Mateus 28/12/2022
O Idiota é uma obra um tanto quanto diferente de outras do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Nela, somos apresentados ao príncipe Michikin, um jovem de alma extremamente inocente, e um caráter que valoriza as noções de bem, caridade, perdão.
Michikin volta a Rússia após ter passado cinco anos em tratamento na Suiça. Sua volta é justificada por ele ter uma herança, deixada por um antigo cuidador.
Logo no primeiro dia de sua volta, Michikin conhece diversas figuras, uma mais problemática que a outra, como Rogójin, os Espatachim, o general Iveologuin, Gania, entre outros. Cada personagem possui uma peculiaridade, um traço psicológico e filosófico que guia a sua existência ( ou só faz parte do mero discurso, mas não se reflete em ação). Contudo, a personagem mais emblemática, ( e talvez a mais irritante da obra) é Natássia , uma mulher com toda uma história de vida traumática, extremamente bela, e que não se acha digna de nada bom, pois se agarrou de tal forma aos seus pecados, aos seus defeitos, as suas falhas de caráter, que não vê outra forma de vida viável para ela.
E é por está mulher que Michikin se apaixona, primeiro platônicamente , mas depois, conhece e percebe a loucura de sua " amada".
O título da obra se refere ao príncipe Michikin, pois por ser alguém inocente, e que busca, repito, busca, mas muitas vezes não consegue, fazer o certo, é considerado idiota por aquela sociedade corrupta, cínica, desprovida tanto dos ideias e das ações de amor.
O livro é uma grande discussão da situação da sociedade russa da época, má acaba sendo muita mais que isso, pois penetra de forma profunda na psique e na moral dos indivíduos. É um romance de ideias, onde a noção de que " vale a pena ser bom " é constantemente atacada, as vezes diretamente, outras veladamente.
Antes de iniciar está leitura, ouvi muito sobre o príncipe ser uma figura "perfeita" em uma sociedade maculada. Contudo, não é está impressão que tive após finalizar a leitura.
A conclusão a que cheguei foi a de que, realmente, Michikin é uma figura destoante de seu contexto. Dostoiévski não desculpa ninguém, nem os pobres, nem os ricos. Os niilistas são criticados, ( aliás, que figura insuportável a de Ippolitt), por acharem que estão livres de qualquer limite, qualquer moral os ricos são criticados, por estarem alheios as questões fundamentais da existência, os medíocres, os mentirosos, os vítimistas, os hipócritas, os falsos cristão... E no fundo, até mesmo Michikin. Ele é a personificação de alguém inocente, mas não puro, pelo que fez com Agláia. Alguém que é motivado pela moral, pela verdade, mas somente como filosofia, como conceitos abstratos, e não ações para serem praticadas. A intenção de Michikin é boa, porém, a motivação por trás de sua bondade talvez não seja algo nobre, e sim sua inatividade, o seu estado inercial.
E Dostoiévski demostra que está inatividade, esse senso meramente intelectual do bem, é extremamente danoso, tanto para o próprio Michikin, mas também para os outros. Isso é demostrado pelo final da obra, extremamente mais pessimista do que a de Crime e Castigo, outra obra de Dostoiévski.
É interessante perceber que, enquanto para Raskhonikov , personagem de Crime e Castigo, há redenção para sua situação como niilista, para Michikin, a "redenção" parece ser muito mais complicada.
O que podemos tirar desta obra é: " Sejamos puros, mas astutos". Astúcia demais pode levar ao cinismo, e a deturpação da pureza pode ser usada como mera prerrogativa para a inatividade e covardia.