Carol @solemgemeos15 26/07/2020
O questionamento sobre representações em “Olhares Negros”
Antes de tudo…
Traduzido ano passado (em 2019, para os que se perderam no tempo pós-pandemia) pela Stephanie Borges, com um prefácio de Rosane Borges, lançado pela Editora Elefante e escrito por bell hooks.
Eu sinto a necessidade de mencionar isso antes de qualquer coisa, mas esse livro em questão foi traduzido com quase 20 anos de diferença! Sendo originalmente publicado em 1992 e traduzido apenas em 2019, fico particularmente alegre que está acontecendo um interesse em tornar essas obras acessíveis a quem fala (apenas) português. Logo, parabéns a Editora por ter feito isso possível e a todos os envolvidos nesse projeto.
Dito isso…
Olhares Negros: Raça e Representação é um excelente livro para começar o estudo sobre representações culturais (ou seja, estou corroborando com o guia do Viniciux da Silva). hooks, enquanto crítica cultural, aborda sobre as representações de negritude, branquitude e, no último capítulo, sobre representações de indígenas.
Em meio a sua análise, ela procura traçar formas de romper com as formas hegemônicas de se apresentar e se pensar em pessoas negras e pessoas brancas [em sua maioria].
É interessante ela iniciar a obra apontando o amor a negritude enquanto política de resistência, pois:
Amar a negritude enquanto política de resistência transforma nossas formas de olhar e de ser, e, portanto; cria as condições necessárias para nos movermos contra as forças da dominação e morte e reivindicar a vida negra.
Logo após, ela explica como as mulheres negras são hipersexualizadas, inclusive analisando pessoas públicas que ainda estão frescas em nossa mente e filmes contemporâneos, tal como Whitney Houston, Naomi Campbell, Ela Quer Tudo [o filme que antecedeu a série]. Os exemplos que ela traz, como esses que citei, são pincelados a fim de ilustrar como a sexualização do corpo negro feminino ocorre na mídia.
E os homens negros?, você pode se perguntar. Bem, bell hooks não deixa o tema de masculinidade [feminista] de lado nesse livro. Em Reconstruindo a masculinidade negra, hooks analisa que homem negro costuma implicar em uma hipermasculinidade, falocentrismo exarcebado, sexualidade voraz e imagem do homem estuprador — e, pensando que essas representações decorrem de ideias patriarcais, hooks acredita que homens negros serão beneficiados perante o uso de análises feministas na reconstrução de sua masculinidade.
Inclusive, a mesma fala:
Mudar representações de homens negros deve ser uma tarefa coletiva. Os negros comprometidos com a renovada luta de libertação negra, a descolonização das mentes negras, têm plena consciência de que devemos nos opor à dominação masculina e trabalhar para erradicar o machismo.
Logo depois ela faz críticas mais específicas a fenômenos que marcaram a cultura — o filme Is Paris Burning? e a cantora Madonna. Ambos os capítulos falam sobre o olhar de uma pessoa branca perante a cultura negra. Com isso, ela certamente não fala sobre questões que apenas existem na internet tal como “pessoas brancas podem usar [insira aqui qualquer coisa que nasceu de grupos marginalizados]?”, como se isso fosse relevante ou a proibição possível rs. hooks fala sobre como esse olhar de pessoas brancas consegue usar de cultura negra, de modo que as beneficie e ainda perpetue noções machistas e racistas.
No penúltimo capítulo hooks se volta a representações de branquitude no imaginário de pessoas negras; para, enfim, finalizar o livro falando sobre os laços entre povos originários e pessoas negras — como muito da solidariedade existente foi apagada pela cultura de dominação.
Logo…
Olhares Negros: Raça e Representação é um livro formidável, certamente. Óbvio que o mesmo deve ser recomendado para compreender mais sobre representações, especialmente representações racistas.
E tendo ciência que mais e mais está em voga a discussão sobre questões raciais através do audiovisual e através da literatura é impossível não aceitar Olhares Negros como essencial enquanto bibliografia para fortalecer essa discussão.
site: https://medium.com/revista-subjetiva/o-questionamento-sobre-representa%C3%A7%C3%B5es-em-olhares-negros-b09c6589f712