jota 23/11/2015Singular Jerusalém...Ganhador em 2005 do prêmio José Saramago, Jerusalém é um livro um tanto estranho, povoado de criaturas singulares: Busbeck, Gomperz, Mylia, Hinnerk, Kaas... Também por coisas singulares - ou desagradáveis, depende - e elas ocorrem grande parte do tempo nesse livro. Felizmente os capítulos são curtos então é possível dar um tempo na leitura.
Talvez seja necessário relê-lo um dia, reencontrar seus personagens, compreender então que Jerusalém é mais do que uma história sobre o mal, o horror, o sofrimento ou a violência – ou todos eles juntos. Como disse Mia Couto, “o que o escritor nos dá não são livros. O que ele nos dá, por via da escrita, é um mundo.”
Jerusalém é o mundo esquizofrênico que Gonçalo M. Tavares nos oferece e que, de alguma forma, parece fazer parte daquele mesmo universo onde habitam obras de Kafka, Beckett, Walser, Brecht e outros autores que o escritor angolano reverencia. Daí que parece agradar bastante a críticos e estudiosos de literatura, igualmente aos leitores que buscam autores originais como Tavares é (e desse modo é impossível dissocia-lo de seu amigo espanhol Enrique Vila-Matas, por exemplo).
Às vezes confundo GMT, que é angolano, com outro escritor, o português Miguel Souza Tavares, quando eles são tão diferentes, só tendo mesmo o sobrenome em comum. Penso que enquanto o primeiro parece falar mais ao nosso cérebro, o segundo atinge mais facilmente nossa alma, sentimentos. Talvez por isso eu não tenha apreciado Jerusalém tanto assim, tanto quanto apreciei Equador, o mundo de MST.
Lido entre 15 e 23/11/2015.