Gabriela 19/02/2021
Nem só de fama e ficção viveu o Orwel!
A narrativa retrata, em estilo biográfico, as dificuldades e a vida miserável em que viveu o Orwell em Paris e Londres.
Um relato profundo e pesado de um tempo em que Orwell ao perder seu subemprego, passou de um desempregado para a condição de um mendigo.
É extremamente estarrecedor e revoltante ler esse relato que, segundo Orwell, em Londres não é permitido nem mesmo ser um miserável literalmente, não é possível se acomodar nas calçadas e nem mesmo praticar mendicância, se forem pegos em mendicância -aqueles que não possuem opções- são levados imediatamente para a cadeira. Ao menos em Paris é possível ser um mendigo, apesar de ser tratado como um rato de esgoto, um rato inútil e abominável.
Orwell relata também que a diferença entre um operário e um mendigo é que um recebe uma quantia considerável de dinheiro para se sustentar, então é visto como um cidadão, enquanto o mendigo é visto como um vagabundo e que gosta de viver dessa maneira, o que não é verídico, não há opções para os mendigos. A separação é sempre pelo dinheiro e pelo que ele pode comprar para te colocar em uma posição mais alta.
Há uma submersão considerável sobre como o miserável é visto pela sociedade e como ele próprio o vê: "tão miserável sem trabalho quanto um cão acorrentado". Os mendigos não são gratos pelas caridades, pela Igreja que os subnutrem e por qualquer coisa do tipo, não o são pois entendem que é grande a culpa da sociedade. Por outro lado há aqueles que não se consideram mendigos apenas por viverem em albergues, e abominam os seus semelhantes (retratando a inconsciência de classe). Isso também acontece nas castas dos operários, onde um escravo é escravo do escravo, mas sempre há um que possui altivez. Orwell viveu até meses comendo apenas pão e margarina e até mesmo cinco dias sem comida, relatando as sensações e pensamentos de quando um ser está faminto: até o 3º dia é possível se acostumar, mas após o 5º começa o desespero e a luta pela vida. Por fim, o autor propõe reflexões acerca de como a sociedade maltrata os miseráveis e Orwell até aponta soluções para diminuir o sofrimento deles, com empregos e opções reais e palpáveis, mas que nunca serão postas em prática pelos Estados e seus governos.
"Conclui-se então que a atitude do 'esses desgraçados têm o que merecem', normalmente assumida diante dos mendigos, não é mais justa do que seria diante de aleijados ou inválidos. Quando nos damos conta disso, começamos a nos colocar no lugar de um mendigo e a compreender como é a sua vida. Ela é extraordinariamente vã e terrivelmente desagradável."