes da personagem.
O final é o pior possível. Durante toda a leitura, eu cheguei até a me apegar por uma personagem. Acredite se quiser. Eu meio que já tinha ideia de que a autora iria dar um jeito de fazer o que fez com ela porque adivinha só: A Madre Teresa de Calcutá da Brie não gostava dela nem um pouco. Eu ficava repetindo para mim mesma: "Se essa mulher fizer o que eu acho que vai fazer com essa personagem esse vai ter sido o pior suspense policial adolescente que eu já li na minha vida", e o melhor de tudo é que ela fez justamente o que eu temia com a personagem. Por isso eu estou aqui para dizer em primeira mão que: Esse é o pior suspense policial adolescente que eu já li na minha vida. Foi tão tosca a tentativa da autora de transformar a Nola em uma segunda Mona Vanderwaal que chega a ser engraçada. Não tem fundamento nenhum a explicação do porquê ela fez o que fez, a cena da descoberta foi a mais vergonha alheia que eu já li em um livro na minha vida. Foi mais ou menos assim: Kay descobre a verdade, arranca uma confissão esdrúxula de Nola, as duas têm uma briguinha de nada, (Um tapa na cara para cara, eu diria) e aí Kay, simplesmente, vai a delegacia e acabou história. Sem embate, sem empecilho, sem conflito, sem nada. Eu não tenho palavras para descrever o quão ridículo é esse livro no geral... E tudo para que? Para que no final, a doce e meiga Brie estivesse certa o tempo todo sobre o caráter duvidoso da maquiavélica Nola Kent. Eu até consigo imaginar a cena pós créditos da Kay dizendo para a Brie: "Você estava certa o tempo todo sobre a Nola. Desculpa não ter acreditado nas suas acusações inúteis e sem fundamento. Vou voltar a lamber o seu pé enquanto você me esnoba como tem que ser".
Sabe o limite? Eu extrapolei o meu com esse livro aqui. Digo com todas as letras que o único ponto positivo disso aqui é a representatividade sáfica presente na trama principal, mas não sobra nada além disso. Tanto tempo gasto com esse livro que poderia ser usado com livros melhores. E o pior de tudo: Eu nem li essa bomba através de pirataria, quem dera fosse, eu vi esse livro em edição econômica na revista da Avon e pensei: "Por que não, né? O preço tá em conta e é melhor que ler em Epub". Mais do que nunca, eu sou a prova viva de que o barato sai muito caro.
Conclusão final sem spoiler:
Se você chegou até aqui e não se intimidou pelas coisas que eu falei ou pela quantidade de spoilers que eu soltei (Desculpa mesmo, mas eu precisava desabafar), eu digo que, obviamente, eu não recomendaria o livro, mas aí vai de cada um ler ou não. Eu achei o livro bem ruim, mas ao meu ver não tem nada de muito problemático e mesmo se tivesse eu não sou ninguém para ditar o que as outras pessoas devem ou não ler baseadas no meu achismo. Leia se ficou curioso e se achar que deve, se quer mesmo tirar a prova se o que eu estou falando é verdade ou se quer ver se eu estou exagerando ou não. Enfim, é isso. Não recomendo e pode ter certeza que não leria outra vez.