A Elite do Atraso

A Elite do Atraso Jessé Souza




Resenhas -


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Vinicius 03/09/2022

Uma Obra-prima!
Parabéns Jessé Souza.

"O ódio ao pobre hoje em dia é a continuação do ódio devotado ao escravo de antes."

Esse livro seguramente é um dos melhores do grande Jessé Souza, demorei para terminar essa leitura porque é muito densa e tem muitos conceitos, mas sendo o Jessé vale muito a pena, ele certamente é um dos maiores intelectuais do Brasil seja entre os vivos como ele ou entre os mortos, desejo ler toda a obra dele um dia. Em elite do atraso ele desconstrói nossa interpretação da sociedade brasileira para depois construí-la de modo correto.

Foi inevitável o Jessé me convencer de suas ideias e conclusões, a análise da classe média é fenomenal e a crítica a grande imprensa é cirúrgica e extremamente verdadeira, iria dar exemplos que sozinho pude perceber, mas desisti para não deixar muito longa a resenha.

Ler esse livro foi um verdadeiro estudo, pois o tema é muito extenso e a compreensão não é fácil, além de ter umas palavras complicadas. O autor não facilitou e está bem acadêmico, sinto que o livro não foi escrito para o grande público, parece mais um livro base para outras pessoas explicarem para o grande público, demorei 2 meses na leitura, entretanto, acredito que quando eu ler pela segunda vez terei uma compreensão muito mais ampla e lerei bem mais rápido.

Aqui vai umas pequenas interpretações com as minhas palavras:

O autor tem a tese de que o racismo científico baseado na cor da pele não acabou só mudou de embalagem, agora é chamado de culturalismo, a ideia de que uma cultura é melhor que outra, que europeus e "americanos" são melhores que africanos ou latinos, por exemplo, e que isso é colocado na cabeça dos cidadãos de ambos os lados, um para se sentir superior e o outro para se sentir inferior e com isso ambos ficarem conformados com suas situações.

Outra tese é que a corrupção no Brasil não começa na política, a corrupção vem da elite que usa o poder e o dinheiro para romper os políticos para atender seus interesses, enquanto a corrupção dos políticos é na casa dos milhões, o lobby da elite é de bilhões e um dinheiro que vai para fora do Brasil.

Simplesmente não dá par falar de tudo que eu gostaria sobre esse livro em uma resenha, pois já está enorme e eu nem falei da classe média, e nem dei exemplos claros da manipulação da mídia, que tem casos recentes que são contundentes.

Poderia escolher muitos trechos dessa obra grandiosa então foi difícil colocar só esses:

"Muito se fala sobre a escravidão e pouco se reflete a respeito. Fala-se na escravidão como se fosse um nome e não um conceito científico que cria relações sociais muito específicas."

"Como todo processo de escravidão pressupõe a animalização e humilhação do escravo e a destruição progressiva de sua humanidade, como o direito ao reconhecimento e à autoestima, a possibilidade de ter família, interesses próprios e planejar a própria vida, libertá-lo sem ajuda equivale a uma condenação eterna. E foi exatamente isso que aconteceu entre nós."

"A classe média sempre foi, desde meados do século passado, no Brasil, a tropa de choque dos ricos e endinheirados. É preciso compreender, no entanto, como isso se tornou possível."

"Todas as classes do privilégio tendem, necessariamente, a ver seu privilégio como inato ou merecido. Como diria Weber, os privilegiados não querem apenas exercer o privilégio, mas querem também que esse mesmo privilégio seja percebido como merecido e como um direito."
Jécyka 04/09/2022minha estante
Parece ser maravilhoso! Pela sua resenha top achei que daria 5 estrelas e favoritado.


Vinicius 04/09/2022minha estante
Kkkkk vdd só não dei 4.5 em vez de 5, pq o Jessé poderia ter facilitado mais a leitura para que o livro fosse mais lido e tido um público maior


Andréia Barbosa 13/09/2022minha estante
Mas que resenha foi essa?! Tô de boca aberta!! Se essa resenha de categoria está assim, imagina como deva ser o livro! Parabéns


Vinicius 13/09/2022minha estante
Obrigado Andréia, que comentário precioso o seu, chega fico sem jeito ^_^


Isadora 13/03/2023minha estante
Amg eu acho que vc ia gostar de ler "Marx - Uma introdução" do Jorge Grespan. Eu vim aqui na pag de resenhas pq tô pensando seriamente em abandonar Elite do Atraso, pq o Jessé parece estar querendo reinventar o marxismo. Não sei se vale a pena continuar, pq parece que mt do que ele fala eu "já li em algum lugar", sabe? Não sei se é por causa desse livro que indiquei, mas talvez vc goste tb. Obg pela resenha :)


Andre.Thieme 30/12/2023minha estante
Concordo muito com a sua resenha. Achei o livro muito cirúrgico, como li em 2023, talvez já estivesse mais familiarizado com o que ele expõe, ainda assim com clareza e fundamentação excelentes.




mpettrus 27/12/2022

O Atual Capataz da Elite é a Classe Média
??A Elite do Atraso? foi outra obra de não-ficção que fez parte das minhas releituras em 2022, assim como ?Os Jacobinos Negros?, também já resenhado aqui. Essa obra foi pensada, elaborada e escrita pelas mãos de Jessé Souza, respeitado sociólogo e pesquisador, graduado em Direito e mestre em Sociologia pela UnB, e também doutor em Sociologia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, com pós-doutorado em Psicanálise e Filosofia na The New School for Social Research, em Nova York.

Souza é um pensador polêmico e corajoso, se situando do lado esquerdo do espectro político, trazendo nessa obra explicações autênticas e muito diferentes do que a ?grande mídia? costuma noticiar para a população, principalmente, nesse momento turbulento por qual ainda estamos passando, pós eleições do 2º turno para Presidente da República, e ao que tudo indica estar muito longe de acabar.

? O ponto mais interessante para mim abordado pelo autor nesse livro é o seu interesse em mostrar como o pensamento sociológico culturalista racista de Gilberto Freyre e a sociologia do brasileiro ?vira-lata?, cujo ícone é a categoria do ?homem cordial? de Sérgio Buarque de Holanda, uniu-se ao patrimonialismo de Raymundo Faoro e contaminou toda a esfera pública.

A partir dessas percepções, e em resposta aos grandes problemas nacionais de hoje, Souza formula uma releitura crítica e de caráter estrutural sobre certos elementos considerados formadores do Brasil em seus múltiplos aspectos, social, econômico, político ou culturalmente. O ponto de partida é a escravidão. Para o autor a escravidão no Brasil nunca foi efetivamente compreendida nem criticada. Usando como base de pesquisa a obra ?Raízes do Brasil? de Sérgio Buarque de Holanda, o autor demonstra porque o conceito de ?patrimonialismo? é apontado como uma ideia para legitimar interesses econômicos de uma elite que, além de dominar o mercado, é a real fonte do poder e da corrupção no país, provocando assim entre as classes, extrema desigualdade social.

? De maneira muito didática e elucidativa, o autor desconstrói todo o conceito de ?patrimonialismo? forjado por esses sociólogos brasileiros do século XX, demonstrando como esse conceito forjado se encaixou na visão de ?vira-lata? atribuindo toda a corrupção ao Estado porque foi a nossa maldita herança portuguesa, ignorando completamente a particularidade da gênese da sociedade brasileira: a escravidão, que não existia em Portugal.

E a partir desse entendimento, a sociedade hoje compreende que o mercado tornou-se a casa de toda a ilibação. Para o autor, esse conceito forjado nos anos 30 do século XX foi prejudicial para compreendermos as dinâmicas sócio-político atuais que colocou como fator principal da corrupção brasileira: o Estado. Quando na verdade, o mercado, esse tão exaltado pela elite e, pasmem, pela Classe Média, manipuladíssima pela Burguesia, também está no cerne da corrupção brasileira.

Para o autor, é preciso transcender e extirpar essa lógica de pensamentos, é preciso reconhecer que o espólio intelectual brasileiro é fortemente marcado pelo racismo, que reduz nós brasileiros a párias e continuadores de uma trajetória da qual não conseguiremos nos livrar tão cedo. O nosso principal problema hoje predica na escravidão e nas suas formas atuais, que se revelam, entre outros, pelo ódio que a classe média tem em relação ao pobre.

Também pude notar o quanto a leitura dessa obra me trouxe constantemente uma reflexão crítica sobre os fatores que possibilitaram a realização do golpe de 2016. Publicada em 2017, logo após a concretização do golpe contra a democracia, Souza busca explicar os fatores que contribuíram para que o golpe perpetrado contra uma presidente democraticamente eleita se tornasse possível após anos de crescimento econômico e inclusão social.

A construção de uma narrativa de luta contra a corrupção de um partido político, no caso, o PT, capitaneada pela mídia, a criação de um pacto classista que contou com o apoio de amplos setores da sociedade brasileira e, a ação seletiva e persecutória dos procuradores Da ?Operação Lava-Jato? buscando refrear a ascensão social da ralé, foram motivos cruciais para que se concretizasse na história política do nosso país o golpe contra a Presidente da República Dilma Vana Rousseff.

? De maneira geral, após duas releituras dessa obra no decorrer do ano, e na minha visão, enquanto ser intelectual, considero um excelente livro de estudos para compreendermos politicamente nossa sociedade. Livros de não-ficção sempre me parecem muitos perigosos se o leitor não tem um conhecimento prévio do assunto do qual irá ter contato, sobretudo, se for pela primeira vez.


?Desse modo, Souza ataca posturas sociológicas baseadas no senso comum, na construção de ?mitos fundadores?, no pensamento de que maximizar relações pessoais em detrimento da impessoalidade para aferir vantagens é uma exclusividade do Brasil, bem como as análises que restringem pensamentos críticos unicamente a partir da renda ou da posição do trabalhador dentro do sistema produtivo.

Para o bem ou para o mal, é preciso, conselho meu, que se busque ter noções primárias de alguns tópicos do que irá ler, para não ficar muito à mercê da visão totalizante do autor. A narrativa do autor tem uma linguagem acessível, trabalhando no decorrer do livro uma tese não tão simples, porque é criteriosa e abrangente a respeito da construção do conceito patrimonialista e suas raízes nefastas na nossa sociedade racista.

? Encontrei sim muitos pontos dos quais discordo, porém, compreendo o posicionamento do autor, afinal, ele é um grande pensador de esquerda. Entendo que ele tenha tentado ser maximamente objetivo no debate de suas ideias, mas me pareceu uma obra propagandista do ?lulopetismo?, haja vista, que o autor deliberadamente omitiu quaisquer equívocos do ?Partido dos Trabalhadores?, bem como, seu tratamento as obras de Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro.

Na faculdade de Direito, li obras desses sociólogos, considero sim que se tornaram obras um tanto ?datadas?, considero que eles cometeram equívocos, mas isso são inevitáveis de acontecer nas áreas de Ciências Sociais e Humanas, porque a Ciência não é exata. Incomodou-me o fato de que o autor demonizou esses sociólogos, sem tentar tratar minimamente de suas próprias contradições. Ora, pois, vejamos, eles foram homens de seu tempo e também à frente de seu tempo. Eles também foram fundadores do PT. Lula conviveu com esses intelectuais.

Outro ponto que muito me incomodou, aqui realmente não tive como deixar de notar, foi o quanto o autor poupa descaradamente o sociólogo alemão Jürgen Habermas, que é essencialmente identificado com o pensamento liberal, ou seja, o autor critica o pensamento da lógica do ?vira-lata?, mas acaba reproduzindo esse comportamento ao desqualificar nossos pensadores brasileiros que, mal ou bem, foram importantes para nós e, idealiza pensadores alemães.

Ainda com tantos pontos em discordância, e não vejo problema nisso, muito pelo contrário, considero enriquecedor para o meu próprio estudo, essa obra é muito importante para o debate atual. Entender que a Casse Média é o atual capataz da Elite, organizando, controlando, pregando valores e visões de vida com seu exacerbado moralismo nada crítico, mesmo quando se creem modernas e cosmopolitas, a sua marca distintiva é sim o atraso, o apego ao passado e ao ultrapassado.

E diante dessas condições, precisamos pensar e executar uma transformação radical sobre a realidade brasileira, como Souza muito bem colocou, se quisermos modificar as permanências da escravidão que deixaram marcas profundas na nossa sociedade e suas mazelas que ainda se fazem presentes na atualidade.

? Souza nos oferece robusta argumentação científica para a sociologia brasileira para repensar e reinterpretar o Brasil de hoje, permitindo uma análise de um novo paradigma para enxergar problemas e soluções para, sobretudo, enfrentarmos a questão da desigualdade social que datam da escravidão e ainda marcam a nossa sociedade, o que permite que a Elite do atraso, termo cunhado pelo autor de maneira brilhante para designar as classes dirigentes brasileiras ou suas frações dominantes, coloque em xeque o princípio da igualdade social como valor fundamental da democracia, para legitimar sua exploração contra a classe popular e com apoio da Classe Média, tão perto da ralé e tão distante da elite, com o objetivo de perpetuar a manutenção do seu poder e de seus privilégios.
Nilsonln 28/12/2022minha estante
Excelente e bem embasada sua resenha. Não lerei o livro por não se tratar de tema de meu interesse, mas achei interessante tua resenha e agradeço por compartilhar. Aproveito para te desejar um maravilhoso 2023 recheado de muitas coisas boas, sucesso e leituras maravilhosas!


Sandra.Rodrigues 28/12/2022minha estante
?????????? parabéns, muito interessante sua abordagem, continue nos presenteando com suas resenhas....Feliz 2023 !!!


mpettrus 28/12/2022minha estante
Obrigado pelo feedback, Nilson Luis.

Aproveito também para lhe desejar um excelente Ano de 2023 de muita saúde, realizações e, sobretudo, de leituras maravilhosas e incríveis para você compartilhar conosco aqui ?????

Feliz 2023!!!


mpettrus 28/12/2022minha estante
Oi, Sandra Rodrigues!!! Muito obrigado pelo feedback ??????

Também aproveito pra lhe desejar desde já um excelente Ano de 2023.

Muita saúde, prosperidade e leituras incríveis para você compartilhar aqui conosco!!!

????


Sandra.Rodrigues 31/12/2022minha estante
?????????




Marina 04/04/2022

A cara do Brasil
Sabe aquela música do Cazuza? "Brasil, mostra a tua cara?", pois é, eu acho que foi exatamente isso o que Jessé de Souza conseguiu fazer neste livro. Quem, de fato, está por trás da extrema desigualdade social que enfrentamos e que parece aumentar a cada dia? Herança portuguesa? Culpa dos políticos corruptos? O autor mostra que não é nada disso, e nos faz mergulhar em fatos e revelações que abrem diversas portas para compreendermos o porquê de estarmos onde estamos. Desmistificando a "viralatice" que costumamos comprar, como se não tivessemos jeito mesmo, como se o melhor fosse tudo o que vem de fora, mais precisamento do norte. Enfim, muita coisa que eu suspeitava ou tinha ouvido por cima, mas que Jessé destrincha sem piedade, é o que não queremos ver, ou não conseguimos, Leiam, é revelador, somos nós, é compreender nosso contexto, quem somos e para onde podemos ir.
Rosa254 05/04/2022minha estante
Recomenda o e-book do livro? Ou acha eu vai ser agradável apenas o físico?


Marina 06/04/2022minha estante
Olá, na verdade eu não tenho experiência com e-book, só leio físico kk, mas acho que não teria problema.


Rosa254 09/04/2022minha estante
Grata! Vi na quinta uma live com o Jessé e a Chaui e acho que já deveria ter lido esse livro hahahaha.


Marina 09/04/2022minha estante
Olha, eu recomendo muito! Meu orientador do mestrado me indicou há alguns anos e só a pouco tempo consegui comprar. É impressionante como várias reflexões vão fazendo sentido e começamos a entender muita coisa do nosso país e a linguagem é super acessível, em poucos momentos fiquei "perdida" na leitura kk, mas grande parte fez muito sentido pra mim, tanto que ficou cheio de post it kk




vicabez 04/04/2022

É um livro bem interessante de se ler, realmente consegue mudar a sua forma de ver o mundo. Apesar disso, o autor consegue ser bem repetitivo de vez em quando e a linguagem é bem estranha, indo do acadêmico ao passivo-agressivo em duas linhas. Ainda assim, acho uma excelente introdução à sociologia contemporânea
Lifey4R 04/04/2022minha estante
Foi só eu falar...


vicabez 04/04/2022minha estante
KKKKKKKKKKKK to fazendo um monte agr


Lifey4R 04/04/2022minha estante
Percebi kkkkkkkkkkk




Ana 15/04/2020

A doença do Brasil é o ódio de classe!
Esse livro é tão bom que eu o utilizei como base para escrever meu Trabalho de Conclusão de Curso, que abordou o seguinte tema: A INFLUÊNCIA NEOLIBERAL NO BRASIL E OS REFLEXOS NO FENÔMENO DA TERCEIRIZAÇÃO: A ELITE SE IMPÕE SOBRE A RALÉ? (link: http://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2020/1/2020_01_0621_0654.pdf)

O livro é escrito com palavras de fácil entendimento. Um vocabulário mais da gente, do cotidiano. E, em alguns momentos, chega até a ser um pouco engraçada a narrativa. Engraçada, mas não muito. Os problemas são reais e as comparações literárias vão além do conhecimento do homem médio.

Nesse livro, Jessé explica, ao máximo, o porquê do Brasil estar dando tão errado em absolutamente tudo que mete a cara. Como o próprio nome diz "A elite do atraso" se instala e impede qualquer crescimento econômico, cultural, social ou espacial que a ela não pertença. Com isso, o autor quer dizer que a elite do atraso - leia-se como os ricos de verdade - sempre tampou o sol para os pobres. E quando se fala em RICOS, não falamos de burgueses médios como médicos, juízes, pessoas bem-sucedidas financeiramente, e muito menos políticos. Segundo Jessé, ricos de verdade são esses que manipulam a massa a ponto de transformar a Operação Lava Jato um assunto para brincantes. São os que modelam a sociedade e criam a cultura dos pobres e da classe média em geral, como, por exemplo, a família Marinho, donos da Rede Globo - a maior emissora da América Latina.
Ademais, o livro aborda tantos assuntos com uma explicação magnífica, principalmente no que toca o racismo estrutural e a chegada dos portugueses no território brasileiro. Não explicar o tanto de aprendizado que esse livro me trouxe. Recomendo fortemente!

Aqui, fiz quase um fichamento das partes que mais me chamaram atenção e podem vir a ser úteis um dia.

1. "Se dou comida aos pobres, me chamam de Santo. Mas quando pergunto por que são pobres, me chamam de comunista." Dom Hélder Câmara. (p. 8)

2. Não somos formigas que repetem uma informação genética, nosso comportamento é determinado por uma visão construída do mundo e das coisas. (p. 9)

3. Esse sentido do mundo nos parece então [...] natural, dado que nascemos sob a influência dele [...] Assim, ele nos aparece como algo confiável. É essa confiabilidade que torna tão fácil a reprodução dos privilégios legitimados. (p. 9)

4. Compreender a escravidão como conceito é muito diferente. É perceber como ela cria uma singularidade excludente e perversa. (p. 10)

5. O poder é a questão central de toda sociedade. A razão é simples. É ele que nos irá dizer quem manda e quem obedece, quem fica com os privilégios e quem é abandonado e excluído. (p. 12)

6. Destruir a Petrobras [...] significa empobrecer um país inteiro de um recurso fundamental. (p. 13)

7. Essas ideias do Estado e da política corrupta servem para que se repassem, a baixo custo, empresas estatais e nossas riquezas do subsolo para nacionais e estrangeiros que se apropriam privadamente da riqueza que deveria ser de todos. (p. 13)

8. Isso significa que, no espaço de décadas e até de séculos, todo conhecimento humano é dominado por um "paradigma". Um paradigma é o horizonte histórico que define os pressupostos para qualquer tipo de conhecimento. (p. 15)

9. O culturalismo tornou-se uma espécie de "senso comum internacional" para a explicação das diferenças sociais e de desenvolvimento relativo no mundo inteiro. (p. 17)

10. As pessoas passam a pensar o mundo de tal modo que favorece a reprodução de todos os seus privilégios. (p. 21)

11. O homem é percebido como espírito, em oposição às mulheres, definidas como afeto. Daí a divisão sexual do trabalho, que as relega ao trabalho invisibilizado e desvalorizado na casa e no cuidado dos filhos. Nós nunca refletimos acerca dessas hierarquias, assim como não refletimos sobre o ato de respirar. É isto que as faz tão poderosas: elas se tornam naturalizadas. (p. 23)

12. Culturalismo racista [...] não se vincula à cor da pele. (p. 24)

13. Colonizar o espírito e as ideias de alguém é o primeiro passo para controlar seu corpo e seu bolso. (p. 25)

14. Quem controla a produção das ideias dominantes controla o mundo. (p. 25)

15. É necessário, para quem domina e quer continuar dominando, se apropriar da produção de ideias para interpretar e justificar tudo o que acontece de acordo com seus interesses.

16. O brasileiro como pré-moderno, tradicional, particularista, afetivo e, para completar, com uma tendência irresistível à desonestidade. (p. 28)

17. O mercado é divinizado pela mera oposição ao Estado, e sua corrupção - tanto "legal" [...] quanto ilegal [...] - tornada invisível. (p. 34)

18. O Estado é tornado o suspeito preferido - como os mordomos nos filmes policiais - de todos os malfeitos. Essa ideia favorece os golpes de Estado baseados no pretexto da corrupção seletiva. (p. 34)

19. É necessária uma reflexão independente também acerca do Estado e da sociedade para que o culturalismo conservador de direita não colonize a esquerda como acontece até hoje. (p. 40)

20. Todos falam. No entanto, dizer o nome não significa compreender o conceito. (p. 42)

21. Reproduzir todo tipo de privilégio escravista, ainda que sob condições modernas. E, com um toque satânico, demonizar o Estado como repositório da suposta herança maldita portuguesa e, sempre que ele for ocupado pela esquerda, reverberar seletivamente a acusação moralista já pronta.

22. Exprimiu-se nessas relações o espírito do sistema econômico que nos dividiu, como um Deus todo-poderoso, em senhores e escravos. (p. 52)

23. O próprio conceito de sadomasoquismo implica proximidade e alguma forma de intimidade. Intimidade do corpo e distância do espírito, sem dúvida, mas de qualquer modo proximidade. E, efetivamente, grande parte da relação entre senhores brancos e escravos negros se realizada sob essa forma de contato íntimo. (p. 55)

24. A transformação social de largas proporções, implicando novos hábitos, novos papéis sociais, novas profissões e, ao fim e ao cabo, a construção de uma nova hierarquia social. (p. 61)

25. Patriarcalismo [...] Esses valores universais e essas ideias burgueses entram no Brasil do século XIX do mesmo modo como haviam se propagado na Europa do século anterior: na esteira da troca de mercadorias. (p. 62)

26. O sistema social passa a ser regido por um código valorativo crescentemente impessoal e abstrato. A opressão tende a ser exercida agora cada vez menos por senhores contra escravos, e cada vez mais por portadores de valores europeus, sejam eles de qualquer cor - efetivamente assimilados ou simplesmente imitados -, contra pobres, africanos e índios. (p. 63)

27. O sadomasoquismo social muda de "habitação". (p. 63)

28. A urbanização representou uma piora nas condições de vida dos negros livres e de muitos mestiços pobres das cidades. O nível de vida caiu, a comida ficou pior e a casa também. (p. 61)

29. Para além das mudanças econômicas, houve as culturais e políticas, com o advento das novas ideias liberais e individualistas, que logo conquistaram setores da imprensa e as tribunas parlamentares. (p. 66)

30. A máquina veio desvalorizar a base mesma da sociedade patriarcal, desvalorizando o trabalho muscular e desqualificado do escravo, diminuindo tanto a importância relativa do senhor quanto do escravo, agindo como principal elemento dissolvente da sociedade e da cultura patriarcais. (p. 67)

31. O mestiço bacharel constitui uma nobreza associada às funções do Estado e de um tipo de cultura mais retórico e humanista do que a cultura mais técnica e pragmática do mestiço artesão. (p. 69)

32. Podemos perceber aqui a semente da formação de uma classe decisiva para a construção do Brasil moderno: a classe média, cujo privilégio irá se concentrar na reprodução social do capital cultural valorizado. (p. 69)

33. Ralé brasileira [...] mostrando que a antiga "raça condenada" se transforma em "classe condenada". Mas a sua função social continua a mesma. Ela serve às classes incluídas como mecanismo de distinção em duas frentes: uma simbólica, para provocar o prazer de "superioridade" e do mando; e outra material e pragmática, no sentido de criar uma classe sem futuro que pode, portanto, ser explorada a preço vil. (p. 70)

34. O ódio ao pobre hoje em dia é a continuação do ódio devotado ao escravo de antes. (p. 70)

35. A ânsia da modernização, de resto estampada na bandeira da nação nas palavras de "ordem e progresso", passa, a partir dessa época, a dominar a sociedade brasileira como o princípio unificador das diferenças sociais [...] É em nome dela também que passa a operar um novo código social nascente, uma nova "hierarquia social" que vai estipular os critérios que permitem e legitimam que alguns sejam vistos como superiores e dignos de privilégios, e outros sejam vistos como inferiores e merecedores de sua posição marginal e humilhante. " (p. 75)

36. A partir do fim do século XIX, no entanto, o Brasil passa por transformações fundamentais. A primeira e mais importante delas é a abolição formal da escravidão. Ela instaura um mercado formal competitivo do trabalho com base no contrato que significa uma importante mudança, ainda que com continuidades fundamentais sob outras roupagens. (p. 78)

37. Do abandono dos ex-escravos, a existência dessa classe singulariza e explica a situação social, política e econômica do Brasil como nenhuma outra questão [...] O dado essencial de todo esse processo foi o abandono do liberto à sua própria sorte (ou melhor, ao próprio azar). Como todo processo de escravidão pressupõe a animalização e humilhação do escravo e a destruição progressiva da sua humanidade, como a negação do direito ao reconhecimento e à autoestima, da possibilidade de ter família, de interesses próprios e de planejar a própria vida, libertá-lo sem ajuda equivale a uma condenação eterna. (p. 79-80)

38. "Ralé brasileira": composta pelos negros recém-libertos e por mulatos e mestiços de toda a ordem para quem a nova condição era apenas outras forma de degradação. [...] Temos aqui a constituição de uma configuração de classes que marcaria a modernização seletiva e desigual brasileira a partir de então. (p. 82)

39. Ao perderem a posição de principal agente do trabalho, os negros perderam também qualquer possibilidade de classificação social. [...] O negro torna-se vítima da violência mais covarde [...], é exigido dele agora que se torna trabalhador orgulhoso do trabalho. O mesmo trabalho que pouco antes era o símbolo de sua desumanidade e condição inferior. (p. 82)

40. A ansiedade pelo progresso percebido como imitação servil dos modos e das expressões culturais europeias criava um ambiente de intolerância. (p. 83)

41. Outro fator que perdura até nossos dias é que o medo dos escravistas da "rebelião negra" se transforma e é substituído pela definição do negro como "inimigo da ordem". [...] Vem daí, portanto, o uso sistemático da polícia como forma de intimidação, repressão e humilhação dos setores mais pobres da população. (p. 83)

42. A oposição entre o "pobre honesto" e o "pobre delinquente" rasga praticamente todas as famílias e torna muito difícil a existência de formas de solidariedade de classe na "ralé", as quais são possíveis , por exemplo, na classe trabalhadora. (p. 84)

43. O caso atual da exploração da ralé brasileira pela classe média para poupar tempo de tarefas domésticas, sujas e pesadas - que lhe permite utilizar o tempo "roubado" a preço vil em atividades mais produtivas e mais bem-remuneradas - mostra uma funcionalidade da miséria clara como a luz do sol. (p. 85)

44. A exclusão social e o comportamento disruptivo são sempre percebidos como passageiros, e não como aspectos que podem se tornar permanentes e que, dependendo do nível moral e político de uma sociedade concreta, podem ser reproduzidos Ad infinitum. (P. 85)

45. A teoria da modernização sofisticou a moda de eufemizar a realidade para negar formas de dominação que tendem a se eternizar. (p. 85)

46. Os países condenados a serem exportadores de matérias-primas para sempre não são mais chamados de subdesenvolvidos, mas sim de "em desenvolvimento", para assinalar uma transição que, na verdade, como também se comprova no caso brasileiro, nunca termina. (p. 85)

47. A própria formação daquilo que Florestan chama de "gentinha nacional", ou seja, os negros e mestiços e brancos "atrasados" que se amontoam nos cortiços e favelas. (p. 86)

48. Não há como separar [...] classe do preconceito de raça [...] são uma forma de continuar a escravidão e seus padrões de ataque covarde contra populações indefesas, fragilizadas e superexploradas. (p. 87)

49. O excluído, majoritariamente negro e mestiço, é estigmatizado como perigoso e inferior e perseguido não mais pelo capitão do mato, mas sim, pelas viaturas de polícia com licença para matar pobre e preto. [...] E essa continuação da escravidão por outros meios se utilizou e se utiliza da mesma perseguição e da mesma opressão cotidiana e selvagem para quebrar a resistência e a dignidade dos excluídos. (p. 88)

50. Inadaptados ao mundo moderno, nossos excluídos herdaram [...] todo o ódio e o desprezo covarde pelos mais frágeis e com menos capacidade de se defender. (p. 88)

51. Esse abandono e essa injustiça são o real câncer brasileiro e a causa de todos os reais problemas nacionais. (p. 89)

52. A forma mais eficaz e comum de se negar a importância do pertencimento de classe social para a vida de todos nós é percebê-la apenas como realidade econômica. (p. 91)

53. No nosso caso, as classes populares não forma simplesmente abandonadas. Elas foram humilhadas, enganadas, tiveram sua formação familiar conscientemente prejudicada e foram vítimas de todo tipo de preconceito, seja na escravidão, seja hoje em dia. Essa é a nossa diferença real em relação à Europa que admiramos. A principal diferença é que a Europa tornou as precondições sociais de todas as classes muito mais homogêneas. Ainda que exista desigualdade social, ela não é abissal como aqui. (p. 95)

50. O capital cultural, por exemplo, que significa basicamente incorporação pelo indivíduo de conhecimento útil ou de prestígio. (p. 97)

51. Tudo que chamamos de sucesso ou fracasso na vida depende do acesso privilegiado ou não a esses capitais. (p. 97)

52. São produzidos, nesse contexto, seres humanos com carências cognitivas, afetivas e morais [...] vão querer se distinguir e se sentir superiores. E essa superioridade tem que ser proclamada e repetida todos os dias sob as mais variadas formas. A própria lei formal não vale para elas. Sabemos que matar um pobre nunca foi crime entre nós. (p. 107)

53. Uma classe só tolerada para exercer os serviços mais penosos, sujos e perigosos, a baixo preço, para o conforto e uso do tempo poupado em atividades produtivas pela classe média e alta. [...] Como essa tragédia diária é literalmente invisível e naturalizada como a coisa mais normal do mundo, o próprio pobre acredita na sua maldição eterna. (p. 107)

54. Tenentismo, movimento de oficiais de baixa patente que ansiavam pela renovação moral do Brasil a partir de cima, pelo Estado reformador. (p. 119)

55. Sem aprendizado moral não se tem desenvolvimento econômico que sirva à maioria da sociedade. (p. 121)

56. É na esfera pública que a classe média é colonizada pelos interesses do dinheiro. (p. 123)

57. Para Adorno, a indústria cultural é a aplicação consequente da lógica capitalista da maximização do lucro à esfera dos bens simbólicos. Ou seja, além de ser a forma dominante de produzir mercadorias materiais, como salsichas e roupas, o capitalismo também passa a ser a forma dominante da produção de mercadorias simbólicas, como a informação e o conhecimento. (p. 131)

58. A classe média não é uma classe necessariamente conservadora. Também não é homogênea. O movimento tenentista, conhecido como o primeiro movimento político comandado pelos setores médios no Brasil, revela bem essas características. (p. 138)

59. A oposição à corrupção do Estado era uma das bandeiras centrais do tenentismo. (p. 139)

60. Como o Estado corrupto passa a ser identificado como o mal maior da nação, a elite do dinheiro ganha uma espécie de carta na manga que pode ser usada sempre que a soberania popular ponha no poder, inadvertidamente, alguém contrário aos interesses do poder econômico. (p. 140)

61. Se os pobres são desprezados, os ricos são invejados. Existe uma ambiguidade nesse sentimento em relação aos ricos, que vincula admiração e ressentimento. (p. 141 e 142)

62. A noção de patrimonialismo é falsa por duas razões: primeiro as elites que privatizam o público não estão apenas, nem principalmente, no Estado, e o real assalto ao Estado é feito por agentes que estão fora dele, sobretudo no mercado. A elite que efetivamente rapina o trabalho coletivo da sociedade está fora do Estado e se materializa na elite do dinheiro, ou seja, do mercado, que abarca a parte do leão do saque. (p. 144)

63. A vida política do Brasil, desde então, é dominada por golpes de Estado movidos pela elite do dinheiro, com o apoio da imprensa e da base social da classe média, sempre que a soberania popular possa servir, por pouco que seja, aos interesses das classes populares. (p. 150)

64. Dois países dentro do mesmo espaço, que o economista Edmar Bacha chamou de "Belíndia", uma pequena Bélgica para os 20% de privilegiados e uma grande Índia empobrecida e carente para os 80% restantes. É possível agora ser de classe média e não mais compartilhar espaços sociais com as classes populares. (p. 152)

65.O desprezo e a humilhação que essa classe sofre desde o berço, unindo socialização familiar precária, que é o essencial do seu aspecto de classe, com o preconceito covarde e secular contra o escravo, que é seu aspecto de raça, a levam a fantasias sua realidade intolerável. A fantasia, que assume a forma da fuga pela droga e especialmente pelo álcool, ou dos tipos de religiosidade mágica que prometem o que não se pode realizar, são exemplos do escapismo de quem não tem futuro. (p. 157)

66. A classe média tende a imitar a elite endinheirada na sua autopercepção de classe sensível e de bom gosto, mostrando que essa forma é essencial para toda a distinção das classes do privilégio em relação às classes populares. Mas a classe média acrescenta a noção de meritocracia, de merecimento de sua posição privilegiada pelo estudo e pelo trabalho duro, mérito percebido como construção individual. Ainda que a meritocracia, como a noção de sensibilidade tam´bem, seja transclassista, a classe média é seu habitat natural. (p. 157)

67. Ódio aos mais frágeis e a culpabilização da própria vítima pelo seu infortúnio construído socialmente. (p. 161)

68. A suposta virtude da sensibilidade separa as classes superiores das classes populares na Europa como em todo lugar. [...] Mas o que lá não se tem é a divisão entre "gente" e "não gente", típica de países escravocratas que nunca criticaram essa herança. No nosso caso, criamos, inclusive, uma herança fantasiosa, como se os 350 anos de escravidão não valessem nada. [...] O que precisa ser compreendido de uma vez por todas é que ser "gente", ser considerado "ser humano", não é um dado natural, mas, sim, uma construção social. (p. 162)

69. Pode-se chacinar e massacrar pessoas dessa classe sem que parcelas da opinião pública sequer se comovam. Ao contrário, celebra-se o ocorrido como higiene da sociedade. (p. 162)

70. O que está no jogo do capitalismo flexível é transformar a rebeldia secular da força de trabalho em completa obediência, ou, mais ainda, em ativa mobilização total do exército de trabalhadores em favor do capital. (p. 170)

71. A classe média é uma classe intermediária, entre a elite do dinheiro, de quem é uma espécie de "capataz moderno", e as classes populares, a quem explora. (p. 176)

72. A única corrupção que a incomoda é a reservada aos poderosos que controlam o poder político e econômico. (p. 178)

73. Em relação aos poderosos, a classe média pode se ver sempre como "virgem imaculada" e moralmente perfeita. (p. 178)

74. Para que se possa odiar o pobre e o humilhado, tem-se que construí0lo como culpado de sua própria (falta de) sorte e ainda torná0lo perigoso e ameaçador. (p. 179)

75. O Brasil tem mais assassinatos - de pobres - que qualquer outro país no mundo. São 70 mil pobres assassinados por ano no Brasil. Existe uma guerra de classes hoje declarada e aberta. Construiu-se toda uma percepção negativa dos escravos e de seus descendentes, como feios, fedorentos, incapazes, perigosos e preguiçosos, isso tudo sob forma irônica, povoando o cotidiano com ditos e piadas preconceituosas. (p. 180)

74. Mesmo quem critica os preconceitos os tem dentro de si, como qualquer outra pessoa criada no mesmo ambiente social. O que nos diferencia é a vigilância em relação a eles e a tentativa de criticá-los de modo refletido em alguns e sua ausência em outros. Mas todos nós somos suas vítimas. (p. 181)

75. Os quatro nichos ou frações de classe [...] às que denominamos como fração protofascista, fração liberal, fração expressivista [...], fração crítica. (p. 184)

74. O conceito de patrimonialismo é a noção explicativa mais importante - importante como um juízo de fato, não de valor - para a compreensão do Brasil moderno. (p. 201)

75. O conceito de patrimonialismo passa a ocupar o lugar que a noção de escravidão e das lutas de classe que se formam a partir dela deveria ocupar. A corrupção patrimonial substitui a análise das classes sociais e suas lutas por todos os recursos materiais e imateriais escassos. Faoro procura comprovar sua hipótese buscando raízes que se alongam até a formação do Estado português no remoto século XIV de nossa era. (p. 204)

76. Nas poucas vezes em que se verificou historicamente qualquer preocupação política com as demandas das classes populares, estas sempre partiram do Estado. (p. 205)

77. Desse equilíbrio de forças, temos a estruturação de uma comunidade dentro do Estado que fala em nome próprio: o estamento. Básico para o conceito de estamento é a noção de honra. Honra é o conceito central das sociedades pré-capitalistas tradicionais. Ela funda-se no prestígio diferencial e na desigualdade. Para Faoro: Os estamentos florescem, de modo natural, nas sociedades em que o mercado não domina toda a economia, a sociedade feudal ou patrimonial. Não obstante, na sociedade capitalista, os estamentos permanecem, residualmente, em virtude de certa distinção mundial, sobretudo nas nações não integralmente assimiladas ao processo de vanguarda... O estamento supõe distância social e se esforça pela conquista de vantagens materiais e espirituais exclusivas. As convenções, e não a ordem legal, determinam as sanções para a desqualificação estamental, bem como asseguram privilégios materiais e de maneiras. O fechamento da comunidade leva à apropriação de oportunidades econômicas, que desembocam, no ponto extremo, nos monopólios de atividades lucrativas e de cargos públicos. Com isso, as convenções, os estilos de vida incidem sobre o mercado, impedindo-o de expandir sua plena virtualidade de negar distinções pessoais. Regras jurídicas, não raro, enrijecem as convenções, restringindo a economia livre, em favor de quistos de consumo qualificado, exigido pelo modo de vida. De outro lado, a estabilidade econômica favorece a sociedade de estamentos, assim como as transformações bruscas, das técnicas ou das relações de interesse, os enfraquecem. Daí que representem eles um freio conservador, preocupados em assegurar a base de seu poder. Há estamos que se transformam em classes e classes que evolvem para o estamento - sem negar seu conteúdo diverso. Os estamentos governam, as classes negociam. (p. 208)

78. O Brasil não herda de Portugal sua estrutura social, mas sim da escravidão, que não existia em Portugal. (p. 210)

79. Não existe nenhum exemplo histórico de desenvolvimento de um mercado capitalista dinâmico sem que o Estado tenha sido o apoio e esteio principal. (p. 211)

80. O patrimonialismo é uma variação do tipo de dominação tradicional. (p. 211)

81. Entre 1930 e 1980, o Brasil foi um dos países de maior crescimento econômico no mundo, logrando construir um parque industrial significativo sem paralelo na América Latina. (p. 216)

82. Aqui valia tomar a terra dos outros à força para acumular capital, humilhação cotidiana. Isso é herança escravocrata, não portuguesa. (p. 219)

83. A história da sociedade brasileira contemporânea não pode ser compreendida sem que analisemos a função da mídia e da imprensa conservadora. (p. 226)

84. O início do império da Globo foi construído à sombra da Ditadura Militar. Começando a operar em rede no país como um todo, ela passa a servir como porta-voz dos interesses do governo militar. (p. 227)

85. A defesa de minorias, desde que não envolva repartição de riqueza e de poder social, é apoiada pela empresa, que pode posar de crítica e emancipadora. (p. 228)

86. A glorificação do oprimido não ajuda em nada na melhoria do cotidiano cruel e opressivo dos pobres, mas emula a necessidade de legitimação da vida que se leva quando as possibilidades de mudanças efetivas estão interditadas. (p. 229)

87. A imprensa atacou de modo virulento e ajudou no episódio do "suicidamento" de Getúlio Vargas, apoiou o golpe de 1964 e se tornou com prazer e desenvoltura a voz da Ditadura. Também perseguiu Leonel Brizola - como sempre, por dinheiro - e ajudou no desmonte dos Cieps e dos investimentos em educação popular no Rio de Janeiro. Envolveu-se em fraudes explícitas na apuração de eleições para beneficiar Moreira Franco contra Brizola. Apoiou Fernando Collor de Mello contra Lula, utilizando-se dos recursos mais baixos que um jornalismo de latrina pode usar, com a edição maldosa do debate entre os concorrentes para favorecer Collor. Apoiou a venda e privatizações do patrimônio público, enganando seus espectadores no governo FHC para facilitar o saque do patrimônio público. (p. 230)

88. Uma espécie de soberania judicial autoconstituída, levando o caso até a própria escuta ilegal da presidenta, o que em qualquer outro lugar onde as leis também se aplicam a juízes inflados por uma mídia venal teria que ter levado à sua prisão e destituição do cargo. (p. 231)

89. A grande mídia coloniza para fins de negócios, escusos ou não, toda a capacidade de reflexão de um povo, ao impossibilitar o próprio aprendizado democrático que exige opiniões alternativas e conflitantes. (p. 236)

90. Afinal, se existe uma coisa que não muda na América Latina é que os Estados Unidos estão por trás de todos os golpes de Estado. (p. 237)

91. Cinquenta e três por centro do orçamento é pago por pessoas que ganham até três salários mínimos, em um contexto no qual os ricos ou não pagam impostou o sonegam em paraísos fiscais. (p. 238)

92. A Globo, em associação com a grande mídia a maior parte do tempo, e a Lava Jato fizeram o contrário disso e a nós todos de perfeitos imbecis. A título de combater a corrupção dos tolos, turbinaram e legitimaram a corrupção real como nunca antes neste país das multidões de imbecilizados. (p. 239)

93. A Globo teria sonegado, segundo auditoria da Receita Federal, em intrincado esquema de ocultação em paraísos fiscais, 358 milhões de reais ao fisco. Outras grandes empresas de comunicação estariam na mesma situação, segundo outras auditorias. (p. 241)

94. "Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela própria." Joseph Pulitzer

95. Na esfera política, o juiz Sergio Moro condena, com visível inexistência de provas materiais, em sentença ridicularizada por especialistas internacionais, o ex-presidente Lula à cadeia. Líder isolado nas pesquisas, Lula tinha a preferência de cerca de 40% do eleitorado, o dobro do segundo colocado, Jair Bolsonaro. As eleições foram, por sua vez, dominadas por fake news e acusações de financiamento ilegal em favor do candidato que antes detinha apenas metade das intenções de votos de Lula. Terminado o pleito, Bolsonaro eleito, Sergio moro receberia como prêmio ao seu "trabalho" o cargo de superministro das atividades repressivas. (p. 250)

Citação: SOUZA, Jessé. A elite do Atraso.Rio de janeiro. Estação Brasil, 2019, p. (inserir)



Tayna 27/04/2020minha estante
Obrigada pela resenha incrível!


Ana 30/04/2020minha estante
Disponha! ?


@allanvmariano 22/07/2021minha estante
Cadê o botão de compartilhar quando se precisa dele! Excelente!




Pedro.Cabral 19/08/2021

Deixe a covardia na entrada, aqui só tem espaço para a minha
Esse maluco tem uma visão de mundo do [*****].
Ele simplesmente consegue olhar para toda a falcatrua midiática que todo mundo vê, mas não entende, e tirar o que realmente tá acontecendo ali.

A verdade é que se eu conseguisse enxergar a verdade como ele conseguiu nem fudendo que eu colocaria isso para o público. Só nos primeiros capítulos da pra ver o quanto de poder essa elite tem sobre TUDO, então, publicar algo assim é colocar os a cabeça em jogo.

E isso é algo que eu estou pensando desde que comecei a leituras desse tipo: aprendendo como realmente funciona essa merda eu tenho uma bifurcação na minha frente, de um lado eu posso ir pelo caminho mais fácil e aceitar estar merda do jeito que é e assim conviver o resto da minha vida como um covarde. A outra opção é procurar fazer alguma coisa sobre a situação do meu povo(da minha classe) e me tornar um ativista popular.

A escolha que eu fiz hoje foi a da covardia pois eu zelo pelos meus couros e acredito que irei conseguir viver com o sentimento de nem ter tentado.

Me dá até uma vontade de não conhecer nada disso só pra não ficar me culpando. Mas nessa situação eu claramente cairia em algum vício pra preencher o vazio como todo indivíduo da classe média.

Se não fosse um covarde eu claramente estaria fazendo todo mundo da classe trabalhadora a conhecer esse conteúdo nem que seja por memes e dizendo que esse livro é essencial para você meu caro leitor de resenhas. Mas esse não sou eu então tudo o que digo de recomendação é que esse livro é bom todo. '-'
Brujo 19/08/2021minha estante
Muito interessante a sua análise, me deu vontade de adquirir o livro também, pra saber qual é o grau da minha covardia... Hehe


Chihiro 19/08/2021minha estante
Eu não conheço e muito menos li o livro, mas pela resenha que escreveu eu só posso dizer: bem-vindo ao clube, ao clube das pessoas que pensam ter de mudar a situação da sociedade e fazê-la enxergar em uma perspetiva diferente, mas que tem medo demais de serem expostas ao público, perder com isso e, consequentemente, fazendo com que dizem dentro de uma concha.
Eu diria que estamos no mesmo clube junto com um monte de pessoas. :")


Pedro.Cabral 19/08/2021minha estante
Nem precisa ir muito longe nos primeiros capítulos o autor já apresenta a ideia central do livro




Ana 20/07/2020

Básico, mas importante
Quis ler Jesse para saber se seria uma boa indicação para conhecidos que não leem ou não estudam muito, mas que também não são protofascistas.
Há alguns argumentos problemáticos na obra, mas considerando ser um livro para o público leigo, faz críticas duras e verdadeiras. Bem escrito e de leitura fácil, mesmo quando apresenta argumentos mais acadêmicos.
Ainda que tenha detectado argumentos anticomunistas, já seria ótimo se todos soubessem qual a verdadeira corrupção brasileira e como a classe média é manobrada como um gado para atuar como capataz das elites. Acerta em cheio quando analisa a farsa da Lava-Jato e o papel da imprensa na destruição da economia e da democracia brasileira.
NathDuda 20/07/2020minha estante
Obrigada por tal descrição. Há tempos estava na procura de um livro que abordava isso e incrivelmente nunca tive essa indicação, nem mesmo em perfis voltado a isso. Enfim, só agradeço e já quero lê-lo o quanto antes.


NiaraH 20/07/2020minha estante
So pelo sua resenha ja deu uma puta vontade de ler. Muito bom livros que retratam a historia tao complicada da nossa politica brasileira.


Ana 22/07/2020minha estante
Que bom, meninas! ????




Laureen.Scarelli 07/08/2021

Que livro importante para entendermos alguns aspectos sociais brasileiros do passado e sobretudo de agora! Estou fritando a minha cabeça ainda... e a privatização dos Correios votada há 2 dias deu um exemplo claro para mim de como a classe média é realmente manipulada pela elite do atraso. E quem permanece para trás, mas na linha de frente da fome, da pobreza, do anafalbetismo funcional, cultural e político, somos nós! Ódio é o que sinto por carregar as consequências de ações pelas quais não posso ter culpa alguma atribuída. Raiva dessa elite do atraso, que só cresce e nos deixa sempre retardatários, fazendo-nos de trouxas.
Felipe.Camargo 07/08/2021minha estante
Leia a Classe Média no espelho, também é muito bom!


Laureen.Scarelli 08/08/2021minha estante
É do mesmo autor, né?!
Lerei!!!


Felipe.Camargo 08/08/2021minha estante
Sim, tem algumas entrevistas que ele fez, é assustador!




Vitória Marcone 16/01/2023

Ótima análise de nossa realidade.
Com o resgate histórico desde o início da formação de nosso país até a contemporaneidade, traz conceitos e reflexões extremamente importantes e com linguagem acessível. Gostei muito da leitura.
Everton Vidal 04/06/2023minha estante
Quero ler também!


Vitória Marcone 04/06/2023minha estante
Vale muito a leitura, vc vai gostar




M Ferreira 21/07/2022

Este livro não apenas abre os olhos do leitor para a realidade brasileira, como também revela as raízes da verdadeira corrupção. Com uma análise minuciosa, o autor desenvolve um panorama geral da história do Brasil e seus impactos na atualidade.

O livro é dividido em três partes principais. Na primeira parte, chamada "Escravidão é nosso berço", o autor apresenta o contexto histórico da escravidão do Brasil colonial, defendendo que a estrutura social do nosso país é fruto da escravidão e não de uma herança de Portugal.

Na segunda parte, o autor apresenta as classes sociais do Brasil Moderno, afirmando que essas são resultado de uma série de fatores sociais. Sendo assim, não podem ser classificadas apenas pelo ganho financeiro.

Na última parte, "A corrupção real e a corrupção dos tolos", o autor expõe a verdadeira corrupção que encontra-se não apenas na política, mas também no mercado. Além disso, apresenta as razões pelas quais a população brasileira consegue ser enganada e manipulada a não pensar e refletir sobre essas questões.

É uma leitura fundamental para conhecermos mais sobre a realidade brasileira atual. Recomendo!
Vitória Carvalho 21/07/2022minha estante
Eu vi a capa e jurei que era algum livro do bozo, divulgando as suas ideias ?


M Ferreira 22/07/2022minha estante
Deus me defenderai kkkkk




Jessi 06/07/2022

A corrupção real e a corrupção dos tolos
A corrupção dos tolos seria aquela que segundo Raimundo faoro, juntamente com a corroboração de seu ?mentor? histórico Sérgio Buarque de Holanda se encontra no patrimonialismo, em ambientes públicos, pois segundo estes somos filhos da corrupção fruto da colonização de Portugal, o que para jesse não é verdade, pois Portugal era um país muito pequeno para passar em sua gênese a corrupção para o país. Nossa gênese está nos 350 anos de escravidão de opressão a negros e índios que após a ?libertação dos escravos? foram fadados a subempregos, a moradores de favelas, enquanto uma pequena parcela da classe média brasileira se arroga de seus privilégios que os chamam de mérito, fazem uma ponte entre a verdadeira elite brasileira e a elite do atraso dos verdadeiros pobres e negros desse país, frente a verdadeira corrupção do capitalismo financeiro disso, prova disso se tem nos 520 bilhões de reais sonegados em impostos que grandes bancos e empresas devem ao país, enquanto a ?corrupção dos tolos?, a maioria pensa que está no governo que é fruto desse jeitinho brasileiro quando na verdade não passam todos de aviõezinhos dos verdadeiros corruptos do país
Maycom 07/07/2022minha estante
Resenha sensacional ?


Jessi 07/07/2022minha estante
Eu vou fazer uma vídeo resenha dele no meu canal do YouTube




nick 14/07/2022

uma leitura interessante que auxilia na construção do conhecimento político de qualquer um

eu, como uma adolescente de 15 anos, reconheço que não tenho muito embasamento para fazer uma leitura crítica dessa obra, mas posso afirmar com certeza que não é pra qualquer um.

as coisas que consegui filtrar dessa leitura, deveriam ser de conhecimento público. esse é um tipo de conteúdo que deveria ser democratizado, assim como o próprio autor pondera, mas parece um livro feito de intelectuais para intelectuais com termos que poderiam ser substituídos para facilitar a leitura, podendo assim, atingir um público maior.

por mais que tenha sido uma leitura densa e difícil para mim, achei muito interessante e com certeza aprendi muitas coisas que levarei para a vida, concordo com a visão do autor em diversos aspectos (mesmo que, como já disse antes, não tenha o conhecimento suficiente para concordar ou discordar de muitas coisas) e espero ler mais obras do mesmo no futuro.
Guimarães 11/08/2022minha estante
Boa resenha parabéns gostei muito!




Marcianeysa 26/02/2022

Classe média desnudada
O livro é muito bom, abriu meus olhos a observar toda história brasileira sob outro ângulo. O autor se utiliza de linguagem simples, por vezes agressivas, mas consegue passar brilhantemente suas conclusões. Todo brasileiro deveria ler.
Edson 26/02/2022minha estante
Boa!




Jorisdana 26/01/2023

?????+??
Eu estou tão sem palavras que nem consigo Fazer uma uma resenha. Mas tenho algo a dizer: LEIA ESSE LIVRO. Estou encantada! Que utilidade pública é esse livro.
Gii.assis 27/01/2023minha estante
kakakakakkaka ficou deslumbrada a menina




jrpsousa 18/07/2021

Ruim.
O autor cria monstros para lutar contra eles.
Jessé Souza, declaradamente petista, passa pano para os anos de corrupção do partido. Cria falsas simetrias o tempo todo. Distorce o conservadorismo...
Triste ver o nível de intelectuais que o Brasil forma.

Obs.: existem alguns momentos (raros) em que o autor diz algo útil. Mas logo se perde em suas visões de mundo ideologizadas.
Girl 01/09/2021minha estante
Tirasse as palavras dos meus dedos ?




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