A Elite do Atraso

A Elite do Atraso Jessé Souza




Resenhas -


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Vinicius 03/09/2022

Uma Obra-prima!
Parabéns Jessé Souza.

"O ódio ao pobre hoje em dia é a continuação do ódio devotado ao escravo de antes."

Esse livro seguramente é um dos melhores do grande Jessé Souza, demorei para terminar essa leitura porque é muito densa e tem muitos conceitos, mas sendo o Jessé vale muito a pena, ele certamente é um dos maiores intelectuais do Brasil seja entre os vivos como ele ou entre os mortos, desejo ler toda a obra dele um dia. Em elite do atraso ele desconstrói nossa interpretação da sociedade brasileira para depois construí-la de modo correto.

Foi inevitável o Jessé me convencer de suas ideias e conclusões, a análise da classe média é fenomenal e a crítica a grande imprensa é cirúrgica e extremamente verdadeira, iria dar exemplos que sozinho pude perceber, mas desisti para não deixar muito longa a resenha.

Ler esse livro foi um verdadeiro estudo, pois o tema é muito extenso e a compreensão não é fácil, além de ter umas palavras complicadas. O autor não facilitou e está bem acadêmico, sinto que o livro não foi escrito para o grande público, parece mais um livro base para outras pessoas explicarem para o grande público, demorei 2 meses na leitura, entretanto, acredito que quando eu ler pela segunda vez terei uma compreensão muito mais ampla e lerei bem mais rápido.

Aqui vai umas pequenas interpretações com as minhas palavras:

O autor tem a tese de que o racismo científico baseado na cor da pele não acabou só mudou de embalagem, agora é chamado de culturalismo, a ideia de que uma cultura é melhor que outra, que europeus e "americanos" são melhores que africanos ou latinos, por exemplo, e que isso é colocado na cabeça dos cidadãos de ambos os lados, um para se sentir superior e o outro para se sentir inferior e com isso ambos ficarem conformados com suas situações.

Outra tese é que a corrupção no Brasil não começa na política, a corrupção vem da elite que usa o poder e o dinheiro para romper os políticos para atender seus interesses, enquanto a corrupção dos políticos é na casa dos milhões, o lobby da elite é de bilhões e um dinheiro que vai para fora do Brasil.

Simplesmente não dá par falar de tudo que eu gostaria sobre esse livro em uma resenha, pois já está enorme e eu nem falei da classe média, e nem dei exemplos claros da manipulação da mídia, que tem casos recentes que são contundentes.

Poderia escolher muitos trechos dessa obra grandiosa então foi difícil colocar só esses:

"Muito se fala sobre a escravidão e pouco se reflete a respeito. Fala-se na escravidão como se fosse um nome e não um conceito científico que cria relações sociais muito específicas."

"Como todo processo de escravidão pressupõe a animalização e humilhação do escravo e a destruição progressiva de sua humanidade, como o direito ao reconhecimento e à autoestima, a possibilidade de ter família, interesses próprios e planejar a própria vida, libertá-lo sem ajuda equivale a uma condenação eterna. E foi exatamente isso que aconteceu entre nós."

"A classe média sempre foi, desde meados do século passado, no Brasil, a tropa de choque dos ricos e endinheirados. É preciso compreender, no entanto, como isso se tornou possível."

"Todas as classes do privilégio tendem, necessariamente, a ver seu privilégio como inato ou merecido. Como diria Weber, os privilegiados não querem apenas exercer o privilégio, mas querem também que esse mesmo privilégio seja percebido como merecido e como um direito."
Jécyka 04/09/2022minha estante
Parece ser maravilhoso! Pela sua resenha top achei que daria 5 estrelas e favoritado.


Vinicius 04/09/2022minha estante
Kkkkk vdd só não dei 4.5 em vez de 5, pq o Jessé poderia ter facilitado mais a leitura para que o livro fosse mais lido e tido um público maior


Andréia Barbosa 13/09/2022minha estante
Mas que resenha foi essa?! Tô de boca aberta!! Se essa resenha de categoria está assim, imagina como deva ser o livro! Parabéns


Vinicius 13/09/2022minha estante
Obrigado Andréia, que comentário precioso o seu, chega fico sem jeito ^_^


Isadora 13/03/2023minha estante
Amg eu acho que vc ia gostar de ler "Marx - Uma introdução" do Jorge Grespan. Eu vim aqui na pag de resenhas pq tô pensando seriamente em abandonar Elite do Atraso, pq o Jessé parece estar querendo reinventar o marxismo. Não sei se vale a pena continuar, pq parece que mt do que ele fala eu "já li em algum lugar", sabe? Não sei se é por causa desse livro que indiquei, mas talvez vc goste tb. Obg pela resenha :)


Andre.Thieme 30/12/2023minha estante
Concordo muito com a sua resenha. Achei o livro muito cirúrgico, como li em 2023, talvez já estivesse mais familiarizado com o que ele expõe, ainda assim com clareza e fundamentação excelentes.




mpettrus 27/12/2022

O Atual Capataz da Elite é a Classe Média
??A Elite do Atraso? foi outra obra de não-ficção que fez parte das minhas releituras em 2022, assim como ?Os Jacobinos Negros?, também já resenhado aqui. Essa obra foi pensada, elaborada e escrita pelas mãos de Jessé Souza, respeitado sociólogo e pesquisador, graduado em Direito e mestre em Sociologia pela UnB, e também doutor em Sociologia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, com pós-doutorado em Psicanálise e Filosofia na The New School for Social Research, em Nova York.

Souza é um pensador polêmico e corajoso, se situando do lado esquerdo do espectro político, trazendo nessa obra explicações autênticas e muito diferentes do que a ?grande mídia? costuma noticiar para a população, principalmente, nesse momento turbulento por qual ainda estamos passando, pós eleições do 2º turno para Presidente da República, e ao que tudo indica estar muito longe de acabar.

? O ponto mais interessante para mim abordado pelo autor nesse livro é o seu interesse em mostrar como o pensamento sociológico culturalista racista de Gilberto Freyre e a sociologia do brasileiro ?vira-lata?, cujo ícone é a categoria do ?homem cordial? de Sérgio Buarque de Holanda, uniu-se ao patrimonialismo de Raymundo Faoro e contaminou toda a esfera pública.

A partir dessas percepções, e em resposta aos grandes problemas nacionais de hoje, Souza formula uma releitura crítica e de caráter estrutural sobre certos elementos considerados formadores do Brasil em seus múltiplos aspectos, social, econômico, político ou culturalmente. O ponto de partida é a escravidão. Para o autor a escravidão no Brasil nunca foi efetivamente compreendida nem criticada. Usando como base de pesquisa a obra ?Raízes do Brasil? de Sérgio Buarque de Holanda, o autor demonstra porque o conceito de ?patrimonialismo? é apontado como uma ideia para legitimar interesses econômicos de uma elite que, além de dominar o mercado, é a real fonte do poder e da corrupção no país, provocando assim entre as classes, extrema desigualdade social.

? De maneira muito didática e elucidativa, o autor desconstrói todo o conceito de ?patrimonialismo? forjado por esses sociólogos brasileiros do século XX, demonstrando como esse conceito forjado se encaixou na visão de ?vira-lata? atribuindo toda a corrupção ao Estado porque foi a nossa maldita herança portuguesa, ignorando completamente a particularidade da gênese da sociedade brasileira: a escravidão, que não existia em Portugal.

E a partir desse entendimento, a sociedade hoje compreende que o mercado tornou-se a casa de toda a ilibação. Para o autor, esse conceito forjado nos anos 30 do século XX foi prejudicial para compreendermos as dinâmicas sócio-político atuais que colocou como fator principal da corrupção brasileira: o Estado. Quando na verdade, o mercado, esse tão exaltado pela elite e, pasmem, pela Classe Média, manipuladíssima pela Burguesia, também está no cerne da corrupção brasileira.

Para o autor, é preciso transcender e extirpar essa lógica de pensamentos, é preciso reconhecer que o espólio intelectual brasileiro é fortemente marcado pelo racismo, que reduz nós brasileiros a párias e continuadores de uma trajetória da qual não conseguiremos nos livrar tão cedo. O nosso principal problema hoje predica na escravidão e nas suas formas atuais, que se revelam, entre outros, pelo ódio que a classe média tem em relação ao pobre.

Também pude notar o quanto a leitura dessa obra me trouxe constantemente uma reflexão crítica sobre os fatores que possibilitaram a realização do golpe de 2016. Publicada em 2017, logo após a concretização do golpe contra a democracia, Souza busca explicar os fatores que contribuíram para que o golpe perpetrado contra uma presidente democraticamente eleita se tornasse possível após anos de crescimento econômico e inclusão social.

A construção de uma narrativa de luta contra a corrupção de um partido político, no caso, o PT, capitaneada pela mídia, a criação de um pacto classista que contou com o apoio de amplos setores da sociedade brasileira e, a ação seletiva e persecutória dos procuradores Da ?Operação Lava-Jato? buscando refrear a ascensão social da ralé, foram motivos cruciais para que se concretizasse na história política do nosso país o golpe contra a Presidente da República Dilma Vana Rousseff.

? De maneira geral, após duas releituras dessa obra no decorrer do ano, e na minha visão, enquanto ser intelectual, considero um excelente livro de estudos para compreendermos politicamente nossa sociedade. Livros de não-ficção sempre me parecem muitos perigosos se o leitor não tem um conhecimento prévio do assunto do qual irá ter contato, sobretudo, se for pela primeira vez.


?Desse modo, Souza ataca posturas sociológicas baseadas no senso comum, na construção de ?mitos fundadores?, no pensamento de que maximizar relações pessoais em detrimento da impessoalidade para aferir vantagens é uma exclusividade do Brasil, bem como as análises que restringem pensamentos críticos unicamente a partir da renda ou da posição do trabalhador dentro do sistema produtivo.

Para o bem ou para o mal, é preciso, conselho meu, que se busque ter noções primárias de alguns tópicos do que irá ler, para não ficar muito à mercê da visão totalizante do autor. A narrativa do autor tem uma linguagem acessível, trabalhando no decorrer do livro uma tese não tão simples, porque é criteriosa e abrangente a respeito da construção do conceito patrimonialista e suas raízes nefastas na nossa sociedade racista.

? Encontrei sim muitos pontos dos quais discordo, porém, compreendo o posicionamento do autor, afinal, ele é um grande pensador de esquerda. Entendo que ele tenha tentado ser maximamente objetivo no debate de suas ideias, mas me pareceu uma obra propagandista do ?lulopetismo?, haja vista, que o autor deliberadamente omitiu quaisquer equívocos do ?Partido dos Trabalhadores?, bem como, seu tratamento as obras de Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro.

Na faculdade de Direito, li obras desses sociólogos, considero sim que se tornaram obras um tanto ?datadas?, considero que eles cometeram equívocos, mas isso são inevitáveis de acontecer nas áreas de Ciências Sociais e Humanas, porque a Ciência não é exata. Incomodou-me o fato de que o autor demonizou esses sociólogos, sem tentar tratar minimamente de suas próprias contradições. Ora, pois, vejamos, eles foram homens de seu tempo e também à frente de seu tempo. Eles também foram fundadores do PT. Lula conviveu com esses intelectuais.

Outro ponto que muito me incomodou, aqui realmente não tive como deixar de notar, foi o quanto o autor poupa descaradamente o sociólogo alemão Jürgen Habermas, que é essencialmente identificado com o pensamento liberal, ou seja, o autor critica o pensamento da lógica do ?vira-lata?, mas acaba reproduzindo esse comportamento ao desqualificar nossos pensadores brasileiros que, mal ou bem, foram importantes para nós e, idealiza pensadores alemães.

Ainda com tantos pontos em discordância, e não vejo problema nisso, muito pelo contrário, considero enriquecedor para o meu próprio estudo, essa obra é muito importante para o debate atual. Entender que a Casse Média é o atual capataz da Elite, organizando, controlando, pregando valores e visões de vida com seu exacerbado moralismo nada crítico, mesmo quando se creem modernas e cosmopolitas, a sua marca distintiva é sim o atraso, o apego ao passado e ao ultrapassado.

E diante dessas condições, precisamos pensar e executar uma transformação radical sobre a realidade brasileira, como Souza muito bem colocou, se quisermos modificar as permanências da escravidão que deixaram marcas profundas na nossa sociedade e suas mazelas que ainda se fazem presentes na atualidade.

? Souza nos oferece robusta argumentação científica para a sociologia brasileira para repensar e reinterpretar o Brasil de hoje, permitindo uma análise de um novo paradigma para enxergar problemas e soluções para, sobretudo, enfrentarmos a questão da desigualdade social que datam da escravidão e ainda marcam a nossa sociedade, o que permite que a Elite do atraso, termo cunhado pelo autor de maneira brilhante para designar as classes dirigentes brasileiras ou suas frações dominantes, coloque em xeque o princípio da igualdade social como valor fundamental da democracia, para legitimar sua exploração contra a classe popular e com apoio da Classe Média, tão perto da ralé e tão distante da elite, com o objetivo de perpetuar a manutenção do seu poder e de seus privilégios.
Nilsonln 28/12/2022minha estante
Excelente e bem embasada sua resenha. Não lerei o livro por não se tratar de tema de meu interesse, mas achei interessante tua resenha e agradeço por compartilhar. Aproveito para te desejar um maravilhoso 2023 recheado de muitas coisas boas, sucesso e leituras maravilhosas!


Sandra.Rodrigues 28/12/2022minha estante
?????????? parabéns, muito interessante sua abordagem, continue nos presenteando com suas resenhas....Feliz 2023 !!!


mpettrus 28/12/2022minha estante
Obrigado pelo feedback, Nilson Luis.

Aproveito também para lhe desejar um excelente Ano de 2023 de muita saúde, realizações e, sobretudo, de leituras maravilhosas e incríveis para você compartilhar conosco aqui ?????

Feliz 2023!!!


mpettrus 28/12/2022minha estante
Oi, Sandra Rodrigues!!! Muito obrigado pelo feedback ??????

Também aproveito pra lhe desejar desde já um excelente Ano de 2023.

Muita saúde, prosperidade e leituras incríveis para você compartilhar aqui conosco!!!

????


Sandra.Rodrigues 31/12/2022minha estante
?????????




Ana 15/04/2020

A doença do Brasil é o ódio de classe!
Esse livro é tão bom que eu o utilizei como base para escrever meu Trabalho de Conclusão de Curso, que abordou o seguinte tema: A INFLUÊNCIA NEOLIBERAL NO BRASIL E OS REFLEXOS NO FENÔMENO DA TERCEIRIZAÇÃO: A ELITE SE IMPÕE SOBRE A RALÉ? (link: http://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2020/1/2020_01_0621_0654.pdf)

O livro é escrito com palavras de fácil entendimento. Um vocabulário mais da gente, do cotidiano. E, em alguns momentos, chega até a ser um pouco engraçada a narrativa. Engraçada, mas não muito. Os problemas são reais e as comparações literárias vão além do conhecimento do homem médio.

Nesse livro, Jessé explica, ao máximo, o porquê do Brasil estar dando tão errado em absolutamente tudo que mete a cara. Como o próprio nome diz "A elite do atraso" se instala e impede qualquer crescimento econômico, cultural, social ou espacial que a ela não pertença. Com isso, o autor quer dizer que a elite do atraso - leia-se como os ricos de verdade - sempre tampou o sol para os pobres. E quando se fala em RICOS, não falamos de burgueses médios como médicos, juízes, pessoas bem-sucedidas financeiramente, e muito menos políticos. Segundo Jessé, ricos de verdade são esses que manipulam a massa a ponto de transformar a Operação Lava Jato um assunto para brincantes. São os que modelam a sociedade e criam a cultura dos pobres e da classe média em geral, como, por exemplo, a família Marinho, donos da Rede Globo - a maior emissora da América Latina.
Ademais, o livro aborda tantos assuntos com uma explicação magnífica, principalmente no que toca o racismo estrutural e a chegada dos portugueses no território brasileiro. Não explicar o tanto de aprendizado que esse livro me trouxe. Recomendo fortemente!

Aqui, fiz quase um fichamento das partes que mais me chamaram atenção e podem vir a ser úteis um dia.

1. "Se dou comida aos pobres, me chamam de Santo. Mas quando pergunto por que são pobres, me chamam de comunista." Dom Hélder Câmara. (p. 8)

2. Não somos formigas que repetem uma informação genética, nosso comportamento é determinado por uma visão construída do mundo e das coisas. (p. 9)

3. Esse sentido do mundo nos parece então [...] natural, dado que nascemos sob a influência dele [...] Assim, ele nos aparece como algo confiável. É essa confiabilidade que torna tão fácil a reprodução dos privilégios legitimados. (p. 9)

4. Compreender a escravidão como conceito é muito diferente. É perceber como ela cria uma singularidade excludente e perversa. (p. 10)

5. O poder é a questão central de toda sociedade. A razão é simples. É ele que nos irá dizer quem manda e quem obedece, quem fica com os privilégios e quem é abandonado e excluído. (p. 12)

6. Destruir a Petrobras [...] significa empobrecer um país inteiro de um recurso fundamental. (p. 13)

7. Essas ideias do Estado e da política corrupta servem para que se repassem, a baixo custo, empresas estatais e nossas riquezas do subsolo para nacionais e estrangeiros que se apropriam privadamente da riqueza que deveria ser de todos. (p. 13)

8. Isso significa que, no espaço de décadas e até de séculos, todo conhecimento humano é dominado por um "paradigma". Um paradigma é o horizonte histórico que define os pressupostos para qualquer tipo de conhecimento. (p. 15)

9. O culturalismo tornou-se uma espécie de "senso comum internacional" para a explicação das diferenças sociais e de desenvolvimento relativo no mundo inteiro. (p. 17)

10. As pessoas passam a pensar o mundo de tal modo que favorece a reprodução de todos os seus privilégios. (p. 21)

11. O homem é percebido como espírito, em oposição às mulheres, definidas como afeto. Daí a divisão sexual do trabalho, que as relega ao trabalho invisibilizado e desvalorizado na casa e no cuidado dos filhos. Nós nunca refletimos acerca dessas hierarquias, assim como não refletimos sobre o ato de respirar. É isto que as faz tão poderosas: elas se tornam naturalizadas. (p. 23)

12. Culturalismo racista [...] não se vincula à cor da pele. (p. 24)

13. Colonizar o espírito e as ideias de alguém é o primeiro passo para controlar seu corpo e seu bolso. (p. 25)

14. Quem controla a produção das ideias dominantes controla o mundo. (p. 25)

15. É necessário, para quem domina e quer continuar dominando, se apropriar da produção de ideias para interpretar e justificar tudo o que acontece de acordo com seus interesses.

16. O brasileiro como pré-moderno, tradicional, particularista, afetivo e, para completar, com uma tendência irresistível à desonestidade. (p. 28)

17. O mercado é divinizado pela mera oposição ao Estado, e sua corrupção - tanto "legal" [...] quanto ilegal [...] - tornada invisível. (p. 34)

18. O Estado é tornado o suspeito preferido - como os mordomos nos filmes policiais - de todos os malfeitos. Essa ideia favorece os golpes de Estado baseados no pretexto da corrupção seletiva. (p. 34)

19. É necessária uma reflexão independente também acerca do Estado e da sociedade para que o culturalismo conservador de direita não colonize a esquerda como acontece até hoje. (p. 40)

20. Todos falam. No entanto, dizer o nome não significa compreender o conceito. (p. 42)

21. Reproduzir todo tipo de privilégio escravista, ainda que sob condições modernas. E, com um toque satânico, demonizar o Estado como repositório da suposta herança maldita portuguesa e, sempre que ele for ocupado pela esquerda, reverberar seletivamente a acusação moralista já pronta.

22. Exprimiu-se nessas relações o espírito do sistema econômico que nos dividiu, como um Deus todo-poderoso, em senhores e escravos. (p. 52)

23. O próprio conceito de sadomasoquismo implica proximidade e alguma forma de intimidade. Intimidade do corpo e distância do espírito, sem dúvida, mas de qualquer modo proximidade. E, efetivamente, grande parte da relação entre senhores brancos e escravos negros se realizada sob essa forma de contato íntimo. (p. 55)

24. A transformação social de largas proporções, implicando novos hábitos, novos papéis sociais, novas profissões e, ao fim e ao cabo, a construção de uma nova hierarquia social. (p. 61)

25. Patriarcalismo [...] Esses valores universais e essas ideias burgueses entram no Brasil do século XIX do mesmo modo como haviam se propagado na Europa do século anterior: na esteira da troca de mercadorias. (p. 62)

26. O sistema social passa a ser regido por um código valorativo crescentemente impessoal e abstrato. A opressão tende a ser exercida agora cada vez menos por senhores contra escravos, e cada vez mais por portadores de valores europeus, sejam eles de qualquer cor - efetivamente assimilados ou simplesmente imitados -, contra pobres, africanos e índios. (p. 63)

27. O sadomasoquismo social muda de "habitação". (p. 63)

28. A urbanização representou uma piora nas condições de vida dos negros livres e de muitos mestiços pobres das cidades. O nível de vida caiu, a comida ficou pior e a casa também. (p. 61)

29. Para além das mudanças econômicas, houve as culturais e políticas, com o advento das novas ideias liberais e individualistas, que logo conquistaram setores da imprensa e as tribunas parlamentares. (p. 66)

30. A máquina veio desvalorizar a base mesma da sociedade patriarcal, desvalorizando o trabalho muscular e desqualificado do escravo, diminuindo tanto a importância relativa do senhor quanto do escravo, agindo como principal elemento dissolvente da sociedade e da cultura patriarcais. (p. 67)

31. O mestiço bacharel constitui uma nobreza associada às funções do Estado e de um tipo de cultura mais retórico e humanista do que a cultura mais técnica e pragmática do mestiço artesão. (p. 69)

32. Podemos perceber aqui a semente da formação de uma classe decisiva para a construção do Brasil moderno: a classe média, cujo privilégio irá se concentrar na reprodução social do capital cultural valorizado. (p. 69)

33. Ralé brasileira [...] mostrando que a antiga "raça condenada" se transforma em "classe condenada". Mas a sua função social continua a mesma. Ela serve às classes incluídas como mecanismo de distinção em duas frentes: uma simbólica, para provocar o prazer de "superioridade" e do mando; e outra material e pragmática, no sentido de criar uma classe sem futuro que pode, portanto, ser explorada a preço vil. (p. 70)

34. O ódio ao pobre hoje em dia é a continuação do ódio devotado ao escravo de antes. (p. 70)

35. A ânsia da modernização, de resto estampada na bandeira da nação nas palavras de "ordem e progresso", passa, a partir dessa época, a dominar a sociedade brasileira como o princípio unificador das diferenças sociais [...] É em nome dela também que passa a operar um novo código social nascente, uma nova "hierarquia social" que vai estipular os critérios que permitem e legitimam que alguns sejam vistos como superiores e dignos de privilégios, e outros sejam vistos como inferiores e merecedores de sua posição marginal e humilhante. " (p. 75)

36. A partir do fim do século XIX, no entanto, o Brasil passa por transformações fundamentais. A primeira e mais importante delas é a abolição formal da escravidão. Ela instaura um mercado formal competitivo do trabalho com base no contrato que significa uma importante mudança, ainda que com continuidades fundamentais sob outras roupagens. (p. 78)

37. Do abandono dos ex-escravos, a existência dessa classe singulariza e explica a situação social, política e econômica do Brasil como nenhuma outra questão [...] O dado essencial de todo esse processo foi o abandono do liberto à sua própria sorte (ou melhor, ao próprio azar). Como todo processo de escravidão pressupõe a animalização e humilhação do escravo e a destruição progressiva da sua humanidade, como a negação do direito ao reconhecimento e à autoestima, da possibilidade de ter família, de interesses próprios e de planejar a própria vida, libertá-lo sem ajuda equivale a uma condenação eterna. (p. 79-80)

38. "Ralé brasileira": composta pelos negros recém-libertos e por mulatos e mestiços de toda a ordem para quem a nova condição era apenas outras forma de degradação. [...] Temos aqui a constituição de uma configuração de classes que marcaria a modernização seletiva e desigual brasileira a partir de então. (p. 82)

39. Ao perderem a posição de principal agente do trabalho, os negros perderam também qualquer possibilidade de classificação social. [...] O negro torna-se vítima da violência mais covarde [...], é exigido dele agora que se torna trabalhador orgulhoso do trabalho. O mesmo trabalho que pouco antes era o símbolo de sua desumanidade e condição inferior. (p. 82)

40. A ansiedade pelo progresso percebido como imitação servil dos modos e das expressões culturais europeias criava um ambiente de intolerância. (p. 83)

41. Outro fator que perdura até nossos dias é que o medo dos escravistas da "rebelião negra" se transforma e é substituído pela definição do negro como "inimigo da ordem". [...] Vem daí, portanto, o uso sistemático da polícia como forma de intimidação, repressão e humilhação dos setores mais pobres da população. (p. 83)

42. A oposição entre o "pobre honesto" e o "pobre delinquente" rasga praticamente todas as famílias e torna muito difícil a existência de formas de solidariedade de classe na "ralé", as quais são possíveis , por exemplo, na classe trabalhadora. (p. 84)

43. O caso atual da exploração da ralé brasileira pela classe média para poupar tempo de tarefas domésticas, sujas e pesadas - que lhe permite utilizar o tempo "roubado" a preço vil em atividades mais produtivas e mais bem-remuneradas - mostra uma funcionalidade da miséria clara como a luz do sol. (p. 85)

44. A exclusão social e o comportamento disruptivo são sempre percebidos como passageiros, e não como aspectos que podem se tornar permanentes e que, dependendo do nível moral e político de uma sociedade concreta, podem ser reproduzidos Ad infinitum. (P. 85)

45. A teoria da modernização sofisticou a moda de eufemizar a realidade para negar formas de dominação que tendem a se eternizar. (p. 85)

46. Os países condenados a serem exportadores de matérias-primas para sempre não são mais chamados de subdesenvolvidos, mas sim de "em desenvolvimento", para assinalar uma transição que, na verdade, como também se comprova no caso brasileiro, nunca termina. (p. 85)

47. A própria formação daquilo que Florestan chama de "gentinha nacional", ou seja, os negros e mestiços e brancos "atrasados" que se amontoam nos cortiços e favelas. (p. 86)

48. Não há como separar [...] classe do preconceito de raça [...] são uma forma de continuar a escravidão e seus padrões de ataque covarde contra populações indefesas, fragilizadas e superexploradas. (p. 87)

49. O excluído, majoritariamente negro e mestiço, é estigmatizado como perigoso e inferior e perseguido não mais pelo capitão do mato, mas sim, pelas viaturas de polícia com licença para matar pobre e preto. [...] E essa continuação da escravidão por outros meios se utilizou e se utiliza da mesma perseguição e da mesma opressão cotidiana e selvagem para quebrar a resistência e a dignidade dos excluídos. (p. 88)

50. Inadaptados ao mundo moderno, nossos excluídos herdaram [...] todo o ódio e o desprezo covarde pelos mais frágeis e com menos capacidade de se defender. (p. 88)

51. Esse abandono e essa injustiça são o real câncer brasileiro e a causa de todos os reais problemas nacionais. (p. 89)

52. A forma mais eficaz e comum de se negar a importância do pertencimento de classe social para a vida de todos nós é percebê-la apenas como realidade econômica. (p. 91)

53. No nosso caso, as classes populares não forma simplesmente abandonadas. Elas foram humilhadas, enganadas, tiveram sua formação familiar conscientemente prejudicada e foram vítimas de todo tipo de preconceito, seja na escravidão, seja hoje em dia. Essa é a nossa diferença real em relação à Europa que admiramos. A principal diferença é que a Europa tornou as precondições sociais de todas as classes muito mais homogêneas. Ainda que exista desigualdade social, ela não é abissal como aqui. (p. 95)

50. O capital cultural, por exemplo, que significa basicamente incorporação pelo indivíduo de conhecimento útil ou de prestígio. (p. 97)

51. Tudo que chamamos de sucesso ou fracasso na vida depende do acesso privilegiado ou não a esses capitais. (p. 97)

52. São produzidos, nesse contexto, seres humanos com carências cognitivas, afetivas e morais [...] vão querer se distinguir e se sentir superiores. E essa superioridade tem que ser proclamada e repetida todos os dias sob as mais variadas formas. A própria lei formal não vale para elas. Sabemos que matar um pobre nunca foi crime entre nós. (p. 107)

53. Uma classe só tolerada para exercer os serviços mais penosos, sujos e perigosos, a baixo preço, para o conforto e uso do tempo poupado em atividades produtivas pela classe média e alta. [...] Como essa tragédia diária é literalmente invisível e naturalizada como a coisa mais normal do mundo, o próprio pobre acredita na sua maldição eterna. (p. 107)

54. Tenentismo, movimento de oficiais de baixa patente que ansiavam pela renovação moral do Brasil a partir de cima, pelo Estado reformador. (p. 119)

55. Sem aprendizado moral não se tem desenvolvimento econômico que sirva à maioria da sociedade. (p. 121)

56. É na esfera pública que a classe média é colonizada pelos interesses do dinheiro. (p. 123)

57. Para Adorno, a indústria cultural é a aplicação consequente da lógica capitalista da maximização do lucro à esfera dos bens simbólicos. Ou seja, além de ser a forma dominante de produzir mercadorias materiais, como salsichas e roupas, o capitalismo também passa a ser a forma dominante da produção de mercadorias simbólicas, como a informação e o conhecimento. (p. 131)

58. A classe média não é uma classe necessariamente conservadora. Também não é homogênea. O movimento tenentista, conhecido como o primeiro movimento político comandado pelos setores médios no Brasil, revela bem essas características. (p. 138)

59. A oposição à corrupção do Estado era uma das bandeiras centrais do tenentismo. (p. 139)

60. Como o Estado corrupto passa a ser identificado como o mal maior da nação, a elite do dinheiro ganha uma espécie de carta na manga que pode ser usada sempre que a soberania popular ponha no poder, inadvertidamente, alguém contrário aos interesses do poder econômico. (p. 140)

61. Se os pobres são desprezados, os ricos são invejados. Existe uma ambiguidade nesse sentimento em relação aos ricos, que vincula admiração e ressentimento. (p. 141 e 142)

62. A noção de patrimonialismo é falsa por duas razões: primeiro as elites que privatizam o público não estão apenas, nem principalmente, no Estado, e o real assalto ao Estado é feito por agentes que estão fora dele, sobretudo no mercado. A elite que efetivamente rapina o trabalho coletivo da sociedade está fora do Estado e se materializa na elite do dinheiro, ou seja, do mercado, que abarca a parte do leão do saque. (p. 144)

63. A vida política do Brasil, desde então, é dominada por golpes de Estado movidos pela elite do dinheiro, com o apoio da imprensa e da base social da classe média, sempre que a soberania popular possa servir, por pouco que seja, aos interesses das classes populares. (p. 150)

64. Dois países dentro do mesmo espaço, que o economista Edmar Bacha chamou de "Belíndia", uma pequena Bélgica para os 20% de privilegiados e uma grande Índia empobrecida e carente para os 80% restantes. É possível agora ser de classe média e não mais compartilhar espaços sociais com as classes populares. (p. 152)

65.O desprezo e a humilhação que essa classe sofre desde o berço, unindo socialização familiar precária, que é o essencial do seu aspecto de classe, com o preconceito covarde e secular contra o escravo, que é seu aspecto de raça, a levam a fantasias sua realidade intolerável. A fantasia, que assume a forma da fuga pela droga e especialmente pelo álcool, ou dos tipos de religiosidade mágica que prometem o que não se pode realizar, são exemplos do escapismo de quem não tem futuro. (p. 157)

66. A classe média tende a imitar a elite endinheirada na sua autopercepção de classe sensível e de bom gosto, mostrando que essa forma é essencial para toda a distinção das classes do privilégio em relação às classes populares. Mas a classe média acrescenta a noção de meritocracia, de merecimento de sua posição privilegiada pelo estudo e pelo trabalho duro, mérito percebido como construção individual. Ainda que a meritocracia, como a noção de sensibilidade tam´bem, seja transclassista, a classe média é seu habitat natural. (p. 157)

67. Ódio aos mais frágeis e a culpabilização da própria vítima pelo seu infortúnio construído socialmente. (p. 161)

68. A suposta virtude da sensibilidade separa as classes superiores das classes populares na Europa como em todo lugar. [...] Mas o que lá não se tem é a divisão entre "gente" e "não gente", típica de países escravocratas que nunca criticaram essa herança. No nosso caso, criamos, inclusive, uma herança fantasiosa, como se os 350 anos de escravidão não valessem nada. [...] O que precisa ser compreendido de uma vez por todas é que ser "gente", ser considerado "ser humano", não é um dado natural, mas, sim, uma construção social. (p. 162)

69. Pode-se chacinar e massacrar pessoas dessa classe sem que parcelas da opinião pública sequer se comovam. Ao contrário, celebra-se o ocorrido como higiene da sociedade. (p. 162)

70. O que está no jogo do capitalismo flexível é transformar a rebeldia secular da força de trabalho em completa obediência, ou, mais ainda, em ativa mobilização total do exército de trabalhadores em favor do capital. (p. 170)

71. A classe média é uma classe intermediária, entre a elite do dinheiro, de quem é uma espécie de "capataz moderno", e as classes populares, a quem explora. (p. 176)

72. A única corrupção que a incomoda é a reservada aos poderosos que controlam o poder político e econômico. (p. 178)

73. Em relação aos poderosos, a classe média pode se ver sempre como "virgem imaculada" e moralmente perfeita. (p. 178)

74. Para que se possa odiar o pobre e o humilhado, tem-se que construí0lo como culpado de sua própria (falta de) sorte e ainda torná0lo perigoso e ameaçador. (p. 179)

75. O Brasil tem mais assassinatos - de pobres - que qualquer outro país no mundo. São 70 mil pobres assassinados por ano no Brasil. Existe uma guerra de classes hoje declarada e aberta. Construiu-se toda uma percepção negativa dos escravos e de seus descendentes, como feios, fedorentos, incapazes, perigosos e preguiçosos, isso tudo sob forma irônica, povoando o cotidiano com ditos e piadas preconceituosas. (p. 180)

74. Mesmo quem critica os preconceitos os tem dentro de si, como qualquer outra pessoa criada no mesmo ambiente social. O que nos diferencia é a vigilância em relação a eles e a tentativa de criticá-los de modo refletido em alguns e sua ausência em outros. Mas todos nós somos suas vítimas. (p. 181)

75. Os quatro nichos ou frações de classe [...] às que denominamos como fração protofascista, fração liberal, fração expressivista [...], fração crítica. (p. 184)

74. O conceito de patrimonialismo é a noção explicativa mais importante - importante como um juízo de fato, não de valor - para a compreensão do Brasil moderno. (p. 201)

75. O conceito de patrimonialismo passa a ocupar o lugar que a noção de escravidão e das lutas de classe que se formam a partir dela deveria ocupar. A corrupção patrimonial substitui a análise das classes sociais e suas lutas por todos os recursos materiais e imateriais escassos. Faoro procura comprovar sua hipótese buscando raízes que se alongam até a formação do Estado português no remoto século XIV de nossa era. (p. 204)

76. Nas poucas vezes em que se verificou historicamente qualquer preocupação política com as demandas das classes populares, estas sempre partiram do Estado. (p. 205)

77. Desse equilíbrio de forças, temos a estruturação de uma comunidade dentro do Estado que fala em nome próprio: o estamento. Básico para o conceito de estamento é a noção de honra. Honra é o conceito central das sociedades pré-capitalistas tradicionais. Ela funda-se no prestígio diferencial e na desigualdade. Para Faoro: Os estamentos florescem, de modo natural, nas sociedades em que o mercado não domina toda a economia, a sociedade feudal ou patrimonial. Não obstante, na sociedade capitalista, os estamentos permanecem, residualmente, em virtude de certa distinção mundial, sobretudo nas nações não integralmente assimiladas ao processo de vanguarda... O estamento supõe distância social e se esforça pela conquista de vantagens materiais e espirituais exclusivas. As convenções, e não a ordem legal, determinam as sanções para a desqualificação estamental, bem como asseguram privilégios materiais e de maneiras. O fechamento da comunidade leva à apropriação de oportunidades econômicas, que desembocam, no ponto extremo, nos monopólios de atividades lucrativas e de cargos públicos. Com isso, as convenções, os estilos de vida incidem sobre o mercado, impedindo-o de expandir sua plena virtualidade de negar distinções pessoais. Regras jurídicas, não raro, enrijecem as convenções, restringindo a economia livre, em favor de quistos de consumo qualificado, exigido pelo modo de vida. De outro lado, a estabilidade econômica favorece a sociedade de estamentos, assim como as transformações bruscas, das técnicas ou das relações de interesse, os enfraquecem. Daí que representem eles um freio conservador, preocupados em assegurar a base de seu poder. Há estamos que se transformam em classes e classes que evolvem para o estamento - sem negar seu conteúdo diverso. Os estamentos governam, as classes negociam. (p. 208)

78. O Brasil não herda de Portugal sua estrutura social, mas sim da escravidão, que não existia em Portugal. (p. 210)

79. Não existe nenhum exemplo histórico de desenvolvimento de um mercado capitalista dinâmico sem que o Estado tenha sido o apoio e esteio principal. (p. 211)

80. O patrimonialismo é uma variação do tipo de dominação tradicional. (p. 211)

81. Entre 1930 e 1980, o Brasil foi um dos países de maior crescimento econômico no mundo, logrando construir um parque industrial significativo sem paralelo na América Latina. (p. 216)

82. Aqui valia tomar a terra dos outros à força para acumular capital, humilhação cotidiana. Isso é herança escravocrata, não portuguesa. (p. 219)

83. A história da sociedade brasileira contemporânea não pode ser compreendida sem que analisemos a função da mídia e da imprensa conservadora. (p. 226)

84. O início do império da Globo foi construído à sombra da Ditadura Militar. Começando a operar em rede no país como um todo, ela passa a servir como porta-voz dos interesses do governo militar. (p. 227)

85. A defesa de minorias, desde que não envolva repartição de riqueza e de poder social, é apoiada pela empresa, que pode posar de crítica e emancipadora. (p. 228)

86. A glorificação do oprimido não ajuda em nada na melhoria do cotidiano cruel e opressivo dos pobres, mas emula a necessidade de legitimação da vida que se leva quando as possibilidades de mudanças efetivas estão interditadas. (p. 229)

87. A imprensa atacou de modo virulento e ajudou no episódio do "suicidamento" de Getúlio Vargas, apoiou o golpe de 1964 e se tornou com prazer e desenvoltura a voz da Ditadura. Também perseguiu Leonel Brizola - como sempre, por dinheiro - e ajudou no desmonte dos Cieps e dos investimentos em educação popular no Rio de Janeiro. Envolveu-se em fraudes explícitas na apuração de eleições para beneficiar Moreira Franco contra Brizola. Apoiou Fernando Collor de Mello contra Lula, utilizando-se dos recursos mais baixos que um jornalismo de latrina pode usar, com a edição maldosa do debate entre os concorrentes para favorecer Collor. Apoiou a venda e privatizações do patrimônio público, enganando seus espectadores no governo FHC para facilitar o saque do patrimônio público. (p. 230)

88. Uma espécie de soberania judicial autoconstituída, levando o caso até a própria escuta ilegal da presidenta, o que em qualquer outro lugar onde as leis também se aplicam a juízes inflados por uma mídia venal teria que ter levado à sua prisão e destituição do cargo. (p. 231)

89. A grande mídia coloniza para fins de negócios, escusos ou não, toda a capacidade de reflexão de um povo, ao impossibilitar o próprio aprendizado democrático que exige opiniões alternativas e conflitantes. (p. 236)

90. Afinal, se existe uma coisa que não muda na América Latina é que os Estados Unidos estão por trás de todos os golpes de Estado. (p. 237)

91. Cinquenta e três por centro do orçamento é pago por pessoas que ganham até três salários mínimos, em um contexto no qual os ricos ou não pagam impostou o sonegam em paraísos fiscais. (p. 238)

92. A Globo, em associação com a grande mídia a maior parte do tempo, e a Lava Jato fizeram o contrário disso e a nós todos de perfeitos imbecis. A título de combater a corrupção dos tolos, turbinaram e legitimaram a corrupção real como nunca antes neste país das multidões de imbecilizados. (p. 239)

93. A Globo teria sonegado, segundo auditoria da Receita Federal, em intrincado esquema de ocultação em paraísos fiscais, 358 milhões de reais ao fisco. Outras grandes empresas de comunicação estariam na mesma situação, segundo outras auditorias. (p. 241)

94. "Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela própria." Joseph Pulitzer

95. Na esfera política, o juiz Sergio Moro condena, com visível inexistência de provas materiais, em sentença ridicularizada por especialistas internacionais, o ex-presidente Lula à cadeia. Líder isolado nas pesquisas, Lula tinha a preferência de cerca de 40% do eleitorado, o dobro do segundo colocado, Jair Bolsonaro. As eleições foram, por sua vez, dominadas por fake news e acusações de financiamento ilegal em favor do candidato que antes detinha apenas metade das intenções de votos de Lula. Terminado o pleito, Bolsonaro eleito, Sergio moro receberia como prêmio ao seu "trabalho" o cargo de superministro das atividades repressivas. (p. 250)

Citação: SOUZA, Jessé. A elite do Atraso.Rio de janeiro. Estação Brasil, 2019, p. (inserir)



Tayna 27/04/2020minha estante
Obrigada pela resenha incrível!


Ana 30/04/2020minha estante
Disponha! ?


@allanvmariano 22/07/2021minha estante
Cadê o botão de compartilhar quando se precisa dele! Excelente!




Lista de Livros 12/06/2023

Lista de Livros: A elite do atraso, de Jessé Souza
Parte I:

“No Brasil, desde o ano zero, a instituição que englobava todas as outras era a escravidão, que não existia em Portugal, a não ser de modo muito tópico e passageiro. Nossa forma de família, de economia, de política e de justiça foi toda baseada na escravidão. Mas nossa autointerpretação dominante nos vê como continuidade perfeita de uma sociedade que jamais conheceu a escravidão, a não ser de modo muito datado e localizado. Como tamanho efeito de autodesconhecimento foi possível? Não é que os criadores e discípulos do culturalismo racista nunca tenham falado de escravidão. Ao contrário, todos falam. No entanto, dizer o nome não significa compreender o conceito.
A diferença entre nome e conceito é o que separa o senso comum da ciência. Pode-se falar de escravidão e depois retirar da consciência todos os seus efeitos reais e fazer de conta que somos continuação de uma sociedade não escravista. É como tornar secundário e invisível o que é principal e construir uma fantasia que servirá maravilhosamente não para conhecer o país e seus conflitos reais, mas sim para reproduzir todo tipo de privilégio escravista, ainda que sob condições modernas. E, com um toque satânico, demonizar o Estado como repositório da suposta herança maldita portuguesa e, sempre que ele for ocupado pela esquerda, reverberar seletivamente a acusação moralista já pronta.”
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Mais do blog Lista de Livros em:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2023/05/a-elite-do-atraso-parte-i-de-jesse-souza.html


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Parte II:

“Já no século XIX, o liberalismo tem esse sentido de recobrir com palavras bonitas como “liberdade” e “autonomia” o que era simplesmente uma reação ao Estado nascente e a sua necessidade de impor a lei e proteger os mais frágeis do simples abuso do poder sob a forma da força ou do dinheiro. O interregno de dominação política dos liberais no século XIX teve esse sentido não de liberar o poder local das amarras do incipiente Estado, mas, sim, de usar a máquina do Estado para o mandonismo e privatismo sem peias e limites dos já poderosos. A liberdade que nosso liberalismo sempre defendeu foi a de saquear a sociedade, tanto o trabalho coletivo quanto as riquezas nacionais, para o bolso da elite da rapina que sempre nos caracterizou.”
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Mais em:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2023/05/a-elite-do-atraso-parte-ii-de-jesse.html

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Parte III:

“Todo fascismo é, portanto, reflexo de uma luta de classes truncada, percebida de modo distorcido e, por conta disso, violento e irracional no seu cerne. Na sua base está a manipulação de emoções que geram agressividade, como medo, raiva, ressentimento e ansiedade sem direção, sempre com fins de manipulação política. A incompreensão racional, por parte da população, de processos políticos complexos é utilizada para a construção de bodes expiatórios, um modo historicamente eficiente de canalizar frustração e ressentimentos sociais. A marginalização de grupos minoritários e a violência aberta e disseminada, contaminando a sociedade como um todo, são as consequências inevitáveis de todo fascismo. (...)
O contexto geral do neofascismo contemporâneo parece resultar do processo de desenraizamento político e social dos indivíduos provocado, na esfera política, pelas mudanças do capitalismo financeiro, hoje dominante. Por meio de uma política consciente que destruiu ou enfraqueceu sindicatos, partidos e a capacidade associativa em geral – muito especialmente das classes populares –, o capitalismo financeiro cria o isolamento individual como marca da sociedade contemporânea. Isolado, o indivíduo não apenas pode ser explorado, trabalhar mais ganhando menos, sem direitos trabalhistas. Acreditando-se “empresário de si mesmo”, ele é deixado politicamente sem defesa. Pior ainda, é também cada vez mais dominado pela propaganda neoliberal que diz que as vítimas do desemprego e do subemprego precário, produzidas por um sistema econômico concentrador e improdutivo, são, elas próprias, as culpadas pelo próprio infortúnio. Esse indivíduo isolado e indefeso é assolado por uma agressividade que não compreende e, desse modo, ele ou dirige contra si próprio a raiva que sente por sua própria pobreza e privação ou a canaliza contra bodes expiatórios construídos para este fim. O caso brasileiro é paradigmático neste sentido. Uma multidão de desempregados e subempregados empobrecidos ao longo de anos de política em favor do rentismo nacional e internacional passa a ter a opção de dirigir sua raiva e seu ressentimento contra si mesma – quando não se entrega, como é comum, ao alcoolismo e à depressão – ou contra bodes expiatórios socialmente aceitáveis.”
*
Mais do blog Lista de Livros em:

site: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2023/05/a-elite-do-atraso-parte-iii-de-jesse.html
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Arthur 29/12/2020

A formação da nação e as tensões de classe
Reconheço a importância da obra de Jessé Souza e a sua audácia - no bom sentido - em buscar uma interpretação histórica da nossa formação nacional buscando um contraponto a obras clássicas como as de Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre.
O pilar da construção da identidade nacional na escravidão, e não em uma continuidade de Portugal, é, para mim, bastante pertinente e nisso o autor é extremamente competente em sua obra, munida de argumentos e arcabouço teórico e histórico que a fundamentam.
A atuação direta do "quarto poder" em diversos momentos da história brasileira também é muito bem abordada, deixando a pergunta (respondida na obra): qual classe é, então, feita de massa de manobra?
Esses elementos, bem como a explicação didática de conceitos como rentismo, populismo e patrimonialismo explicam, por exemplo, o ódio de classes no Brasil.
A minha grande questão com o livro, pelo menos nessa primeira leitura, foi a quase nenhuma menção a absurda concentração de renda no país, que penso também ser fator importante em todas as tensões sociais, econômicas e políticas no Brasil.
No mais, indico bastante a leitura, que considero sim importante para a compreensão não apenas do panorama atual do país, bem como - já dito - da nossa formação enquanto nação.
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Marcianeysa 26/02/2022

Classe média desnudada
O livro é muito bom, abriu meus olhos a observar toda história brasileira sob outro ângulo. O autor se utiliza de linguagem simples, por vezes agressivas, mas consegue passar brilhantemente suas conclusões. Todo brasileiro deveria ler.
Edson 26/02/2022minha estante
Boa!




Vitor Hugo 09/12/2023

BRASIL, QUAL É O TEU NEGÓCIO, O NOME DO TEU SÓCIO, CONFIA EM MIM!

Uma obra assumidamente ousada, que se propõe a instituir uma nova visão, uma nova ideia sobre a sociedade brasileira e suas mazelas.

Nesse sentido, o autor analisa de forma crítica as construções intelectuais que foram consagradas como ideias fundantes de nossa sociedade, em especial as de Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil) e Raymundo Faoro (Os Donos do Poder), as quais nos legaram o "homem cordial" e o patrimonialismo como as grandes chagas brasileiras. Mais tarde, ainda se juntaria o populismo a esta ordem de ideias.

Partindo de uma análise dos textos de Gilberto Freyre, de quem o autor valoriza a análise histórica e factual, mas discorda da interpretação daquele, apresenta-nos o conceito de "culturalismo racista", leitura ainda dominante, a qual aponta que nossos problemas estariam sempre no Estado e no "estamento" que dele se serve, permanecendo o setor privado, o mercado, livre de qualquer consideração negativa.

O autor, então, buscando caminho diverso, sustenta, e eis a base de toda obra, que nossas mazelas decorrem da longeva escravidão brasileira, a qual, sob novas roupagens, segue atuando de formas diversas na sociedade, até porque houve uma continuidade sem quebra temporal da abolição formal da escravidão ao abandono dos libertos, que passaram a constituir o que o autor chama de forma provocativa de "nova ralé de escravos brasileiros".

A "nova ralé de escravos brasileiros" é, na avaliação do autor, a base de nossa pirâmide social, a quem cabe sofrer perpétua humilhação e desprezo, desempenhando as mais desqualificadas atividades manuais; acima, estaria a classe dos trabalhadores qualificados ou semiqualificados; mais acima, a classe médias em todas as suas frações (protofacista, liberal, expressivista e crítica); por fim, no cume, a classe dos grandes proprietários e endinheirados, muito pouco quantitativa, mas que domina, desde o mercado, toda a vida da nação.

Aliás, a visão de classe do autor não é meramente econômica, mas decorre principalmente da mais básica socialização familiar, a qual definirá em grande medida a ocupação e a renda de cada indivíduo na luta pelos bens escassos a que chamamos de vida.

A luta a que se refere o autor é a busca pelos capitais essenciais para a afirmação da pessoa na vida social, quais sejam, o econômico, o cultural e aquele das relações pessoais.

Nesse aspecto, o enfoque do autor é na classe média, que se caracteriza pela apropriação do capital cultural, até mesmo para legitimar seus privilégios, o que ocorre com os discursos do moralismo e da meritocracia.

O que não se percebe, segundo o autor, é que a socialização familiar distinta da classe média já determina vantagens na corrida pelos capitais culturais, na medida em que permite a edificação de pressupostos como a capacidade de concentração e o pensamento prospectivo, o que não ocorre em meio às classes mais populares, notadamente na "ralé de novos escravos", cujos indivíduos componentes sofrem de carências cognitivas, afetivas e morais, gerando uma inaptidão para a competição social.

O grande drama nacional é, no contexto da luta de classes, o pacto antipopular entre a elite do dinheiro e a classe média, esta usada de forma inconsciente por aquela como verdadeira "tropa de choque" contra as classes populares, notadamente quando estas "ousam" uma diminuição da distância social, o que se dá, de forma precária, quando do exercício de governos ditos de "esquerda".

E isso se dá justamente pelo que o autor chama de "colonização" da esfera pública, a partir de ideias dos intelectuais no início citados (e outros que seguiram na mesma linha de pensamento ao longo do tempo), sendo que as tais ideias são massificadas por uma mídia e uma imprensa comprometida e venal, impedindo-se o aprendizado coletivo dada a ausência real do debate de diferentes ideias e opiniões.

Trata-se de uma verdadeira violência simbólica exercida pela "elite da rapina", a qual, partindo do mercado financeiro, dirige e manipula os grandes meios de comunicação, os quais tem como grande destinatária justamente a classe média, que se vê justificada nas ideias falsamente debatidas, de modo que, como já dito, é usada pela elite para a manutenção do estado de coisas, sempre em prejuízo da "ralé de novos escravos", vez que não se fixa o conceito de alteridade na sociedade, continuando a existir "gente" e "não gente".

As tais ideias dominantes, como já se percebe, são justamente o patrimonialismo e o populismo, de modo que as baterias da classe média apenas se voltam à corrupção ligada ao Estado (a "corrupção dos tolos)", enquanto a corrupção real, exercida pela elite financeira/rentista passa ao largo, de modo que os juros mais altos do mundo persistem, em uma intolerável e injusta transferência de renda, o mesmo ocorrendo com a colonização do orçamento púbico, que não se destina a contemplar as necessidades daqueles que mais precisam, mas sim a pagar a tal dívida pública, cujos credores são justamente aqueles que provocam a dívida, dadas as bilionárias e contínuas isenções fiscais e sonegações de tributos legitimamente devidos pela elite rentista.

Em suma, da leitura do texto, recordei-me de uma das tantas frases marcantes de Leonel Brizola: "o Brasil tem um sócio oculto".
preta velha 09/12/2023minha estante
excelente resenha. meus parabéns!




Ana 20/07/2020

Básico, mas importante
Quis ler Jesse para saber se seria uma boa indicação para conhecidos que não leem ou não estudam muito, mas que também não são protofascistas.
Há alguns argumentos problemáticos na obra, mas considerando ser um livro para o público leigo, faz críticas duras e verdadeiras. Bem escrito e de leitura fácil, mesmo quando apresenta argumentos mais acadêmicos.
Ainda que tenha detectado argumentos anticomunistas, já seria ótimo se todos soubessem qual a verdadeira corrupção brasileira e como a classe média é manobrada como um gado para atuar como capataz das elites. Acerta em cheio quando analisa a farsa da Lava-Jato e o papel da imprensa na destruição da economia e da democracia brasileira.
NathDuda 20/07/2020minha estante
Obrigada por tal descrição. Há tempos estava na procura de um livro que abordava isso e incrivelmente nunca tive essa indicação, nem mesmo em perfis voltado a isso. Enfim, só agradeço e já quero lê-lo o quanto antes.


NiaraH 20/07/2020minha estante
So pelo sua resenha ja deu uma puta vontade de ler. Muito bom livros que retratam a historia tao complicada da nossa politica brasileira.


Ana 22/07/2020minha estante
Que bom, meninas! ????




Viviane.Ramos 21/02/2021

A elite do atraso
A verdade realidade em nossa nação, a pátria amada Brasil a terra tupiniquins ,A 500 anos de história e uma triste realidade em nossa sociedade .
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Camila.Santos 01/09/2020

O autor faz uma análise sobre a sociedade brasileira desde os tempos da escravidão, mostrando como esses 300 anos de brutalidade se refletem na sociedade contemporânea, onde a elite econômica reproduz o papel de "senhores de engenho", enquanto os mais pobres exercem sua função como "escravos" tendo seu trabalho barato explorado e seus direitos subtraídos, humilhados, violentados, e tratados como uma classe de "sub-humanos". Aqui, o papel da classe média é o de fiel capataz, protetora dos privilégios da elite e dos seus próprios, fazendo sempre o possível para se distanciar e se diferenciar dos "escravizados", e se revoltando ao perceber a ascensão econômica das classes consideradas inferiores. Sob essa ótica, um governo popular (como nesse caso, o PT), que favoreceu essa ascensão econômica da população pobre (que começou a frequentar aeroportos, comprar carro, casa, viajar, e o mais importante, ter acesso ao ensino superior) iria contra os interesses da elite econômica, que utilizando-se do seu poder midiático, convenceu a classe média a ir às ruas para "combater a corrupção" (combate seletivo, que ignorava a participação de outros partidos e da iniciativa privada nos esquemas corruptos) e derrubar um governo democraticamente eleito num "golpeachment" injustificável e que nos trouxe consequências nefastas.
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Mara 20/01/2024

A sociedade brasileira
Uma análise sistemática da formação da sociedade brasileira e seu comportamento manipulável pela mídia para favorecer a elite. Do "viralatismo" brasileiro ao "pobre de direita", as estratégias de convencimento e dominação de um povo.
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Toni 06/09/2021

Leitura 53 de 2021

A elite do atraso [2017/2019 ed. ampliada]
Jessé Souza (RN, 1960-)
Estação Brasil, 2019, 272 p.

É bem difícil comentar com objetividade este livro quando, no meu caso, tenho tão poucas leituras da sociologia (o único texto criticado pelo autor que li foi Raízes do Brasil). Isso não significa que A elite do atraso seja complicado de ler (pelo contrário, é super acessível), mas apenas que é muito fácil se deixar seduzir pelo discurso inflamado de Souza contra os grandes bancos, a grande mídia e a verdadeira elite que dá golpes em cima de golpes para explorar riquezas que deveriam beneficiar a todos. #soudesses #queima

É possível estruturar os principais pontos do livro em 3 argumentos: 1) a crítica aos textos fundadores da sociologia brasileira (Sérgio Buarque, Gilberto Freyre e Raymundo Faoro) e seu papel na construção de interpretações equivocadas do país (que reforçam a ideia do Estado corrupto e do patrimonialismo como mal nacional); 2) o entendimento da escravidão como trauma nacional fundamental à estratificação social e ao surgimento de uma classe média manipulável pela elite do dinheiro; 3) a criação da “corrupção dos tolos”, baseada no controle da esfera pública e da indústria cultural, que mascara a corrupção real da elite financeira ao manter todo o foco na demonização do Estado e da política. A Lava Jato, por ex., recuperou menos de 1 bilhão de dólares quando no Brasil a evasão fiscal estimava-se em 520 bilhões de dólares.

Ou seja, para o autor, “as teses do populismo e do patrimonialismo caem [...] como uma luva para os interesses dessa elite. Elas servem, primeiro, para tornar invisível a ação predatória de um mercado desregulado como o nosso. Depois, para culpar o Estado e suas elites corruptas—especialmente as de esquerda—de tudo que aconteça sempre que se faça necessário. A responsabilidade da elite e de seus instrumentos, como a mídia, fica também invisível e não é nunca trazida à luz” (p. 148).

Ainda que possam haver problemas que não tenho bagagem para apontar, a análise sobre a classe média aqui é muito boa e nos ajuda a entender de onde vem tanto ódio aos projetos de esquerda e quais discursos precisamos combater.
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Caroline1442 15/05/2021

Um bom livro para te fazer refletir.
O livro é bom, me fez refletir sobre a história do nosso país e as classes sociais. O capítulo sobre a classe média é particularmente interessante e explica como chegamos até aqui.
Também gostei das críticas que o autor faz aos autores clássicos brasileiros, me fez rever alguns conceitos.
Um ponto negativo é a escrita do autor, extremamente repetitiva, o que torna a leitura bem cansativa em alguns capítulos.
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Rosana 17/09/2021

Necessário que todos tenham acesso.
Compartilhar só um trecho do livro que acredito que servirá muito para reflexão

" A verdadeira elite brasileira, que é a do dinheiro, que manda no mercado e que 'compra' as outras elites que lhes são subalternas, criou o bode expiatório da corrupção só da política...para desviar a atenção de sua corrupção disfarçada de legalidade. Toda a sociedade tomou doses diária desse veneno desligado da mídia, pelas escolas e pelas universidades e viu, imbecilizada, como não podia deixar de ser, uma meia dúzia de estrangeiros e seus capangas brasileiros tomarem o seu petróleo, sua água, suas terras, seus recursos. Em nome da moralidade, do combate à corrupção e pelo suposto 'bem do povo brasileiro' roubaram tudo o que puderam e nos deixaram mais pobres...imbecis: é isso que nos tornamos quando acreditamos no engodo do suposto e seletivo combate à corrupção da política como solução para as nossas mazelas".
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Karinne 11/09/2020

Livro essencial para compreender as raizes dos maiores problemas brasileiros e sua perpetuação nos dias atuais, abordando nesse sentido as estruturas ocultas que movimentam esse sistema.
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