O verão tardio

O verão tardio Luiz Ruffato




Resenhas - O verão tardio


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douglaseralldo 11/07/2020

10 CONSIDERAÇÕES SOBRE O VERÃO TARDIO, DE LUIZ RUFATTO OU SOBRE AS COISAS COMUNS E REINANTES DA EXISTÊNCIA
1 - O Verão tardio de Luiz Rufatto talvez seja o retrato mais fidedigno de uma nação comum. Quando penso em nação comum, penso numa nação que partilha de um mesmo real. Um realismo coletivo, menos mediado, quem sabe. E aqui provavelmente algo que de todo não saiba me expressar. As tintas são impressionistas, impressionista a repetições. Os cenários descritos aos mínimos e mundanos detalhes. O frasco de Cebion, a pasta de dente, os quadros e pôsteres às paredes que surgem. Os detalhes espartanos de um quarto miserável contrastando com a riqueza de detalhes em sua descrição...

2 - Já a temática e a natureza dos dramas que saltam, esses, esses me parecem algo difícil de explicar. O povo e sua vida comum ganha a centralidade do debate. Nisso o risco de pensarmos nele um romance populista, o termo é inexato e prejudicial. Todavia, sem ser ser populista no sentido político da coisa e suas perigosas acepções, o romance traz para o centro da narrativa o povo, o povo em todas as suas complexidades, incongruências, contradições e experiências. Acima de tudo, suas experiências;

3 - É, pois, um romance sobre o povo, mas não penso um romance partidário ou panfletário. Pelo contrário, o povo que aqui está, ilumina justamente as estruturas profundas de uma sociedade que no tempo do romance, pode ser que nos diga ou conte muito sobre a realidade absurda que nos cerca. Aliás, o termo Brasil Profundo vem sendo utilizado muito ultimamente. É possível que Rufatto seja quem melhor compreenda o significado disto;

site: http://www.listasliterarias.com/2020/07/10-consideracoes-sobre-o-verao-tardio.html
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Tiago 02/05/2020

Inverno da Alma
Se "Flores Artificiais" (2014) é o registro de uma diáspora da obra de Luiz Ruffato de Cataguases, este "O Verão Tardio" é o registro de um triunfal retorno a estas raízes. E o curioso é que o que aquele tem de disperso (um romance que na verdade é uma coletânea de contos ou, melhor dizendo, de crônicas de viagem forçadamente compilados numa frágil estrutura de romance), este tem de concentrado: um retorno inspirado do autor ao gênero, depois de uma década menos profusa que a anterior, marcada pelo estabelecimento da saga "Inferno Provisório".

O argumento parece banal na literalidade desta transcrição simbólica: Oséias, um representante comercial que fez sua vida na estrada (embora tivesse São Paulo como base geográfica e familiar), retorna ao interior mineiro após um casamento frustrado que lhe gerou um filho problemático, ao qual o pai manifesta pouco apego. Mortos seus próprios pais e a irmã suicida, ali na pequena cidade o protagonista encontra os laços familiares que lhe restam: a irmã nova rica, às voltas com suas inquietações de burguesa emergente (as dietas, o curso de línguas e as viagens para Nova Iorque); a irmã mais pobre, na luta diária pela sobrevivência (os dois netos que cria, o marido abusivo, os "bicos" de um filho malando e o parasitismo do outro); e o irmão rico, preocupado com a própria segurança e dos seus empreendimentos financeiros e matrimoniais (a chácara onde realiza churrascos semanais para seus trabalhadores, e as duas famílias que mantém: a sua e a de sua amante).

É louvável a maneira pela qual Ruffato constrói este verdadeiro painel dos estratos sociais brasileiros sem resvalar na cartilha sociológica de uma literatura que, privilegiando a crítica a este retrato, acaba por negligenciar as nuances psicológicas que permeiam os personagens retratados. Neste sentido, o personagem Oséias revela-se um olhar perfeito pousado sobre este panorama: cínico, em sua disfunção (ele não conseguiu se inserir em nenhuma destas posições), e igualmente empático em sua situação afetiva e emocional (são os seus irmãos ali: todos eles com famílias desestruturadas como a sua, e com uma parcela tão grande como a dele de responsabilidade no quinhão desta desestrutura).

A isso se sobrepõe a culpa que todos (em maior ou menor grau, reagindo de uma maneira ou de outra) compartilham pelo suicídio da irmã: o suicídio, manifesto supremo de inadequação e, não à toa, um tema que vai ganhando cada vez mais importância ao longo das páginas. Como aditivo tangencial, há ainda o desenho muito bem delineado de um cenário provinciano aqui, a partir dos ex-colegas de escola, envolvidos em pequenas corrupções municipais, ou da ex-namorada, que representa todo um passeio pelo bosque de uma outra ficção que subjaz a esta: aquela do que seria a vida de Oséias se ele tivesse permanecido, tomado a outra curva da estrada, o outro rumo do destino.

"O Verão Tardio" é um retorno pródigo, de um filho nada pródigo, à casa dos pais.

site: https://medium.com/@tiagogermano/inverno-da-alma-4898d2868af
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Nicoli 12/04/2020

"Em que momento as coisas começaram a desandar?"
Esse livro retratata como a incapacidade de confrontar o passado e refletir sobre quem nos tornamos enquanto pessoas e enquanto sociedade nos trouxe para o lugar que estamos hoje, governados por ignorantes egocentricos. É patético. Não podemos olhar para o outro sem antes olharmos para dentro de nós.
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Rudi 15/11/2020

A riqueza da memória no desespero
Primeiro livro que leio do Ruffato. A memória da infância e adolescência, o contato atual com familiares. Existencial
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Gabriela 21/02/2022

"O verão do título é o verão de um sol fraco, frio. Uma estação que chega atrasada quando já não é possível trazer calor ou consertar os erros."

Sobre não enfrentar o passado, ignorar, negar, esconder. E, portanto, sobre não saber sentir e muito menos comunicar.
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Euflauzino 10/07/2019

A volta do degredado

“E sempre no meu sempre a mesma ausência”.

Um livro que parte de um preâmbulo de Carlos Drummond de Andrade já merece mais que um olhar, suplica atenção, implora reflexão. E foi o que aconteceu comigo no primeiro contato com O verão tardio (Companhia das Letras, 232 páginas) do mineiro, nascido em Cataguases, Luiz Ruffato.

Talvez porque eu estivesse atravessando um momento de ausências, de perda de significados, de saudosas recordações, este livro tenha me tragado para dentro de seus parágrafos poéticos de períodos enormes (muitas vezes mais de 40 páginas) e me feito refém. A leitura fluiu perfeita, mas não sem sobressaltos, porque a vida é vivida aos solavancos.

“Caminho sem retorno, erros que levam a outros erros, e cinquenta e três anos pelo ralo. É isso a vida?”

O livro trata da volta de Oséias a sua cidade natal depois de seu degredo voluntário. Ele volta depois de vinte anos para resgatar o que não mais existe, talvez escrever seu epitáfio, quem sabe um acerto de contas. E assim como o título sugere, o personagem me parece intenso como o verão, mas inoportuno. O passado não se vivencia novamente e um verão fora de época não é verão, é apenas um arremedo dele.

"Quando mudei para São Paulo, nos primeiros tempos gostava de vaguear na rodoviária, fim de semana, buscando adivinhar a trajetória de cada um daqueles inúmeros rostos que desfilavam atônitos. (...) Agia assim para amenizar a solidão que nos sábados e domingos expulsava-me do modesto quarto de pensão no Pari – ou talvez para me saber real, eu, que com frequência, zanzando anônimo por entre a multidão, acreditava-me invisível."

Oséias, um lobo solitário, abandonado pela esposa e filho, vagueia pela cidade em busca de rostos e lugares de seu passado. São seis dias que se repetem insanamente como se fosse um mesmo dia, preso a um espaço-tempo próprio, fadado a repetir os mesmos movimentos, ele procura algo que possa lhe trazer paz de espírito. E o que ele encontra é bélico.

“Desculpa incomodar, mas você não é o Alcides? Eu acho que lembro de você da época do.” Ele se volta, colérico, os olhos injetados, apoia-se no balcão, espantando os mosquitos, e grita, interrompendo-me: “Que papo é esse, cara?! Não vem com conversinha fiada, não! Você me conhece? Foda-se! Eu não te conheço! E nem quero conhecer, entendeu? Toma seu café quietinho aí e dá o fora!”. Seu hálito azedo embaça meu rosto.

O choque inicial do encontro no primeiro boteco concede o tom o qual estará sujeito Oséias durante sua estadia na cidade que ele agora desconhece. É o princípio de seu acerto de contas com a família e alguns conhecidos que ainda residem por lá. Seus irmãos são a mais pura representação das classes sociais: Rosana, fútil classe média, casada convenientemente com um rico agiota; Isabela, castigada pela pobreza, presa a filhos, netos e um marido beberrão; João Lúcio, rico e próspero empresário que construiu seu império através de seu trabalho.

Oséias parte ao encontro de cada um de seus irmãos, carregando consigo apenas sua mochila e a memória do suicídio de sua irmã Lígia, peso enorme sobre os ombros já arqueados."

site: Leia mais em: http://www.lerparadivertir.com/2019/07/o-verao-tardio-luiz-ruffato.html
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Cristine 08/09/2019

TODOS OS VERÕES
Um escritor tem suas obsessões. Temas, territórios que retornam — e sempre se reinventam.
Quando há alguns meses vi uma entrevista com o Luiz Ruffato e perguntaram sobre o seu novo livro que em breve seria lançado, ele disse que “era aquela mesma história”: um sujeito que volta para Cataguases e revê o que restou da família, descobre as mudanças nas pessoas, alguém que enriqueceu, o outro que nunca se deu bem na vida.
Mas é claro que eu sabia que o trampolim apenas anunciava um salto imprevisível. Agora, tendo lido ‘O verão tardio’, ainda sinto que preciso firmar meus pés de volta na rotina. Pareço continuar neste impulso ficcional, que pode ser tão doloroso quanto certas realidades, mas de algum modo se torna até mais incisivo. Não há nada mais difícil do que contar uma história aparentemente simples. Rechear um enredo com ações mirabolantes ou usar o recurso do fantástico somente para arrancar assombro é coisa que só convence os ingênuos, as mentes imaturas que se distraem com pirotecnias.
Leitores experientes exigem outra coisa — e estratégias sutis, como o trançar de vozes narrativas, a mudança no ritmo das palavras para distinguir um discurso, o fluxo dos parágrafos e a cadência da frase criando os efeitos de tempo largo (com a dramaticidade suspensa), isso é para os raros, como Luiz Ruffato.

Neste romance, as tragédias domésticas pontuam a solidão de todos os personagens. Stella, a mãe do protagonista, Marilda, a primeira namorada, o professor Mendonça e tantos outros figurantes, que atravessam as páginas como transeuntes nesta história, têm sua pincelada de amargura. Muitos são fugazes aparições no feitio dos desconhecidos que passam por nós na rua, num dia pouco especial — mas qualquer um deles carrega a potência de um drama, um segredo ou desejo a ponto de explodir, um passado (quase sempre, o passado!) que é uma bomba tiquetaqueando na memória. Pode-se dizer, como num dos trechos do livro, que o grande esforço de Oséias é para se saber real, “eu, que com frequência, zanzando anônimo por entre a multidão, acreditava-me invisível. Ali, naquela espécie de purgatório, reconhecia criaturas semelhantes a mim, assombradas, mas decididas, inseguras mas rijas, e isso confirmava, de algum modo, que, embora pouco mais que nada, eu existia”. Essa existência miúda é alfinetada por desgraças: a penúria, a infidelidade de tantos casais sustentados por mera aparência, o sem-sentido dessa vivência equiparada de cães e crianças avulsos pelo mundo.

Há muitos cheiros pelo livro, muitos recintos infectos, banheiros, cozinhas, ruas, rios — uma poluição que se instala na alma também das pessoas, todas condenadas a repetir destinos miseráveis. Mesmo os mais ricos — alheados da gente pobre ou marginal — vivem nessa borda do medo (da velhice, da morte, da tristeza). Cada um continua “ensimesmado em seus próprios desacertos”.
Nesse roteiro de êxodo e retorno, o protagonista Oséias persegue “nomes que latejam rostos, como anúncios luminosos de motéis ordinários na beira da estrada”. É uma espécie de ritual que ele se auto impõe: precisa recuperar os fragmentos, a história familiar nestes mosaicos de memória. “Sou um fantasma assustado esbarrando em corpos que se movem alvoroçados pelos territórios do passado” — ele admite, no princípio do livro. Mas a importância periférica destas pessoas vai se embotando à medida que a dor repisa os temas, revolve as lembranças. “Seu hálito azedo embaça meu rosto”, ele comenta, a respeito de uma dessas figuras antigas — e, numa progressão de declínio, o seu rosto vai evitando os espelhos, tornando-se cada vez menos reconhecível. “Meu deus, vou morrer e nunca mais... Vão enterrar não meu corpo, o que é um corpo? mas tudo que fui, todas as lembranças, todas as pessoas que habitam em mim e que posso reviver apenas fechando os olhos.” A ânsia por um tipo de eternidade realiza-se não por mera propagação genética (há tantos filhos abandonados, brigados ou desaparecidos, neste livro!), mas por uma responsabilidade associada ao pensamento. Se deixamos de pensar, morremos — e matamos os que levamos dentro de nós.

Aos poucos, Oséias confessa: “Me tornei rocha, me tornei aço, não sinto mais nada”. Essa força — ou embotamento — sustenta a narrativa em primeira pessoa, com uma objetividade que é o contraponto essencial para uma carga dramática tão potente. Mas, dentro de uma complexidade que só as histórias aparentemente simples podem conter, essa sua fortaleza é paradoxalmente libertação e ruína. Ou talvez seja, de modo sintético, desprendimento. Porque não nos resta alternativa, ao final: vamos nos desprender do que quer que seja. E a desistência pode ser feita de modo discreto, quase irrelevante (como tantas vidas que surgem e desaparecem), mas ainda assim ser um tributo aos dignos.
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@litera2023 28/04/2021

Leitura difícil
Esse livro não é fácil de ler, porque tem vários assuntos que são importantes e despertam gatilhos. Mas de uma forma geral ei gostei, achei muito importante a forma que o autor abordou as diferenças entre as classes sociais. Recomendo a leitura!
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renanlp 21/05/2021

O ato de rememorar
Com "O Verão Tardio", este que foi o meu primeiro contato com o autor, posso dizer que mal posso esperar para ler mais de suas obras. Os caminhos trilhados por Oséias são profundos. O cotidiano detalhado nos mínimos detalhes faz toda a diferença para a ambientação do momento descrito. A repetição das ações nos transfere a angústia vivenciada por Oséias em sua busca por um sentido. Sentido este, literal. De sentir na pele e na alma.
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Gustavogl 26/10/2023

Muitas semelhanças na história da gente que sai do interior de Minas pra "ganhar" a vida em São Paulo.
A sensação de que estamos em dívida com os parentes acompanhada do desânimo de voltar a uma cidade que não tem mais nada a ver com a gente. Que carrega traumas, tristezas e memórias amorosas.
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